quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

O SILENCIO DO AMOR


Este vento quieto da alma
Uma sombra jaz no chão amordaçada
A morte tem um olhar louco
Despedaçando a luz na voz calada

E de repente as paisagens tombaram
Enquanto a poesia se desprende dos livros
Uma mulher perdida na multidão
Uma rosa breve atirada ao chão

O eco de uma voz de sabor taciturno
A força da palavra num coração livre
Um anjo que morre na terra nua
O encontro dos desencontrados no fim da rua

Todos os dias
Provo ao mundo a razão de ser
Quando falo pelos olhos do ultimo sobrevivente
Pela sombra devastadora ensombrando o querer

O gesto amado da mão do pintor
Há algo em ti que me fala da magia, das constelações
Mulher do mar, amantíssima de oceanos
Mulher que sente o bater feliz de dois corações

Já fui caminhante sobre a espuma
Já fui arquiteto de castelos de areia
Já fui domador de baleias
Já fui pássaro alado na lua cheia

Tudo isso
No verso extenso escondido no horizonte
Nos estios de planícies cobrindo árvores
Preenchendo um qualquer vácuo descontente

Fosse porque fosse vivi sempre preso ao mar
Na branca imensidão de uma página inteira
Fosse porque fosse na caminhada de sóis e dos gentios
Voei nas nuvens, chorei nos rios

Já sonhei ao doce sem violinos encantados
Já vi negarem a oferta de uma flor
Já amei no lugar sem fronteiras onde as coisas fazem sentido
No...SILENCIO DO AMOR

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

O DOMADOR DE BORBOLETAS


Nestas palavras
Corres pela água do mar
Arregaças alegria da vida
És gaivota com penas de voar

Perguntas:
O que é a distância do sonhar
A palavra por falar
A fonte do amar?

Vi-te crescer nas estações do crepúsculo
Vi-te não responder ao eco do teu nome
Vi-te absorta deixar cair sementes de dor
Vi-te rosa breve sem cor

Cheguei numa manhã cheirando a hortelã
Lancei sementes de esperança num primeiro olhar
Vim sem memórias, sem histórias para contar
Vim apenas sentir nos dedos o sabor do mar


Vim nu
Um sorriso veste de sol o rosto de qualquer um
Observei nos olhos de uma mulher o mundo
E senti que os sentimentos moram num azul profundo

Divagações da alma
Pobre poeta em cais de espera
Ausente do seu nome
Sem ver, os frutos da infância por colher

Tenho saudades latejantes, quentes
Este pássaro mudo pateta
Este ser que se veste de vento
Esta viagem num luar de volta completa

Não rezo aos deuses na madrugada
Do lume de mim nunca se aparta a alegria
Já dancei só entre as ruínas
Já adormeci num manto de nostalgia

Já amei, tive raiva, odiei
Já fiz desenhos de sonhos no mar
Já andei de mão dada com a loucura
Já amei gente de alma tão dura

Nasci nesta ilha onde se voa no olhar
Já dei nesta vida 7 voltas completas
Já tive mil ofícios absurdos
Até já fui...Domador de Borboletas...

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

SUAVE VENENO


A voz que nasce nestas águas
Tenho nos dedos a sede do teu corpo
Tenho o teu riso recolhido ao meu olhar
Tenho no peito uma palavra que pulsa, amar

Este pescador de estrelas do mar
Domador de ventos
Este fazedor de sonhos impossíveis
Este construtor de ingénuos sentimentos

Como te apago do coração arroxado?
Sentimento amarrado ao ignavo arder do corpo
Um cíclame que cresce entre sombras
As falésias tangidas de um pecado já morto

Já fechei as portas da casa da memória
Abri janelas às anémonas da madrugada
Ensinei uma gaivota a voar
E descobri que é igual ao poder amar

E voei...
Feliz para as primeiras amoras
Senti os prodígios da terra
Jurei não ser guerreiro em santa guerra

Jurei...
Sobre o teu nome ausente da ilha
Na voz de uma menina voando sobre o orvalho dos frutos
Jurei ter visto em ti a saudade e a maravilha

Os fascínios do mar
O torpor da terra lavrada
A tua respiração
Um beijo na boca calada

No outro lado da luz
Um cheiro de solidão
Os paços leves de uma garça
O afago de Deus numa mão

Este imperturbável vento
Os cabelos soltos na sua claridade
Sabem lá o que sente este poeta
Sabem lá o que é amor e verdade

Na translúcida serenidade desta casa
Hoje apeteceu escrever mais cedo

Não sei se falei de amor, dor ou paixão
Ou derramei no papel um... SUAVE VENENO

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

ESTE ESGOTAR NOS LÁBIOS


Fria, a manhã cresce
No longo sono das hortênsias
Esta lava escura do inverno
Serena com os meus olhos colhendo

Este lembrar de ti a cada segundo
Este acaso clamando um novo dia
Aqui a terra fechando-se em volta de tudo
Uma canção presa á boca de um mudo

Um desejo
A poesia infinita de um beijo
A verdade que rasga os olhos
A voz que devasta o coração, tudo

Nos vossos corações
Deixai-me criar epitáfios
Uma voz calada
Mais vibrante que esta branda fala

Já enlouqueci
Passeei os olhos pelas sombras de uma parede nua
Já deixei um abraço suspenso
Numa fria rua

Contigo...
A entrega dos sentidos
No pousar dos lábios sobre a carne
Com a vida a chamar-me à realidade

Encontrei...
Segredos escondidos na penumbra
Um amar com feições novas
O desejo da pedra, o conhecimento da espera

Este compasso febril do coração
Esmagando os medos do silencio sem ver
Sabes, o choro não rasga horizontes
Nem a saudade é fácil esconder

O teu silencio
É o nosso murmúrio surdo das árvores
E assim o sonho se perde no esquecimento do mar brincando
E assim o mundo para quando o amor se solta de um coração chorando

Bifurcando os contornos deste ano que começa
Olhei-me de mil formas nesta sala de espelhos
Já proferi mil palavras de amar
...ESTE ESGOTAR NOS LÁBIOS...