
A corrente miúda das ribeiras
A gaivota repentina
O suor deixado no arraial
Uma dor de amor que não se leva a mal
Olhei de soslaio para uma prateleira branca
Um gato de cor laranja piscou-me o olho
Peguei nele, levei-o comigo
Ofereci a uma Princesa de pouco mais de um ano
Alice numa ilha encantada
Um chapeleiro louco tomando chá de orvalho
Ofereço, rasgo, dou ou deito fora
Tudo isso e mais a fome de ser feliz
No rasto do homem navalhado
Uma mulher que me sorri com os lábios tortos de dor
É por isso e pelos versos
Por estas mãos sempre em construção
É por ficar tão longe do meu
Este teu fugidio coração
Às vezes louvo o amor
Não conheces decerto
Este poeta escaldado da ternura
Estive de ti sempre tão perto
Nas tardes condescendentes da ilha
Recolho as palavras na hipnose dos sons
O balanço do pensamento que na noite respingou
A pureza silenciosa de uma flor
No cerne imperceptível do papel branco
Deixei o teu nome mais a palavra amor
Entrando dentro de mim ri-se o homem mais infeliz
Este caminhante viageiro
Uma menina chora mais ao lado
Um leão, um gato amarelo
Percorro este caminho só
A noite aproxima-se hesitante
Não há nenhum barco para partir
A dor desce e de repente é noite
Um piano que me sacode a alma
Enquanto escrevo este poema
Passei a noite numa viagem fantástica
Sonhei ser o tocador da... FLAUTA MÁGICA...