sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

POR AMOR


Plantei o vento numa manhã de bonança
Inventei a água num triste olhar
Prendi um sol ao meu coração
Pintei estrelas para te encontrar

Desenhei a transparência da música
Prendi o mar numa caixinha de segredos
Fiz amor numa noite de Lua cheia
E fui guerreiro valente, sem medos

Vi a manhã desbaratar o nevoeiro
Contei as vagas de uma paixão perdida
Rezei aos deuses e pedi um sinal de ti
E entre fundações de luz bebi absinto e morri

Renasço no orvalho da aurora que resvala no silêncio
Suspenso no monótono cantar das gaivotas
Ao ver recolher os ígneos vultos do mar
Ensaudecido pelos acordes das fragas coando os ecos

Não digas a ninguém que uma ilha é um barco
Que ninguém procura ouro num charco
Que a paixão é a seta num arco
Que a saudade não se desenha num trapo

Já percorri um jardim de maçãs
Já enxuguei os olhos num avental
Já me vesti de palhaço e Arlequim
E já me convenci que o amor vivia em mim

Sou um convencido, não sou!?
Um roubador de ninhos de verão
Já fui espantalho num campo árido
Já remexi nos bolsos sombras e assombração

“Já me vesti de amor para te amar”
Usei um avião de papel para te encontrar
Já escrevi na areia a palavra amar
Já perdi o coração no teu olhar

Sei lá o que já fiz
Só não fui herói por um triz
Sei lá se sou o vilão que por aí se diz
Ou apenas o sonho de amor de gaivota feliz

Não sei bem quem sou
Sei apenas que sou golfinho azul
Conteira perfumada
Andorinha do Mar voando para sul

Sei tanto, tão pouco
Um génio ou louco
Um bom homem ou estupor
Sei apenas que tudo faço... POR AMOR...

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

AS PALAVRAS QUE NUNCA TE DIREI


Ri palhaço
No rosto da ardida terra
No traço áspero do silencio
Numa dor que o coração encerra

Derrama o riso
No amor imutável
Partes de mim como profecia
Na lonjura onde o coração se consome na ausência

Sorri poeta pateta
No encontro das tristes garças de Dezembro
Esta ilha foi sempre a minha vida
Trago sementes de água nos olhos quando amo

Na cálida leveza de uma manhã qualquer
Imprevisíveis tempestades, insondáveis esplendores
A incandescência dos anjos no teu corpo de mulher
Aceno-te de longe com um lenço de água, sem magoa

Debruçados sobre esta vida minha
Ondeiam inúmeros clamores, páginas de esquecimento
“Meu Deus, perdi tanta vida na desordem das marés”
Perdi tanto sonho, procurei ser feliz num momento

Pergunto pelo céu que me esqueceu
Com os dedos adejando sobre a solidão
Pergunto por ti...
Tanta pergunta neste pobre coração

Partirei um dia, tudo parte
Neste coração que arde na saudade
Não consigo responder ao eco do meu nome
Aqui perdido nesta inventada cidade

Passarão Natais e coisas que tais
Acordarei sempre nas estações do crepúsculo
Nestas infindáveis agitações, procuro um sinal no pó
Este Natal convidei a minha Mãe, se não vier estarei só

Que importa...
A minha alma mostra-me um templo
Sei que o meu sonho é sempre maior que as palavras
Agora vejo na nudez da neblina a minha viagem no mundo

Estava para ser uma carta de amor este poema
Uma esperança de um destino que nada sei
Um dia terei coragem para escrever
AS PALAVRAS QUE NUNCA TE DIREI

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

A DIVINA COMÉDIA


As pessoas grandes disseram-me um dia:
Para eu deixar de desenhar sonhos
Para eu deixar de inventar cidades e dor
Para eu deixar de querer pão, rir, chorar e amar

Vieram ao meu encontro guitarras chorosas
Gaivotas cansadas da vastidão do mar
Vieram nuvens de uma saudade infinita
Veio um anjo que me disse: nunca deixes de amar

Por aqui, nesta íngreme falésia de palavras
Sente-se nos olhos a humidade das mãos dos anjos
Talvez eu seja apenas um peregrino no mistério da partida
Ou apenas uma semente que brota na melancolia

Por aqui sente-se o sereno afagar os degraus
Um homem amarrado ao ignavo arder do corpo
Elevando os braços ao destino
Uma aura de segredos felizes anunciar um novo caminho

Nunca se apaga o canto dos pássaros da manhã
Agitando os trovadores da sombra
Este homem arde contra a noite com saudades do mar
Estendendo pétalas alvas no teu caminhar

Vim dali, sabes?!
Vivi numa casa de memórias da tua presença
Viajei no topo do vento, nas anémonas madrugadas
Como dois pássaros que se cruzam sem dizer palavras

O recorte deste Dezembro de descontentamento
O recordar de um doce momento
A tua presença constante em pensamento
Nos cânticos do silencio da cor do mundo

Já desenhei o teu nome numa pedra
Já ensaiei uma peça de quimera
Já percorri a esperança com o coração em guerra
Já andei em frente com a alma em espera

Este poema são palavras para os teus olhos colhendo
Numa casa vazia tão perto agora
Sente os inaudíveis segredos da terra
Neste palco, nesta...A DIVINA COMÉDIA...

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

O TEU CORAÇÃO É A MINHA CASA


Escrevo para que oiças um pássaro
Mas as palavras ardem mudas
Escrevo para que oiças a canção do mar
Mas o teu coração fica mudo no meu chegar

Um azul vespertino enredado no verde
Um olhar dos anjos diurnos
Dispo-me frente às ultimas palavras
Ouvindo a respiração das estátuas

Entre mim e ti
Há o tinir de punhais
Há o Sol e a Lua
Há uma casinha de chocolate no fim da rua

Há um pássaro falador falando de amor
Há um jardim com sonhos plantados
Há uma cerca feita de nuvens felizes
Há uma pomba branca de penas e raízes

Entre o fogo e o abraço inapagável
Ouve o meu silêncio, esta lágrima de dezembro
Quando te lembrares de mim no rumor deste inverno
Saberás que o amor quando é amor, é eterno

Quero atravessar a ilha nos olhos de uma gaivota
Deixar-te no cabelo uma coroa de cintilações
Acenar-te com um lenço de água rente à nostalgia
Na cálida leveza de um olorento fulgor, prender o amor

Subir aos píncaros do poiso
Este pássaro conor
Com o amor todos os poderes renascem afinal
Tal como das pedras às vezes nasce uma flor

Já te senti
Como Mulher que se levanta de manhã antes de amar
Com um espanto de pétalas nos olhos de chuva
Com o canto das cigarras na boca húmida

Se ergueres nos mares castelos
Plantares flores nas lagoas
Se me quiseres de alma pura e nua
Se te abrir os braços no fim da rua

Todas as gerações do vento dançarão
Do céu descerá um lençol de luz espesso
As cigarras cantarão felizes
Neste jardim dos regressos

Então uma secreta mão pintará um doce murmúrio
Os ribeiros cantarão na cintilação da espuma
Numa distancia infinita saberás onde moro
...O TEU CORAÇÃO É A MINHA CASA...

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

O PEREGRINO


O tempo ressoa nas sementes da terra
Este sussurrar da poesia
Este tinir de espadas, lagos ardentes
Falem-me da música das estrelas sem nostalgia

Uma existência que emana amor
Uma mulher que sorri em flor
Uma paixão a fugir à dor
Um homem que navega sem temor

Um poeta
O crepitar melódico das ausências
Rumores incendiados de uma tristeza
Nos longínquos parques das marés a tua beleza

Queria tanto que minha alma não esquecesse
No torpor da terra, na respiração
Queria tanto sentir de novo, no meu
O terno bater do teu coração

Vivi entre as ruinas da luz
Segui em ti nos voos do olhar
Fui caminhante numa volta completa da Lua
Pergunto pelo inverno adormecido nas mãos do amar

Olhos de água da memória
Um pássaro charlatão ouvindo o mar
A cálida leveza das rosas de Maio
Um barco que traz o teu nome no chegar

E fui navegante sem Mar
Caminhante, caminheiro perdido do achar
Buscador de sonhos no te encontrar
Uma boa nova por chegar

Caminhei com golfinhos por estradas lisas
Bati de mansinho numa muda porta
Voei nos olhos de uma garça de pena torta
Escrevi num lenço de água “ já não importa”

A vida...sem ti...
Contei todas as estrelas que vi
Por não te ver mil vezes morri
Na incandescência dos Anjos o amor senti

Caminhei sobre as ondas
Nos desocultos fascínios do Mar
Tracei rumos de sonho e fantasia no meu destino
Fui, serei apenas...UM PEREGRINO...