sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

TEMPLO INVISÍVEL


Rezei na aflição e necessidade
É ilimitado o poder de amar
O amor é indivisível e imóvel
Que estação do teu coração devo achar?

O pensamento é ave no espaço
Ás vezes o engano de que não pode ver
Não falarei porque estou em paz
Creio em mim, este ser sabe crer

O silêncio da solidão revela aos próprios olhos
O seu eu em perfeita nudez
No orvalho das pequenas coisas encontrei uma manhã
Nesta árvore são vulgares os frutos, no chão brilha ouro, uma maçã

Tenho em mim mesmo toda a verdade
Gostaria de pedir ao tempo o infinito e o incomensurável
Quando esquecemos a cor do vinho, já nem sabemos do copo
Quando se ergue a vontade subimos a montanha ao topo

Contudo o intemporal que há em ti tem consciência
Sabes que o hoje é só a memória do dia de ontem
Gostaria de fazer do tempo um regato
Onde lançaria a pureza que a minha verdade contém

Não há dor, mas uma rede atirada
Não há uma única busca pela revelação
Onde para o melhor de vós mesmos?
Para onde se ausentou um coração?

E quando estiver silencioso um coração
E quando os meus pássaros emudecerem
Que uma voz fale aos ouvidos, dos meus ouvidos
E que o amanhã não seja apenas a memória do ontem

E contudo a tua alma guardará a verdade de um coração
E aquilo que em vós pulsa mora ainda no limite
Sem medir o tempo e as estações
Serei errante poeta sem contradições

E mesmo nas escuras cavernas alimentar-me-ei
De uma crença radiosa e notável
Foi este poema escrito na mais terna calmaria
Por esta alma moradora de um...Templo Invisível...

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

AVIÃO DE PAPEL


Tenho os braços nus de armas
Se viesses por aqui seguindo qualquer caminho
A qualquer hora, qualquer estação
Mora na mesma alma o amor, um destino

Estes meus dedos amputados pelo silêncio
Esta voz surda brotando dentro de nós
Este vento rasteiro cobrindo as palavras de frio
Este homem que te lava os olhos num cristalino rio

Este meu passado diluído na razão do presente
Estes poemas que foram crescendo sozinhos
Sorri sem necessidade, compreendi que é preciso sorrir
Compreendi que no esconder não houve o mentir

Sorri...!
Não tarda irão florir as buganvílias brancas
Os pássaros do meu quintal continuam fiéis
Não me abandonaram, desenhei-os em sete papéis

Com amor e doce raiva guardo estes soluços
Com divina paixão aguardo uma nova de um coração
Com a vontade dos deuses pintei-te de tinta inalterável
Guarda, poeta, vigia, vigilante, lavrador de um amor

Acariciando o teu rosto colorido de doçura
Permite-me que este poema seja o começo de tudo
Darei os braços à luz do dia
Neguei três vezes, minha alma, confia

E vou rasgar a minha garganta rouca
É feitiço o verde desta ilha
E tu feita de águas mansas e flores eternas
Diadema de hortências de azul maravilha

Qual criança que do amar só sabe amar simplesmente
Que transforma a vida no amargo doce do mel
Hoje escrevi a verdade de todas as minha razões
E atirei ao alto a folha em...Avião de Papel

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

GENTE GENTIA


Para se falar de um homem não há um único nome
Para se falar de um grande homem não um ser insignificante
A este homem têm servido o sabor salgado
A este humilde homem não chega julgar um instante


As pedras desta ilha não têm idade
Estou sentado na pedra onde dormem os séculos
Apetece rebentar na cabeça o silêncio
Agrilhoar o querer quebrar os sonhos

Há uma noite que se aproxima hesitante
Uma rua mesclada de vermelho fogo
Um coração menstruado a verter dor
Uma alma que regressará em flor

Sem fôlego uma criança morre
Sem sol as maçãs serão sempre amargas
Sem crença não há verdade que valha
Sem amor apenas existe um palheiro sem palha

Nesta carne ferida não há florestas novas
No interior carbonizado deste poema
Ninguém descobrirá duas reais verdades
Ninguém aqui aplicará um teorema

A bala dura das palavras
Não quero encontrar mais no alcance
Não quero ser amor a visitar lareira apagada
Eram grandes os olhos de raiva sem razão, nada


Aqui a terra fecha-se de Mar
Fecho-me cada vez mais ao destino
Sonhei com um instante de água fresca
Sonhei com um sincero caminho...

...Onde quero lembrar o espaço provável do verde tempo
O acaso clamando por um novo dia
A explicação das coisas a razão do amor
Uma vida que corre, um querer que não morre, confia


Deixai-me criar epitáfios
Em maldição meu corpo é uma árvore
Gero tantos frutos de sonho e cor
Nem gente, nem a puta da vida sabem o sabor

Nem tu...!
Sol que não adormece na noite
Hortênsia que em rumor me falas
Magia que me embriagas e suave perfume exalas


Sou, serei brinquedo rodando as mãos insanas
Uma voz calada, vibrante ou terna fala que alguém sentia
Serei apenas o que o meu destino ordenar
Não aquilo que quiser...Gente Gentia...

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

NAUFRAGUEI


A estupidez deste homem é total
Talvez seja mesmo o que de mim dizem
Agora já é tão grande o coro
Não sei se quero isto ou morro

Morri mil vezes, outras tantas perdi
Perco sempre pedaços de alma nesta caminhada
Mereço grilhetas, cadafalso, uma forca
Não passo de uma insignificante alma penada

Que raio de coisa sou?
Um génio, ou um marginal da vida?
Um bondoso homem que só é mau para si
Uma charada mal contada, uma dor contida


Espero que ninguém leia esta merda
Diria que é mais lixo, gerado por um lixo
Ler será uma total perda de tempo
Como já ninguém lê o Profeta, logo não existo

Ainda bem assim vomito à vontade
Aqui tenho na asneira a liberdade
Aqui não entra a saudade
Aqui sou lixo jogado numa cidade

Vou escrevinhar umas quantas peças
Umas de rir outras de chorar
Acabar dois parvos livros
Vou esquecer-me do que foi o verdadeiro amar

Ninguém ama!!!!
É mentira, uma tontaria
Fui demiurgo desta inconcepta peça
Ninguém morre, aqui o tonto nem é já mais valia


Olá senhoras deste mundo
Divas desta vida e arredores
Esta minha ilha de silêncio
Esta ilha que há em mim...em mim...


Perdoem-me pois, o pecador já pecou tudo
Perdoem-me, sou um anjo mau, um necromante
Perdoem-me que não sei o que faço
E esqueçam da minha vida o restante
Desculpem qualquer coisinha
Apliquem à vontade sobre este corpo a lei
Estou caído, mas levantar-me-ei
Perdi penas, parte da minha alma...Naufraguei...