
Ao justo e ao pecador
Deves largar o abraço sincero
Ver neles a verdade do mundo
Varrer da atitude o desespero
É promessa de errantes aromas
O Sol que visitou a manhã
Um pássaro zombeiro falha o voo
E poisa num sítio de terra chã
Porque será que os pássaros
Cantam na partida do dia
Porque será que um amante ausente
Fica de alma apertada, vazia?
Porque será que as ondas lamentam
Em sussuros de sal no areal
Porque será que as rezas são feitas
Para correr para o longe o perverso mal?
Gaivotas varrendo um manto de orvalho
Golfinhos navegando ondas felizes
Um assobio de chamamento ao entardecer
Uma gargalhada solta na algazarra dos petizes
Corri com as águas de um ribeiro
Cavalguei todos os sonhos que inventei
Naveguei num mar inventado por mim
Soletrei baixinho a palavra amei
Subi ao alto, proclamei-me rei
Dei ordem às árvores e depois pensei
Como pode um poeta triste e louco
Dizer ao amor que amar tentei
Como podem estas palavras entrar
Rasgando a alma ao pensador
Como podem os seres infelizes
Enganar a dor com o verbo amor?
Mas esta viagem tão cheia de tormentas
Não tem rumo em cais de espera
Barco sem vela nem leme
Numa tormenta de difuza quimera
Tudo isto porque a caneta enlouqueceu
A mando de um coração doído
Olhei o horizonte imenso de inquietação
Aquí me quedo...Anjo Caído...