sexta-feira, 31 de março de 2017
A DEUSA DA LUA BRILHANTE
Nunca serás esquecida
Na desordem da marés
Nessa fotografia ruída pela luz
No olhar de gaivota presa a um convés
Numa distancia infinita mora a tua lembrança
Não posso dar-te a mão: cheguei tarde
Não canto aos deuses da madrugada
Entre ruinas habita o crepúsculo deste coração que arde
Tu és pássaro de voos do olhar
Jardim de todas as estações
Azulejo pintado a carmim
Dois corações
O meu e um que não adivinho os contornos
Porque do lume de ti nunca me aparto
Porque de ti já tentei parir mil vezes, na chegada fico
Nunca parto
De encontro à noite, mãos de viúva
Bordas com fios de luar
Desenhos de saudades
Sonhos de aconchegar
Adormeces, sonhas com um poeta necromante
Voas num céu com capa e véu
Deusa da Lua brilhante
quinta-feira, 23 de março de 2017
O DIÁRIO DO NOSSO FUTURO
Fazes-me sentir nervoso
Faço-te sentir calma
Fazes-me sonhar em acesa chama
Faço te soletrar a palavra ama
Este sol entrou em meu peito com ecos de verão
O odor solar brusco das nêsperas maduras
O meu coração no bater das ondas contra a tarde
A verdade...
Fotograma verdade, fotograma mentira
A vida a preto e branco
Nunca escolhi um barco para descobrir o horizonte
Vez agora na neblina as pegadas das aves do mar
Os degraus de pedra esculpidas no céu
Uma noiva sem véu, uma gaivota branca, uma pomba negra
Na translúcida serenidade de uma manhã de Março
Vi borboletas molhadas em mãos de chuva
Sete passos de água, cabelos soltos na sua claridade
Uma porta antiga abre-se, entras, acordas no silencio da memória
És protagonista de uma mágica história, calada, ouvindo os dias que se foram
Que roupa despiste para amar, para outro corpo em ti entrar?
Na tua alma alva, livre na brancura dos sentidos
Tenho os lábios secos de tanta palavra, na madrugada da melancolia
Nos cânticos do silencio atravessas a rua, mudas a cor do mundo
Do meu...
É tão inocente a idade de plantar sonhos impossíveis
Nos inaudíveis segredos da terra sinto-te em mim
Pedra a pedra a música da tua voz
Este marinheiro em casca de noz
Vim dali sabes, da cidade das memórias perdidas
Subi para te ver um imenso e frio muro
Tenho uma folha branca em minha mão...
O DIÁRIO DO NOSSO FUTURO...
sexta-feira, 17 de março de 2017
PRIMEIRO NOME DE UMA MULHER
Ainda há pouco
Passei num jardim de negra pedra
Dei às palavras a infância da água
Ainda há pouco olhei-me ao espelho e vi-me louco...
Entre mim e as palavras há sempre uma promessa
Entre mim e ti uma eterna espera
Entre mim e Deus uma Santa guerra
Entre mim e o sonho apenas uma quimera
Já ouvi a respiração das estátuas
Um peixe voador sem temor
Já ouvi uma gaivota chorar
Já chorei apenas por te amar
Neste êxtase fugidio
Um milhafre perdeu o pio
Nos pátios da solidão
Um poeta perdeu o coração
Vivo, morro, nasço e voo em cada instante
Às vezes faço cara de importante
Ardo no destino em desatino
E perco o rumo quando caminho
Quando te lembrares de mim
A tua alma voltar a voar
Quando um soluço parar o teu coração
Quando o vazio tocar a tua mão
...já pedi mil vezes perdão
Para quê?
A mágoa tem a cor da chuva ou da sarça
“Só não ama quem não vê”
Entre o fogo e o abraço inapagável
Levarás para sempre a ilha escondida
No imutável, revolto pó das sombras
Procurei a minha alma perdida
Atirei uma pedra à melancolia das pedras
O naufrágio da voz errante, o que Deus quiser
Do mar às vezes regressam barcos
Com o...PRIMEIRO NOME DE UMA MULHER...
quinta-feira, 9 de março de 2017
O SENHOR DOS SONHOS
Na ilha dançam sombras musicais
Há vulcões escondidos em pálpebras vidradas
Um sonho de barco partindo sem fim
Um lago transparente onde choram as mal-amadas...
...Gaivotas perdidas do mar
Na encruzilhada de um perdido horizonte
Para ser um caminho que se escolhe
Quando o amor fala nos olhos do ultimo sobrevivente
Era longe, muito longe o lugar
Onde me perdi de ti
Se soubesse jamais havia uma recordação
Se soubesse mandava calar o coração
Um inerte cobertor de folhas verdes
Um rosa coberta de manhãs de nevoeiro
Plantei uma roseira no lugar de um desgosto
Esperei por ti nas ramagens absurdas do sol-posto
Há flores sem futuro
Há maçãs amargas no escuro
Há um copo cheio de saudades e dor
E há um coração eternamente ligado ao teu em amor
Trespassado pela monotonia do mar rasgando as rochas
Sorri para uma mulher de negro de mãos-postas
Aguardando serenamente no lugar da tua ausência
Para em cada passo erguer os braços aos céus mais infinitos
Tu
Não és mais do que luz
Um poema magnifico como o silêncio
Um anjo que os meus olhos seduz
Tu és Princesa sentada no cais do lago azul
O erguer da madrugada em esplendor
Um milhafre triunfante rasgando o ar
O amor plasmado no verbo amar
E o que sou eu?
Um poeta na espera ou um simples ateu
Um homem fugido aos seres bisonhos
Não! Apenas...O SENHOR DOS SONHOS...
sábado, 4 de março de 2017
SEMENTES DO OLHAR
O voar de uma gaivota varrendo a penedia
Uma singela flor que eclodiu no dia
Um campo de esperanças sem nostalgia
Esta singela alma que em Deus confia
Quero descer estes degraus da vida
De mansinho
Quero falar-te de todos os meus sonhos
Prender-me a ti em amarras de carinho
Libertei-me das grilhetas da maldade
Dei às palavras a infância da água
Numa fátua conivência do meu coração com o teu
Atirei ao mar a dor, a mágoa
És o verbo que evoca o oiro mais raro
Pássaro que canta a feliz memória
Um azul vespertino com mantos ardentes
A parte terna de uma emocionante história
Descalço-me frente das tuas ultimas palavras
Por este tempo
Por elas passaram gaivotas famintas
Não recolhi os frutos caídos deste outono
No êxodo dos instantes escrevo
À vezes amo o que não vejo
E no sussurrar desta irreverente poesia
Quero apenas plantar em ti alegria
Entre mim e as palavras há apenas amor
Um sentimento de fragor mais claro
Descanso o olhar sobre a tarde do mundo
Porque amar deve sempre habitar o mais profundo
Entrego-te
Partes de mim como uma profecia
Na lonjura onde o coração se consome na ausência
Continuo a ser apenas um miúdo pobre que em Deus confia
Um poeta louco
Perdido na distancia do amar
Porque a flores que crescem no coração
São de...SEMENTES DO OLHAR...
Subscrever:
Mensagens (Atom)