
Sou um descrente de gente
Um ser apressado na rota da vida
Alguém que não sabe exprimir alguns sentires
Que no peito arrocha esta dor sentida
Segui o balanço deste barco de papel
Segui uma gaivota a caminho do norte
Segui uma vaga que me salpicou com espuma
E desisti deste seguir numa toada de vento forte
Fechei os olhos para ver os contornos de uma lembrança
Lembrei os aromas de uma manhã em branca areia
Senti as cores de uma acácia rubra
Senti no corpo as águas de uma maré cheia
Mergulhei num Mar de lusas lembranças
Encontrei um cavalo marinho de chapéu de coco
Fez-me uma vénia de escárnio
Esqueci o respirar no encontro de uma baleia boto
E a loucura, minha fiel companheira
Empurrou-me mais fundo para o vale do absurdo
Veio ao meu encontro um anjo-do-mar
Tocou-me a razão e fiquei mudo
Também já não lidava nada bem com a palavra
Os sons ferem-me a alma ao seu toque
Deixei que me descobrissem de todos os pesares
E uma raia acordou-me desta coisa tonta com um forte choque
Com toda esta confusa demanda nem sei onde fui parar
Que importa o sítio quando não se quer chegar
Que importa abrir a alma a um descrente
Que não constrói um mantra por não saber rezar
Que importa deixar de fazer da palavra uma construção
Uma corrente que se desprende da palma de uma mão
Se as grilhetas não tocam numa alma livre
Se a verdade é mentira e a dúvida a máscara da razão
Às vezes dá-me para isso
Escrevo sem tino nas águas de estuário
Espero que ninguém me ligue ou dê importância
Sou apenas um pobre louco…Visionário…