terça-feira, 28 de maio de 2013

AS CORES DA FÉ


Construí uma história sem guião
Sou herói de uma comédia triste
Cavaleiro andante, moinhos de vento
Escudo e espada de lata em riste

Não!
Sou apenas mais uma alma da ilha
Um caminheiro do dia da procissão
Uma fonte, uma lágrima, a emoção

Serei amanhã, porque hoje…
Sigo os passos que me levam ao céu
Sou, sinto tão enorme esta força em meu peito
Sou tão insignificantemente grande, nuvem, véu

A palavra já gasta
A raiva morta no vale do esquecimento
A derradeira atitude ensaiada mil vezes
Uma réstia de sol, a ternura a colorir o momento

O pensamento!
Maldito sejas morador desta tonta cabeça
Cultivador de mágoas que me consomem
Fato de vento e fogo que espartilha este homem

O rasgo da subida de foguete
Um estrondo para acordar os anjos
Reis e rainhas por um dia
A ilha está em festa, adormeceu a nostalgia

Viva o “Espirito Santo”!
Uma pomba branca que não quis voar
Uma rabeca a gemer notas difusas
Um cantador eterno orgulhoso do cantar

Um Igreja coroada pelo amor
Uma criança no papel de homem grande
Um padre levando tudo à letra
Um altar dourado, uma Mesa de cor preta

Chuva e sol
Tapetes de flores afagando o pé
E a minha alma prenha de uma esquecida alegria
Inundada com…As cores da fé…

quarta-feira, 15 de maio de 2013

INSONDÁVEL


E as barreiras ruíram
Tenho no peito uma ilha escondida
E o amor de tão falso morreu à nascença
Tenho na alma uma fé incontida

A lonjura entre o coração e a maldição
Esta sensação de ser e não ser, um ser de papel pardo
Perdi-me na distância do crer e não crer
Senti-me sempre mais odiado que amado

Fui negro e branco, pena, penas, orvalho fresco
Fui Setembro, Sol, planta de sorriso azul
Fui caminhante, caminheiro da solidão
Fui ave de arribação para sul

O primeiro nome de uma mulher devia ser verdade
O primeiro amor de um homem não devia acabar mais
A primeira manhã de uma vida devia ser eterna
A minha primeira oração foi real e plena

Derramei sangue entre palavras
Magoei quem devia ser adorado
Rasguei grosseiramente um compromisso
Sou máscara de escárnio de um mal-amado

Sei lá quem sou!
Um forasteiro sem rumo ou poiso
Enquanto a memória escurece nos meus olhos
Perdi a melodia de uma voz, já não falo, não oiço

No êxodo deste instante renego a lembrança
Entre mim e as pessoas há um clamor de raiva e bondade
Até as estátuas sorriam zombeteiras
Deste louco sem destino ou idade

Neste inexplicável deserto de incertezas
Às vezes passo e colho um sorriso amável
Às vezes esta minha cabeça tonta
É universo sem estrelas…Insondável…

domingo, 5 de maio de 2013

O CAIS DO SILÊNCIO


São de água meus pensamentos
Nas folhas das hortências por abrir oiço a ilha
São de incenso o odor da lembrança dos meus sonhos
Ardência das minhas palavras, ausente maravilha

Nunca regressei a uma saudade
Trago o amor amordaçado em gaiola aberta
Cego e solitário, sou peregrino descalço
Ausentou-se o nevoeiro, desfez-se o abraço

Fui aclamado, segui só sem andor
Não há tapete de flores para os caídos
Não há clemência para os esquecidos
Não há coroa de louro para os vencidos

Hoje sorri feliz co as primeiras amoras
Pedi aos santos uma ajuda que nem sei
Um cheiro de solidão cresce entre o negro basalto
Rezei baixinho de olhos fechados para o alto

Que ilha descubro em ti
Arquipélago de baleias e furiosos ventos
Murmurantes lágrimas caem em linho puro
Rasguei velas de moinhos, neste Maio maduro

Senti o corpo ceder à dor
Que importa o que sinto quando dizem minto
Que importa o que todos sentem
Se por todos o meu sentir sente que já não sinto

Se falassem as minhas mãos
Diriam que não são minhas, que são afago de um deus
Se mostrasse a minha alma ao vento
Ele diria que ela já nada sente

Estava eu aqui calado a ouvir o murmúrio dos dias
Nestes dias apetece-me correr pela terra
Tocar as nuvens, vencer um mar bravio
E sentar-me nas pedras deste…Cais de Silêncio…