quarta-feira, 29 de junho de 2016
O PERFUME
Apaguei as luzes para acender as estrelas
De repente as paisagens tombaram de aridez
Os pássaros inesperados morderam o tempo
Uma sombra jaz no chão presa a uma cruz
A morte e a maldade têm um olhar louco
As portas fecharam-se nas casas de areia
A estupidez gelatinosa escorre da parede e um rosto
Maquinalmente escondida entre mãos de pedra...
...Há almas onde só o pecado medra
Jamais anoitecerá neste coração
Jamais o ódio vencerá a paixão
“Meu Deus perdoo-vos a todos nessa perversa contradição”
No amanhecer voraz da ignorância
Vivem entidades negras, negras pedras
No meu coração vive uma dor que passará
Uma grandeza que o negrume não engolirá
Fui julgado pelos homens, pela vida
Pela leitura de uma estranha alucinação
Num vento insidioso por cima de cérebros ansiosos
Já me tinha julgado Deus que concedeu o seu perdão
Amei o mundo, as pessoas
Amei filhos que Deus pôs à minha guarda
Amei quem me amou com tanta alegria
“Amei-te vida porque amar pessoas não vale nada”
Os homens não sabem amar
O amor é uma palavra tonta numa estante quieta
Uma história, um verso à espera dum fim apropriado
Uma página incomensurável do delírio de Neruda
Descobri a eternidade do ódio á ilharga de Dante
Descobri que Judas era boa pessoa
Descobri a arte mágica de viver livre
Descobri que um burro não ladra à toa
As hortênsias empalideceram
Perderam a cor neste inverno de sol e solidão
Rasguei estes versos e espalhei pela minha inventada cidade
Restam apenas lembranças...O Perfume...
sexta-feira, 24 de junho de 2016
SOBRE O ROSTO
Rente aos olhos a água
Orvalhada manhã sem dor
Rente aos olhos o gume do espinho
Rente à pele o amor, o teu passar
Rente ao homem
Olhos cansados, dedos doridos
Sono infinito, canteiros vazios
Tanta pena, dois palmos do dia um poema
Papel sem palavras
Estou cansado deste inverno
Do trevo sem sorte, das danças macabras
Da demora da morte, das palavras sem sentido
Enquanto o tempo não anda na ilha
Sou o homem mais impuro
Estou cansado das facas nas rochas
Forjando a maldade no negro futuro
Estou cansado dos homens
De dentes cravados ao coração
Estou tão cansado de te abrir os braços ao abraço
De te pedir amor como quem pede pão
Na primavera não há pardais viúvos
Nunca me encobri com o calor da tristeza
Quem sou?
A presença de um nome, rosa deus, a pobreza
Um pintor...
Um ator sem guião nem palco
Um rei de coroa de lata
Um barco sem nome, um pássaro solto
Mas há uma cidade a construir-se dentro de mim
Bela como um jardim abandonado
Com pássaros voando na sombra da palavra
Contigo abraçar-me e dizer a maldade basta!
Hoje quero lembrar quem me amou
Quem me cantou no adormecer do sol posto
Hoje quero apenas lembrar-te cintilante estrela
Com a luz do amor...SOBRE O ROSTO...
segunda-feira, 20 de junho de 2016
AS BESTAS NUNCA APAGARÃO ESTA ALMA
Nesta ilha que há em mim, há uma lava incandescente, nesta terra de brumas e nostalgia, rezamos ao acordar de um novo dia. Amanhamos a terra com as mãos nuas e a força que Deus nos deu. Arrancamos ervas e pedras, misturamos chuva e quimeras e descansamos em cais de esperas. Lançamos sortes ao vento, percorremos a ilha passo a passo com mil sentires, rezando a Nossa Senhora, para que amanse a terra nos seus estertores. Subimos ao alto nos olhos de um Milhafre para ver as lagoas, acolhemos na terra as gaivotas fugidas ás tempestades, iluminamos a noite com a chama viva do óleo da baleia e acordamos todas as manhãs com esperança e alma cheia. Nesta terra, a espera é feita do alto de um monte, de mãos postas e olhos no horizonte. Nesta ilha dividimos o pecado e a razão, o milho e a chama, a vontade tamanha que o vão fazer pão... Nesta ilha que há em mim...
Dedico este texto a duas pessoas: à minha Mãe e à Pessoa que amo
sexta-feira, 17 de junho de 2016
NAS MARGENS DO SILÊNCIO
Este pássaro que habita em mim
Este morrer aos pedaços consciente
Preciso construir a noite
Preciso reencontrar o caminho, somente
A espada dobrou-se no raiar da madrugada
Senti as garras do vento prenderem-me a alma
A maldade habita em pântanos indescortináveis
Terei apenas de erguer o grito do mar para me encontrar
Esta minha carta da vida
Este homem prisioneiro do voo
45 rosas, sorrisos no teu coração
Sabes foi a Mãe do céu, foi pela sua mão
Contigo
Seguirei rumo às constelações etereas sem olhar para trás
Comigo o sacrifício é o nada a morte o ápice
Contigo o infinito é uma linha que a mão de Deus faz
Percorro este caminho intolerante
Contigo presa ao meu destino a cada instante
Na leveza da tua condição de água
Se partir não chorem por mim, não sintam pena, mágoa
Não chorem por este poeta
Farei estremecer de silêncio a luz breve
Não chorem por este homem caído
Esta alma voará de rumo perdido
Não se agradecem rosas
Hoje apeteceu-me escrever sobre pessoas
Seres normais
Hoje cruzou na minha frente o amor, senti tristeza, dor
Sentei-me num banco duro
Enjaulado como devem estar os criminosos
Nunca fiz mal a ninguém
Só sei plantar bondade no mar da saudade
Que Deus me ajude
Tenho os sonhos espalhados pelo chão
Sei que não estou só
...NAS MARGENS DO SILÊNCIO...
sexta-feira, 10 de junho de 2016
SANG REAL
Sei que Jesus não morreu na cruz
Sei que amou num rosto claro de mulher
Sei que nasceu um anjo num dia feliz
Sei que o amor acontece quando o coração quer
Maria Madalena, amor ou pecado?!
Quem sabe...12 – 06 – 1971
Desceram os Arcanos e plantaram uma flor na ilha
As lendas de amor renasceram em maravilha
Sei que neste dia aconteceu um milagre
Estava no mar de África
Uma doce luz afagou-me os olhos
A minha alma elevou-se numa vaga mais alta
Naveguei pela ecoante monotonia do mar
Lancei sortes às vagas
Plantei saudades nos olhos de três crianças
Meu Deus, afasta de mim este cálice de mágoas
Nasci com o poder das nuvens, choro
No estremecer do silêncio da luz breve sem ver
Que recorta as colinas da ilha
Esperando pelo ruído das gaivotas no amanhecer
O amor é um poder que renasce afinal
É o sitio onde as crianças buscam o sonho
Sei que as montanhas se desfazem devagar
Sei que nunca deixarei de te amar
Apenas porque os Anjos não mentem afinal
Nas gritantes palavras de um olhar doce
Um poeta nunca lavra recusas
Sente e respira no o fulgor dos hinos
Se soubesses como sou feliz
Percorrendo a imensidão de uma página inteira
Escrevendo o amor, desenhando o azul, rasgando o verde
Sabes?! Um poema nunca se perde
É sempre a carta do mensageiro
O poeta é um ser que caminha sobre a espuma das paisagens
Como se abrisse uma passagem secreta
Para o universo de palavras simples
Hoje foi assim este poema
Apenas porque senti um dia o nascimento de um anjo afinal
Guiado pelo esplendor dos poentes em decomposição perene
Senti no mundo o...SANG REAL...
sexta-feira, 3 de junho de 2016
ESTRELA DA NOITE
Tenho o sonho de navios
Partindo por aí em viagens sem fim
Tenho o sonho de me amares
Tenho-te tão plena dentro de mim
Tenho os olhos de ultimo sobrevivente
Moro no palácio dos desencantados
Onde por artes mágicas um anjo me vem lembrar
Que devo abrir os braços ao teu chegar
Já sonhei fazer uma peça sem pressa
Por um milhão de razões
Por num palco uma árvore a falar com uma fada
Já sonhei amar-te simplesmente sem querer mais nada
Sentei-me contigo
Como se não houvesse mais nada para dizer
Ergui-me nos teus olhos
Sem saber o que fazer
Disse-te palavras profundas
Pintei-as de oração
Plantei esperanças em teu coração
Coloquei uma rosa breve na palma da tua mão
Meu Deus...
Que vida onde do ar surgem os punhais
O bater de portas
As cinzas da tarde neste coração que arde
Não quero perder-me do amar
Adorar a paisagem da ilha, acariciar a melancolia
Sobrevivo num fogo medonho, num sussurro me chamam
Lanço as sortes à morte, renasço ao nascer do dia
Na ilha
A escuridão é verde
A ilha é uma mulher
A ilha é uma gaivota, o que Deus quiser
Na ilha
“É insuportável passar por ti sem ti”
A ilha é lava, rubro sangue
Tu menina dos caracóis...ESTRELA DA NOITE...
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