quinta-feira, 24 de setembro de 2015

O JÚBILO E A DOR


Hoje pensei
Num milhão de razões para falar com uma fada
Em cima de um palco, por artes mágicas
No coração de um homem, na voz calada

Hoje pensei
Que este era mais um dia no encontro dos desencantados
Pelos olhos do ultimo sobrevivente de uma longa caminhada
No caminho menos usado do horizonte da encruzilhada

Hoje pensei
Na melhor hipótese de começar tudo de novo
Sempre ao longe como se te pudesse convencer
Vi-te Ave com a ternura encoberta e partículas de fogo

Hoje pensei
Pensei em ti
E mal pensei
Logo te vi

Depois pensei
Se não te posso ter
Se o amor fechas ao amor
Porque continuo a te querer ver

Depois continuei a pensar
Vejam bem que aqui o poeta até pensa
O pateta fica sempre com um sorriso de mágoa
Quando se afasta de uma amada presença

Briguei com o pensamento
Que porcaria de cabeça pensante
Para estúpida desengraçada!
Querem-te no passado, no nada

Depois voltei a pensar baixinho
Será este o meu destino
Porque percorro este teimoso pensamento?
Porque não te apago nem que seja por um momento?!

Calei pois o pensamento
Afaguei o peito e ainda sinto o pulsar do amor
E escrevi esta carta de palavras tontas
Entre...O JÚBILO E A DOR...

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

É MADRUGADA E SINTO-TE


Tenho no peito a cicatriz da tua ausência
Não me perguntem porque consigo amar
Ainda tenho o sabor da luz do inicio dos teus gestos
Ainda tenho o calor de ti no sonhar

É madrugada
Longe da minha presença
Longe da tua distância
Comigo dentro de mim, esperança

Feridas que sangram
Tens a minha paixão, os meus versos
Neste poema a palavra amor
É interdita e afagada sem dor

Uma gota de vinho
Uma ilha presa a um balão colorido
Um cálice de amargo absinto
E oiçam estúpidos, no amar não minto!

Oiçam este poeta de tostão
Que já prometeu e pediu uma mão
Oiçam a palavra salgada de saliva
Não tenho muito lugar, em ti, paixão

Um retrato sem tempo
Uma promessa na calada da noite
Juras ser-me fiel?! Amar-me, respeitar-me?!
Na saúde e na doença, juras?! De mim nunca te desencontrares?!

Uma rosa
Uma mão no peito
Uma casa na rocha
Saudades do teu sorriso, da tua boca recortada, do teu jeito

Um silêncio profundo
Um rosto que se vira para o lado escuro
Não sei se ainda tenho tamanho suficiente
Para te poder abraçar, transpor esse muro

Passei o dia a escrever
Embriaguei-me de solidão
Nem sei o que quis dizer neste poema, não minto
Tudo isso porque....É MADRUGADA E SINTO-TE...

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

O COLECIONADOR DE BÁTEGAS DE CHUVA


Conheço um Sol refugiado
No espelho de uma lagoa da ilha
Conheço um pássaro azul
Prisioneiro do voo sem partida

Saltei os abismos, falésias e escarpas
Apanhei um punhado de ervas com sabor amargo
Adormeci rodeado de hortênsias brancas
No recanto exato de outros ventos

No sonho
Caí por entre a bruma varrendo as penedias
Envolto em manto de cetim
Abri o caminho de todas as intolerâncias

Desenhei mapas de sombras
Com os luzeiros do céu procurei por ti
Abracei-me ao lugar onde bate um coração
Nas margens do sonho perdi a alma na paixão

Às vezes é preciso acordar o silêncio da memória
Ou esperar pelo adormecimento inadiável
Com o gesto sereno e demorado da ternura
Com o acordar do amor rompendo o improvável

Habitar o tempo a sorrir
Ficar eternamente abraçado ao sentir
Por entre os olhos gritar o chamar
Por sobre as ondas chegar sem partir

Vou dar sete passos à volta da tua alma
Sim é possível escutar teu coração ardente
Incendiar o desejo no calor do estio
Afogar a solidão na irreverência de um rio

E rio para não chorar
Canto sem saber cantar
Já amei sem me apaixonar
Já sonhei enganando o sonhar

Já me imaginei dentro de todas a viagens
Já fiz vinho apenas com um bago de uva
E como a loucura tomou conta da razão
Serei apenas...O COLECIONADOR DE BÁTEGAS DE CHUVA

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

O LAVRADOR DE MARÉS


Ouvi o vento e a música
Procurando um porto na madrugada
Ouvi a chegada de um navio
Julguei sentir uma voz amada

Meu Armando, meu amor...
Uma criança jogando lama ao meio dia
Embrenhada e perdida na alma
Com rimas colorindo pálpebras de nostalgia

Esta não é a hora do espanto
Sem cânticos de manhã azul
Nem pureza, nem casas
Sem o voo dos pássaros do sul

Minhas palavras flamejam
Minha alma agita mil sonhos
Meu coração arroxa num momento sem fim
Por não saber que me queres mesmo assim

De onde ninguém regressa
Está só o amor...
Nem tudo o que faço pode estar errado
Nem tudo o dói pode nos infligir dor

Insano este tempo que faz de ti o impossível
É possível dilacerar as fronteiras do corpo
De que serve renunciar à voz do absurdo
Tal como um tugúrio na paisagem me quedo mudo

Estou preparado para todos os amanheceres
Deus fez a terra, o homem o pão
Eu construí um castelo na areia
Sou o rei da ilusão

Sou uma pedra negra do cais
Sou um arlequim de chapéu de coco
Desalegre de lágrima ao canto do olho
Com a alma imensa e o bolso roto

Sei lá o que sou...?!
Um anjo de água atirado ao convés
Um homem com saudade de ti
Um...LAVRADOR DE MARÉS

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

NUNCA É DEMASIADO TARDE


Dentro desta ilha
Não há o esquecimento
Há um Mar azul brincando
Dentro desta ilha, um só momento

No alcance do horizonte
Um caminhar firme e crente
Para além das muralhas
Deste vento sussurrante

Um acordar das mãos cansadas
A memória bifurcando as paredes de cal
Não sei se sou um delinquente da palavra
E tenho um estigma de maldade já gasta

Sinto nesta manhã
Este magnifico cheiro a sonho
Sobrevivo ao nevoeiro das manhãs eternas
Quando te vejo é como se repensasse o passo

Trezentos anos de ti no pensamento
A música forjada e quente do Sol do Mar
Embravecidos quereres perdidos
Uma baía de calmas águas, um rosto, o amar

Onde o mar às vezes despeja a sua ira
Construo castelos com areia do céu azul
Congemino um silêncio para que me oiças
E lanço a este vento morno que corre para sul

A tarde do que é tarde
Desprende-se do lugar da mão assustada
Já bebi água com sol
Já senti neste corpo de homem a luz amada

Já me esconderam do mundo
Já desconfiaram de mim
Já se riram em falsa compaixão
Já me disseram que não e sim

Pessoas...
Abandonem as armas de um chão ferido
Não faço encontros com o passado
Chega-me um abraço sem ruído

Complicado este poema
Tenho um código de maldição neste coração que arde
Já fiz um sortilégio de amor
Por pensar...NUNCA É DEMASIADO TARDE