
É bom que se saiba
Não tenho um nó na garganta
Tenho o sabor da verdade no corpo todo
Tenho na mão as cores todas do Mundo
É bom que se saiba
Que há quem envergonhe as minhas canções
Quem me apontou punhais
Quem se afogou em contradições
Deitei-me dentro de mim
Sem vontade de recuperar o tempo, impossível
Tenho o silêncio preso ao céu-da-boca
Não se pode vomitar a palavra no vazio indiscritível
Às vezes invento coisas no meu coração amedrontado
Então o meu espirito alucinado cala-me
O meu corpo é terra que vejo passar por baixo do céu
É semente coberta por rasgado véu
Não precisam os desesperados
De subir as colinas rubras da paixão
À minha volta a luz nunca é suficiente
Tenho uma caixinha onde guardo a derradeira ilusão
Esta alma persistente de alegria
Como sorrio às vezes quando conto as aves felizes
Quando aceno ao desprender dos anjos magníficos
Ao soltar dos sonhos de despretensiosos petizes
É tão difícil percorrer estes dias insulares
Nunca temi repartir a mesa, o sabor do pão
Esta água girando sempre à volta da ilha
Vagas medonhas, nevoeiro, solidão
Nestas negras pedras dormem os séculos
O interior destas casas cheira a cal
A saudade das mãos cansadas do segurar meus filhos
Esta alma que não dorme nunca…Imortal…