sábado, 26 de novembro de 2011

PIANO


Apetece-me escrever uma carta ao Mar
De repente senti que Deus se distraia
De repente a terra parou de rodar
De repente o Mundo parou no meio-dia

Nesta ilha caminhei num chão movediço
Fui embalado pelo grito constante de um sismo
Nesta terra viajada descansei o sonhar
Fiz tréguas à ternura, aprisionei o amar

Habituei-me às orações
Aos santos aprisionados ao altar
As velas que ardem ao fim do dia
São milagre e pecado, o encontro do me encontrar

Um dia alguém disse ser eu um milagre
Um dia descobri que via para lá dos olhos
Um dia toquei um fruto podre caído
Nasceram de imediato mil flores aos molhos

Fiz nascer lembranças envoltas em bonanças
Cortei os espinhos a uma roseira infeliz
Reguei com sal um canteiro de tontas mágoas
Gritei alto um chamamento que a alma quis

Limpei as rezas atiradas ao chão de uma Igreja
Vi uma bordadeira fazer nascer uma pomba branca
Vi uma alma perder-se na noite escura
Li um poema já lido de Florbela Espanca

Li na água os caminhos para um lago enfeitiçado
Merendei miolos de pão amassado em agonia
Segui ao alto o salto de uma criptoméria
Larguei a espada e o pincel ao fim do dia

Continuei pintando memórias de cor
Rasguei tudo o tinha emoção e dor
Adormeci já tarde no tempo
Sonhei que tinha sido abolido o amor

Voei neste sonhar num mar de pranto
Em espanto tracei uma batalha, um plano
Montei um cavalo feito de vento
Acordei entre duas notas de um…Piano…

domingo, 20 de novembro de 2011

AMOR LUXÚRIA E FINGIMENTO


Um pano de alva cor
Que a bordadeira pontilha a crivo
Linho que um tear uniu fio a fio
Em desenho de um azul vivo

O cantarolar da chuva
Marca o ritmo do pensamento
Um vento que varre os presentes de Outono
Um Sol que aquece o Inverno por um momento

Um vaidoso que se despoja da roupa
Fauno que se mira e gosta
-Vejam suas putas o que perdem!?
Sou inteiro, isto é só uma amostra

Um relâmpago ribomba no ar
Solenemente solta seu raio
Uma flor breve abana, entristece
Um homem é boneco de palha no mês de Maio

Uma cama amarrotada pela passagem do amor
Lençóis que aprisionam o calor
Suspiros espalhados pelo chão
Uma imagem santificada sustenta o louvor

Uma pecadora ungida pela chuva
A sorte e a morte em bravata eterna
As ave marias que uma boca vomita
Para no céu ser, clemente a sua pena

Já não há xailes negros na ilha
Já ninguém liga a agoiros
O mar continua açoitar a costa
Deixando despojos, tesouros

Encontrei um búzio e senti o ouvir
Tudo é deixado no reino do esquecimento
O sentimento é sal, sangue do mar
Hás vezes…Amor, Luxúria e Fingimento…

domingo, 13 de novembro de 2011

O VOO DE UM OLHAR


Os olhos que choram
Não sabem mentir
As mãos que me tocam
Levam à alma o sentir


O abraço sincero
Aplaina meu corpo frio
Veste-me de sol ardente
Solta meu sonho em azul rio

Os sonhos perdidos
As juras e promessas que fazia
Guardei-as num cofre
Lancei à maresia

O vento adormeceu
Ávida terra de assombro
Trigo de ouro, pão
Olhar de fome em amor sobre o ombro

Os tempos plantados
Na parte de trás do horizonte
Uma bailarina feita de nevoeiro
Rodopia no alto de um monte

Um olhar…
O chegar, o partir sem ir
O ficar, uma ilusão perdida no mar
Um homem no chão, o cair…

…O cair
A luta da luz com a escuridão
Passou-me tanta vida num minuto
Perdi-me de mim, ou da salvação?

O não querer, a descrença
Como se os pensamentos fossem acções
Como se um olhar fosse o mensageiro do amar
Como se não indo adivinho o chegar

Como se o ódio fosse nevoeiro desvanecido
Como se as palavras mordessem o falar
Como se milhafre fosse sentinela no azul
Arrancando de mim…O Voo de Um Olhar…


Para uma pessoa muito muito especial

O VOO DE UM OLHAR


Os olhos que choram
Não sabem mentir
As mãos que me tocam
Levam à alma o sentir

O abraço sincero
Aplaina meu corpo frio
Veste-me de sol ardente
Solta meu sonho em azul rio

Os sonhos perdidos
As juras e promessas que fazia
Guardei-as num cofre
Lancei à maresia

O vento adormeceu
Ávida terra de assombro
Trigo de ouro, pão
Olhar de fome em amor sobre o ombro

Os tempos plantados
Na parte de trás do horizonte
Uma bailarina feita de nevoeiro
Rodopia no alto de um monte

Um olhar…
O chegar, o partir sem ir
O ficar, uma ilusão perdida no mar
Um homem no chão, o cair…

…O cair
A luta da luz com a escuridão
Passou-me tanta vida num minuto
Perdi-me de mim, ou da salvação?

O não querer, a descrença
Como se os pensamentos fossem acções
Como se um olhar fosse o mensageiro do amar
Como se não indo adivinho o chegar

Como se o ódio fosse nevoeiro desvanecido
Como se as palavras mordessem o falar
Como se milhafre fosse sentinela no azul
Arrancando de mim…O Voo de Um Olhar…

Para uma pessoa muito muito importante na minha vida