sexta-feira, 26 de outubro de 2012

O PALÁCIO DA VENTURA

Sonhei que sou um cavaleiro andante
Por passos e pancadas estremecendo
Por sois e mares de ausente cor
Sonhei que carregava do mundo toda a dor

Sonhei com multidões e risos
Com folhas secas espalhadas na boca
Com um arpão vestido de morte
Sonhei com quatro folhas de um trevo sem sorte

Sou um pobre sonhador…
Atormentada mente no esquecimento do mar brincando
Desnudando palavra a palavra
Da narrativa de um amor perdido

Sou apenas um pássaro de silêncio
Gente, pessoas, gritos, contradições
Cólera, mentiras e falsas verdades
Esta raiva, este peito envolto em negras orações

Não acredito em ninguém!
Perdi sentimentos, sinto tão pouco
Porque será que todos acham que não valho nada
Que sou apenas um pobre louco

Pois, que angústia esquelética
Insano é este tempo que me fala da traição
Violentas são as palavras de um poeta caído
Desbotadas estão as cores da paixão

As ruas estão escuras da luz
As pedras choram aos pés deste caminhante
São de revolta as pétalas de uma rosa breve
São de pano-cru as vestes desta alma de nigromante

Mais uma vez divaguei pelas palavras que encontrei
A loucura afugentou o que restava da ternura
Coroei-me de rei-bobo em pose de tolo
E adormeci no…Palácio da Ventura…

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

CREPUSCULO

Não voam anjos pelos cantos da tua casa
Não preciso inventar mais a terra
Sopram ventos de melancolia
Transparente é o cinza que a tua alma encerra

A minha pobreza é a falta de um par de asas
Encontrei um lugar de reinvenção das sombras
Pensei virar as costas ao tempo e ao deslumbramento
E aí houve estranhamente o amanhecer das minhas palavras

Procurei na memória corredores esquecidos
O esquecido segredo das penumbras
Mas há palavras que me aprisionam à realidade
Este arrochar de alma, estas frias brumas

O orvalho das manhãs é poesia de água
Soltei um grito preso na força da minha voz muda
Deixai-me criar epitáfios em barcos naufragados
Deixai-me ser o personagem sem rosto de uma perdida lenda

Por maldições meu corpo é árvore solitária
Ventos fortes, mares estranhos, perdidas águas
Quero esculpir o ruído do silêncio
E fazer um rosto de cravadas mágoas

No canto da rua sou vagabundo bebendo a vida
Uma hortência que se inclina sobre a terra nua
Uma oração nos olhos parados de um homem sentado
Uma casa de branca cal de uma ausente rua

Há quem beba a vida de um só trago
Este absinto tem a sabor do fel
Não há sol que aqueça o terror da solidão
Não há no sal da maresia a quentura do mel

Este é o poema que a mim mesmo não prometi
Escrevi-o no primor do escrito maiúsculo
No Palácio carbonizado do poema
Gravei o último raio de um perdido...Crepúsculo...

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

EU PESSOA ME CONFESSO

Se o mar adormecer em desvario
As ondas não mais se formarem
Se as gaivotas se perderem do ninho
As árvores mais altas tombarem

Se o dia não encontrar a manhã
As nuvens deixarem de chorar água pura
Se as pedras da ilha roubarem a cor ao verde
As tuas palavras deixarem de ser raiva dura

Tantos “ses”
Tanta loucura encoberta em preconceito
Tanta lama vertem certas bocas
Tanta pequenês vestida de despeito

Isto hoje nada bate certo
Este poeta sem rima não passa de uma cabeça esperta
A poesia sem nostalgia é apenas palavra seca
Um número vezes dois às nem sempre é conta certa

Pois é, a metáfora pregou-me uma partida
Decidiu dar uma volta por achar que esta poesia era torta
Jamais terei vontade de me encontrar com a ternura
Na puta da vida nunca encontrei gente pura

Encontrei negromantes, máscaras e outras tontices
Gente ornamentada de tolices e outras mafarriquices
Gente contente por ter a alma cheia de vento
E um gajo enganado no rumo certo

Encontrei-me com aquilo que julguei ser o amor
Desencontrei-me na voragem da maldade
Juro que nunca marquei encontros com a estupidez
Juro pelas alminhas que perdi o rumo da saudade

Sem rumo mas com altivez e aprumo
Com uma caixinha minha e não de pandora
Onde guardo um pacto divino
Onde permanece apenas um sentimento que nunca foi embora

Que raio de lenga-lenga urdi para aqui
Ás vezes o que sou esqueço
Hoje deu-me para esta disparateira
Eu Pessoa me Confesso