terça-feira, 27 de abril de 2010

ONDE MORAM OS ANJOS


Uma aragem vinda do sul
Percorre o labirinto do erguido verde
Uma melodia trina nas folhas
Um pássaro ensaio o voo primeiro a medo

O mar continua enraivecido
Neptuno decidiu perpetuar a dança das ondas
E mesmo com o vento adormecido
A tempestade varre este cais de mágoas

Hoje o Sol abandonou a vontade da luz
As nuvens são a capa de um gigante
Os pássaros esconderam o canto
Uma deusa de barro chora o amante

Hoje deu-me para voar
Cavalgar as palavras sem destino
Quisera abraçar a liberdade das asas
Voltar a olhar o mundo pelo ver de menino

É tão pequeno este Mundo
Gostaria de inventar um novo azul
Às vezes as estrelas soltam-se do celeste
Voam rasante as casas do sul

Às vezes sonho com infinitos
Onde a música veste cada criatura
Às vezes fico a pensar baixinho
Às vezes fecho os olhos à formosura...

...Mas abro a alma para acolher
O errante perfume da palavra sincera
Que nasce de um olhar de amor
No derradeiro instante de uma espera

Não me lembro da última espera
Perdi o vapor de uma madrugada passada
Perdi-me no Mundo dos desencontros
Fui dar a uma praça cheia de nada

Sentei-me bem no meio, na terra batida
Soltei pesares guardados em mil anos
Desenhei no barro os meus anseios
Afastei de vez os meus frios desenganos

Olhei para alto e indaguei em voz alta
Lancei à Lua uma mão de beijos
E ocorreu-me perguntar-lhe uma tolice
Será que sabes...Onde Moram Os Anjos...?

sexta-feira, 16 de abril de 2010

O APANHADOR DE ESTRELAS


Este vento que me toca bravio
Esta chuva miúda ensopa e acalma
Esta cor cinza no celeste
Esmorece a minha pobre alma

Pobre poeta!
A palavra ficou vazia de cor
A rima foi levada numa rajada
Ficou em teu peito, apenas uma fria dor

Dorido coração!
Percorrendo uma rua vazia
Nesta cidade inventada por mim
A noite aprisionou o dia

Eram azuis os dias que inventei
A casa dos meus sonhos feita de chocolate
A criançada nunca esgotava a gargalhada
Um cão de meigo olhar não fala, mas late

Uma gaiola dourada
Uma papagaio papagueando sem parar
O amor tatuado em cada canto
Para teres a certeza, no teu chegar

Mas a calmaria acontece
Estende o tapete à magia que virá
Olhos brilhantes, ávidos da ternura
Uma cartola, um coelho azul a procura achará

Estrelas!
Quantas contará o meu olhar
Tenho uma feita de cartolina branca
Que me esqueci de te enviar

Escrevi numa das pontas paixão
Na outra a palavra quero-te tanto
A terceira “É mesmo verdade”
As outras duas deixei-as em branco...

...Para que derramasses nelas o teu querer
Na volta, recebi algo como um novelo
A estrela tinha presa a ela
Uma madeixa dourada do teu cabelo

Tudo isso inventei numa mirada
No espelho de água de uma poça de mar límpida como as janelas
Era na altura uma criança que tinha um sonho
Ser...Um Apanhador de Estrelas...

sábado, 3 de abril de 2010

ENTRE O CÉU E ESTA ILHA


Algures entre este verde de desesperança
E este cinza celeste que me envolve a alma
Há um lugar onde moram os sonhos
No espelho de água de uma lagoa calma

Algures sei que te vou encontrar no desencontro
Numa rua ladrilhada de contradições
Com pedras de basalto duro e frio
Onde habita o desalento de dois corações

Uma viola de dois corações
Tem doze cordas que guardam as notas
Ansiando pelos dedos do tocador
Na espera de serem soltas

Mas hoje apenas se ouvem ave-marias
Saídas da boca quem tem a fé mais pura
Um bordão no amparo do corpo
Uma viagem que no coração perdura

Cantei à Virgem Nossa Senhora
A Jesus Cristo o Omnipotente
Deixei marcas tatuadas em cada passo
Deixei de mim a dor presente

Deixei que me vissem a humildade
Abandonei a vaidade tonta
Expurguei os pecados que pequei
E deixei a alma limpa e pronta

Para partir!?
Partimos sempre para algum lugar
Chegamos sempre a uma chegada
Um morrer será apenas um parar?

Às vezes paro para olhar em frente
Às vezes paro no teu olhar
Às vezes chego a nenhuma razão
Porque o meu querer quer aqui estar

Barco à deriva esta minha alma
Sem velas, sem o amparo do rumo
Procuro um Sol que me ilumine e aqueça
E encontro o astro sorrindo a prumo

Procuro a razão deste sentir na alegria e dor
Pinto a vida com uma coroa de maravilha
Porque no adormeço deixo sempre a esperança
Que habita...Entre o Céu e Esta Ilha...