sexta-feira, 28 de novembro de 2014

ENQUANTO NÃO CHEGAM OS BARCOS


Vi as minhas mãos nascerem na claridade de uma aurora
Vi a minha voz perder-se nos verdes desta Ilha
Vi os rituais de uma Cagarra na sua dança de amor
Vi o poder das águas e do vento descobrirem uma flor...

...Azul
Sal do suspiro de uma onda longínqua
Um pássaro breve de perdido cantar
Uma incontida lágrima, por te querer, amar

Na rebentação da beleza salpicaste o meu olhar
As mulheres transparentes divertem-se na vida
Ninguém bebe vinho e vomita o amor
Ninguém é dono da poesia, nem o seu autor

Vejo antigas sombras, cavalgando o silencio do pensamento
Não me falem de um tempo
Não me façam rir de mim
Não me mordam a alma, não me firam o corpo

Não me falem da chegada das primaveras passadas
É bom que se saiba que há muito mais porque morrer
Que conheço os caminhos cantantes da alegria
Sou um criança que transforma um muro em palácio, para te ter

Ás vezes percebo que os homens não têm importância
Que vejo a terra passar por mim velozmente
Ás vezes este espírito alucinado sugere-me
Que sou pássaro a voar para Poente

Abençoada a terra que colhe o orvalho
Bendita a mão que reparte o carinho
De esperas se constrói a solidão
Serei o primeiro habitante da dor vencida no teu caminho

Conto as aves do mar, mais as ondas
Bebo neste Oceano de mil esperanças
Vejo desprender do Celeste Anjos magníficos
Vejo Deus desenhar nas nuvens breves sorrisos

E sento-me neste basalto de fria espera
Não tenho fortuna, só bens transparentes, parcos
E penso em ti mensageira do amor
ENQUANTO NÃO CHEGAM OS BARCOS

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

OS PARAÍSOS QUE UMINFERNO CRIOU



Inquietos escutamos a voz calada
São pesadas as mãos do desentendimento
Nesta perdida rua de negro e fogo
Neste meio do mar, sem estrelas, um momento...

...Para te dizer, que bebi de um trago só o perdão
Para te dizer, que sou o cerne imperceptível da verdade
Dizer-te também, “ ainda sei amar quem me magoa”
Que vivo e floresço na minha inventada cidade

Foram tempos da memória
Rasgam-me a garganta as nêsperas azedas
Se soubesses a sede que se sente
Quando a vida nos arroxa ao peito, coração descontente

Se soubesses o que sente este poeta de rima incerta
Se soubesses o que não sabes por descredito
Se soubesses que todas as manhãs o meu amor se acende com a aurora
Se soubesses porque fico, mesmo indo embora

Se soubesses...
Que há quem abrace o vencido
Quantas verdades se diz mentindo
Que só me lembro dos teus olhos sorrindo

E eu que nada sei
Eu que acredito tudo saber
Eu que vivo como gaivota em eterno voo
Eu que cerro os olhos para não ver a esperança morrer

Eu...
Cavaleiro andante, Arlequim, mendigo sem bênção de Deus
Carrego o peso da idade inadiável
“Sou o Rei legítimo de todos os ateus

Sou, quem sou
Nem tudo o que faço pode estar errado
Pinto Anjos negros, deuses e deusas
Este homem, bem ou mal-amado

Sou aquele que caído, foi espezinhado
Sou aquele que pelos seu inimigos orou
Sou também este alquimista da vida
Que transformou em ...Paraísos o que o inferno criou...


sábado, 15 de novembro de 2014

CORPO SOLENE DE SOLIDÃO



São milhões os risos que chegam ao meu sentir
Esta fúria magoada de mil dias de solidão
Esta terra fustigada por espadas de chuva
Estas raízes presas ao profundo coração

Devorei o frio neste vale de segredos
Afastei as nuvens de desesperança com um olhar
Misturei ódios e sorrisos
E construí um castelo para te poder amar

Meus Senhores, minhas Senhoras
Novembro está servido, com ventos e lágrimas das estrelas
Afastei os dedos das flores mortas
Mataram a bondade, fecharam-me as portas

Mas, meu Amor...
Não há lume que aqueça o pão da pobreza
Os inaudíveis e grandiosos sentires desta alma dorida
São sussurros, são sorrisos soltos á tua beleza

Estes são os primeiros anos do amor
Vês agora a crueza desta neblina?
Meu Anjo de água de lábios recortados por um deus
Meu Amor, quanto tempo, tanto Mar...Mar, Menina

As minhas mãos urgentes
Procuram teu corpo, arca de incandescentes diamantes
A tua essência deslumbra, fere sem doer
Teus seios, ondulação das ribeiras, tua alma, teu ser

Já me fugiram á lembrança os antigos dias
Pelo olhar se retorna ao amor
Pelo teu corpo crescem flores carmesim
Neste vale de verde ilha ausentou-se a dor

Já pintei presságios e sonhos
Já pisei um lugar onde emanava a tua existência
Como uma Alva Garça soubeste ouvir o sonho
Como uma estrela do Norte e rumo, conquistaste minha confiança

Numa almofada de Musgo repousa a cabeça de uma Deusa
Escrevi teu nome no diário da minha paixão
Esculpi no teu sentir de roseira brava a novidade da luz
Amei teu... CORPO SOLENE DE SOLIDÃO

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

INEXPLICAVEIS DESERTOS



Como são puras as madrugadas
Como serão os campos sem cor
Como será a noite se brilhar o Sol
Como será a vida sem o brilho do amor?

Não pensei vestir-me para esta incompleta viagem
O desgosto e o amor são companheiros lado a lado
Ao dar os braços á luz do dia
Não sei se os poentes saudáveis são a saudade que na tarde morria

Deixem-me aqui com os olhos cuidando do azul do céu
Deixem-me aqui compondo uma balada de triste paixão
Deixem-me aqui como barco a naufragar
Deixem-aqui procurando a compreensão do amar

Deixem-se sentir teu rosto viajando para a minha presença
Neste lugar de casas brancas da cal
Tenho presépios em todos os dedos
Tenho a ventura presa ás mãos, um arrepio fugido do mal

Comigo dentro de mim, serei um guerreiro azul
Entreguei-te a minha paixão em versos
Nas tardes de memória
Na tua pele deslizante de fêmea, tatuarei a nossa história

A canção que me apetece cantar é Bela
Prendo o olhar ao retrato da tua candura
Um papagaio de papel de seda solto
Uma voz, tanta doce palavra...a ternura

O amor já não visita esta lareira dormente
Este Inverno, visitador de tempestades
Foram grandes os olhos da raiva
Foram sete vidas, sete sóis, cidades

Foram lembranças, perdidas em trincos da memória
Acredito que tudo o que é bom, ressuscita sempre
Na sensualidade do gargalhar, esconde-se o sonho açoriano
Este vento solto nos brandais, viagem, ilha, mar, sigo em frente

Com alecrim preso ao altar de senhor
Aqui a terra fechando-se em volta de tudo
Estas mãos vasculhado a dor das hortências
Este canto de bruma, reverberando mudo

Este sonho clamando um novo dia
Estes passos, trôpegos, incertos
Hoje isto saiu uma arrozada de rimas
A que chamei... INEXPLICÁVEIS DESERTOS...

sábado, 1 de novembro de 2014

MEU AMOR



Há lembranças que fazem estremecer o silêncio e a luz breve
Lembro outras eras de sobressalto
Lembro onde as crianças buscam o sonho
Onde os pássaros cantam trinados do alto

Há com certeza uma lamparina acesa no teu peito
Há uma palavra que teima ficar presa á razão
Às vezes é preciso acordar o silêncio
Às vezes o carinho é moldado nos cinco dedos de uma mão

Hoje apeteceu-me escrever para ti...só para ti
Hoje resolvi descobrir o Universo das penumbras
Hoje decidi deixar meu coração rebelar-se
Amanhã sei que sairás deste vale de contradição e sombras

Às vezes falo comigo próprio como fazem os loucos
Às vezes digo coisas tão vazias do sentir
Às vezes erro como as manhãs inevitáveis
Às vezes tenho tanta vontade de te chegar sem nunca partir

Contei todas as madrugadas sem ti
A minha dúvida é saber se és a aliança da minha sina
Tenho partido aos poucos sem ti para lugar nenhum
Tenho-te na alma, tenho o Mar e a sua menina

Menina do Mar...
Caracóis esvoaçantes, boca recostada de infinitos
És a fonte do irreal, inimaginável e belo sem fim
Procuro no Mundo, encontro-te em mim

Lembro teus gestos amplos e firmes
As alegrias das memórias do que já fomos
Mas ainda és para mim a alva imensidão de uma folha em branco
Onde vamos desenhar, venturas, sonhos

Procurarei na tua alma o gesto amado
Farei com que não hajam mais fronteiras nos sentimentos
Vou aprisionar o vento incansável que veste este nosso Outono
Farei com pedaços de céu uma Primavera de felizes momentos

Vou subir para te ver em ondas de sussurros
Oferecer-te uma esperança gerada na dor
Hoje escrevi para ti...só para Ti
Meu Amor...