quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

A NOITE MAIS LONGA


Não há fogo que aqueça
Esta alma tão cheia de contradição
Não há tormenta que conheça
Não há para um louco a palavra não

O vento enlouqueceu por estes dias
Ah este negro manto que cobre a ilha
Este nevoeiro cegou o meu querer
Esta vida que teima em ser, vida perdida

A dor assaltou-me o corpo
Percorreu uma triste viagem
Passou pelo meu coração, molhou-me os olhos
Fechei-os por um momento, senti uma doce aragem

Lembrei-me de tanta coisa
Esta lembrança tão perdida na minha cabeça
Vi tanta gente com ar sofrido de dor
Vi gente que desconheço, que talvez conheça

Há sempre tanta palavra perdida num triste olhar
Há sempre dentro de nós um pouco de Jesus
Há sempre um Anjo que vela por cada um
Há sempre na espera uma sublime luz

E eu que nada sou...
Alguém que apenas em si confia
Nasci pobre tal como Jesus

Até se chamavam, meus Pais, José e Maria

Mas que poema triste dirão
Porque está dorido o poeta!
Talvez por sentir demasiado a dor
Ou ser um simples pateta

Talvez porque as luzes não brilham
Como estes luzeiros plantados no céu
Talvez porque este denso nevoeiro
Deixou em minha alma um frio véu

Percorro passo a passo este caminho
A ilha acordou com com um presente de bruma
O Mar deixou em toda a sua costa
Um colar feito de espuma

E a noite chegará outra vez
Esta é a minha viagem transformada em saga
Sento-me, fecho os olhos e vejo
Uma intensa luz...Nesta Noite mais Longa...

sábado, 11 de dezembro de 2010

MELODIA INCOMPLETA


Ó viola toca bem
Faz vibrar as tuas cordas em dor
Ó viola de dois corações
Não partas o do tocador

Julguei ouvir no tamborilar da chuva
Uma musica esquecida
Julguei que aos meus ouvidos
Tinha chegado uma sonata sofrida

Quem me dera ter um tambor
Para arrebentar com isto tudo
Apenas me deram um tamborim
Que teima em ficar mudo

Mas mesmo que quisesse tocar em sorte
Mesmo que em tocador me fizesse
Seria mais um triste desafinado
Por muito que tentasse, que quisesse

Mas porque raio vejo em tudo
A musica sempre presente
Porque umas vezes me faz triste

Outras me deixa contente?

E fui cantador de prosas sem rima
E fui tenor de palavras sem sentido
Cantei invenções e perdidos sonhos
E nisto não fui um cantador contido

Cantei-te a vida que vivi
As coisas que me fazem sofrer
Neste palco ninguém morre
No aplauso julguei esquecer...

...Quem sou
Nunca me encontrei na letra de uma canção
Nunca toquei duas notas seguidas em harmonia
Mas perdi-me às vezes na ilusão

Reencontrei-me com o amor
Amargura mora sempre com a razão
Um mágico nem sempre acerta
No seu golpe de mão

Mas fiz mil tentativas nesta viola
Nenhuma nota bateu-me certa
Sou um triste e patético tocador
Desta...Melodia Incompleta...

domingo, 5 de dezembro de 2010

ALIANÇA


Procurei hoje um secreto sitio
Que mora à muito na minha imaginação
Onde nasce cada arco-íris?
Talvez do fundo de cada coração

Percorri o caminho das águas
Caminhei em percursos cheios de escolhos
Às vezes o azul pinta este imenso céu
Às vezes dá lugar ao cinza de nuvens aos molhos

Às vezes da terra é retirado o verde
Lança as tuas redes ó pescador
Afaga a madeira ó carpinteiro
Molda o teu barro oleiro em gesto de amor

Dançam as folhas ao sabor da fresca brisa
A manhã acordou no adormecer da tempestade
O dia não pára na sua vertiginosa viagem
Inventei uma casa singela numa perdida cidade

Inventei castelos sem ameias
Barcos voando a prumo
Crianças de risos constante
Gente com a certeza do seu rumo

Inventei-te, inventei-me...
Como Columbina e Arlequim
Dancei numa praia vazia
E pedi que o acaso viesse a mim

A sorte é regada de mil esperanças
O horizonte fica sempre distante
Uma semente é pronuncio de vida
A viagem acaba um passo adiante

Nunca acaba esta torrente de emoções
Nunca dorme este meu imenso sentir
Nunca encontrei este sonho pleno
Nunca sei se a chegada é o principio do partir

Parto em cada acabar de uma pintura
Parto na ausência da formosura
Parto sempre que o querer não me quer
Parto às vezes pela mão de uma palavra mais dura

Mas na viagem paro um instante e olho o céu
Vejo um arco-íris que me envolve em esperança
Fecho os olhos imagino-te Deusa dos Deuses
E faço aos lagos uma eterna...Aliança...