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Solto suspiro no incerto do tempo
Voa o pensamento na procura da lembrança
Pequenos olhos, frágeis e ternas mãos
O mundo preso no coração de uma criança
Na noite tudo se perde
Mora a sombra, o desvario
A emoção sobe sempre mais alto
Quando o querer tem a força de um rio
Pés descalços, uma janela virada para o mar
E a tempestade desatina na deserta rua
Tremelicam as luzes na cortina de chuva
Uma casa sem pão, sem calor, nua
Tanjem os sinos na altaneira torre
Cabeças tapadas a véu
Vai nascer o Jesus Menino
Hoje a ilha está mais perto de céu
Hoje o incenso crepitará no lume
A água benzida e santificada
Os cânticos de louvor ecoarão
Não tarda não se ouvirá mais nada
E esta janela meu Deus
E este bravio mar de furiosas vagas
E este saber de tão vago entender
E esta frágil vida gerada de mágoas
E corre a noite, adormece a casa
Na minha cabeça um afago de mão
Fecho os olhos por um instante
No espanto abertos por um clarão
Um formoso menino estava mesmo alí
Tocou de leve o lado esquerdo do meu peito
Olhou-me com um luminoso sorriso
Deixou-me sem fala, sem jeito
Deixou-me no apagar de uma vela
Olhei novamente o mar
A calmaria voltou como por encanto
Mil criaturas inundaram-me o olhar
Golfinhos felizes assobiaram
A cria de uma baleia acenou-me
Uma andorinha do mar poisou no parapeito da janela
Uma maravilhosa e antiga história sussurou-me
As estrelas brilharam no celeste
A Lua estendeu seu manto de fino luar nesta cena
Adormeci na imensidão deste mundo
No embalo de...Uma Noite Serena...