sexta-feira, 29 de agosto de 2014

O CHÃO DOS PÁSSAROS



Eu vi o negro balançar do coração de uma negra ave
Eu vi as esculturas que a chuva traçou na terra
Espreitou-me uma ideia levada da breca
Dar uma coroa de louros a todos os idiotas em santa guerra

Quer-se dizer, a todos os merdas...
Ups... o poeta asneirou!
Vamos adocicar este poema parido azedo
Querem saber?! Há gente demente cheia de medo

Pretos, brancos, cães, cadelas, cobras e melancias
Fidalgos, fidalgas, carapaus e garajaus
Potes partidos, artistas mal paridos
Mulheres desdenhado a careca dos maridos

Mau...Mau...!
Isto não ata nem desata
Que arrozada mais confusa e gasta
Chamaria a isto: nem piza nem pasta

Pois e juro que apenas bebi água
E olhei para trás desconfiado das facas aguçadas
Servi-me mesmo da minha torneira
Não fosse uma criatura bondosa e falsa qualquer fazer alguma asneira

E isto não há maneira de encarreirar
Então comecemos isto à poeta de rima certa:
Era uma vez uma criatura doce como o sal
Que me disse amar e só me fez mal

Era uma vez uma criatura que me jurou amor
Me abraçou na dor
Chorou na ternura de todas as melodias que senti
Era uma vez uma vida que no ficar partiu

Era uma vez um menino que sonhou à janela
Que o Mundo era feito de gente grande, bela, séria
Era uma vez um aprendiz de homem
Que ainda se condói com a miséria

Era uma vez tu
Ave que confusamente promove na minha alma desencontros
Era uma vez um destino que se tornou um desatino
E só para rimar, tudo isto...No Chão dos Pássaros...

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

GENTIL PROFESSORA



Hoje há uma festa de poente
Este céu radioso menstruado de fogo
És em ti a ilusão do fim do dia
Pássaro que dorme em minha alma vazia

Eu vi o teu terno sorriso
Aqui do interior da retina onde se apaga o fim
Pé ante pé, espreitei colinas de olhar
Desenhei uma escultura de esperança sem acabar

Sabes!?
Numa das mãos trago a esperança
Noutra o coração
Nos olhos um infinito que a minha alma alcança

Por eles só passará quem fizer crescer o fruto da verdade
Por aqui abriu-se a terra em tonturas de lava verde
Por aqui ainda mora uma lágrima oprimida e sábia
Por aqui há uma prestigiadora flor que plantei no Mar da ilha

É inatingível o pensamento do pintor
Ele é gaivota, lúcido e louco
Que mágoa sentirá no jogo das sombras
Ele é Sol que escorre e tremeluze, tanto, tão pouco

Na mansidão da areia imaginei um radioso Setembro
Pensei ouvir a canção das marés
Sabes?! Sou às vezes a plenitude da paixão
Tenho numa mão o coração e na outra de novo o coração

Vi num abraço o mar lavar a areia
Vi gaivotas tecendo no céu bonanças
Vi um lírio cantar no vento
Vi o caminho para um novo tempo

E de repente as nuvens ficaram alvas, escorrentes
E de repente esqueci a maldade da gente
No toque de duas hesitantes e afagadoras mãos
Senti que há gente linda, que sente

O coração do poeta estremeceu de realidade
Por isso o poeta plantou uma realidade onde a felicidade mora
Sonhei um sonho lindo com uma criatura de profundo sorriso
Chamei-lhe...Gentil Professora...

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

ENTRE O MAR E OS TEUS OLHOS



Quando pinto alguém
Uno a minha alma à alma da pessoa
Porque tudo o que a minha mente cria o meu coração acolhe
Porque este fazedor de sonhos o destino escolhe

Não fui feito para ser prático
Apenas autentico
Sei que tenho estado altura de todos os desígnios
Sabes meu amor, quando partir, tu...tu irás sentir

Houve um tempo em que tirava mil sonhos de um saco
Houve um tempo em que não sabia o que fazer de uma pedra
Moça, esta noite não irei escrever tristes versos
Ouvirei apenas na dispersa noite um anjo em santa guerra

Sabes, és a ultima dor que me causa sorrisos
Este abandonado ainda não tem hora de partir
Não quiseste naufragar num beijo
Tens uma chama imensa que te incendeia o desejo...

...De me amar
É negra como as pedras a solidão da ilha
É claro como véu de anjo
O que bate no teu peito em maravilha

Menina de ondulantes cabelos de mar
Acolheste-me nas colinas dos teus seios
Recebeste-me em teu corpo em profunda paixão
Enfeitiçado coração

Ainda tens o fogo nas unhas e nos teus ardentes lábios
Tens um destino onde não viaja a vontade
Sou um descobridor dos teus mais recônditos sentires
Sou pássaro entre os teus olhos e a liberdade

Porque no mar te vejo
Te procuro
Te desenho no sal da espuma
Te abraço, sinto, juro

Afoguei os lamentos, semeei esperanças no vento
Lancei cartas de amor em papagaios de papel aos molhos
De alto de uma falécia de lava adormecida
Procurei-me...Entre o Mar e os Teus Olhos...

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

PARA TI



Roubei uma caixinha de palavras
De uma loja mágica de brinquedos
Com elas escrevi o que senti
Este poema cheio das mais belas cores para Ti

Sabes?! Gostei tanto de uns sapatos
Que comprei pares para o resto da vida
Comprei todos os chapéus bizarros que encontrei
E com um deles, não sei qual, um dia, amei

Sabes?! Quando as bolas saltam sozinhas
Os brinquedos despertam no sono das crianças
Quando deixar esta ilha sentirei falta das pedras
Quando um dia souber voar espalharei nos teus olhos esperanças

Nunca serei apenas mais um Homem
Pinto, canto, faço magia, encanto
Olá vida sou uma criança grande
Até já almocei com um urso de chapéu amarelo, um espanto

Já li um livro que escondia as palavras aos descrentes
Já habitei a terra dos sonhos prováveis
Deu-me um chapéu branco um chapeleiro feliz
Envaidecido, rodopiei e sorri como um petiz

Também conheci alguns habitantes da terra do faz-de-conta
Às vezes acho que posso mudar o mundo com o pensamento
Às vezes fico assim, sinto-me pateta
Porque as bolas coloridas saltam sozinhas no querer do Poeta

Sabes , meu amor...
Vou deixar-te em testamento quando partir
Lavrarei numa singela folha de papel e farei um avião
O tempo que não mereci em Ti

Há quem mande flores, cartões
Eu, mando-te palavras
És como uma coisa grande, refletindo outra maior
És a sonoridade feliz da palavra amor

Queria que te enchesse o meu gostar
Um dia alguém perguntou:
Onde vais buscar tanta palavra?
Respondi: multipliquei pela primeira que me disse minha Mãe quando nasci

Uma vez pedi a uma gaivota, não vá
Faço-te uma proposta
Dou-te um real que ganhei com a dor
Dá-me o teu amor

Gostava que não acreditasses nem em mim nem no impossível
Joga comigo, apenas um jogo, de vida e sorri
Sente o querer da alma deste fazedor de sonhos
Porque escrevi...PARA TI...

sábado, 16 de agosto de 2014

ANJO DE ÁGUA


Inquieto perscruto a voz calada
Nesta rua mesclada de pedra negra de fogo
Nas mãos pesadas do desentendimento
Gostava que o mundo parasse no teu olhar por um momento

Não há florestas novas sem o teu amor
Há um punhado de amor esperando o despertar
Este herói desconhece o fim da batalha
Este louco poeta repousa no teu chegar

Já esqueci a recolha da tua palavra amarga
Há mulheres que sorriem com os lábios de pedir esmola
Há uma tarde que nunca chegará ao fim
Quando pela primeira vez entraste dentro de mim

A corrente miúda e cantante das ribeiras
Lembra-me o teu riso
As ondas do teu cabelo Menina
Lembram o Mar, o amar

Nesta ilha a terra fecha-se à volta e tudo
Nunca é acaso o celebrar de uma nova aurora
Sabes?! São estranhos todos os Mares que senti
Sabes?! Fiquei, nunca parti

Por estes dias, subi, pensei, orei
Deixei-me cultivar pelas boas lembranças
Construí uma melodia muda em ironia
E subi ao alto do monte de todas as esperanças

É sempre verdadeiro o desgosto que surge à hora do poente
Risquei novelos de nuvens no céu da boca
Há palavras que me chamam sempre à realidade
Há um coisa que não entendes em mim, a saudade

Não há choro que rasgue horizontes
Não há vale que não tenha a sombra dos montes
Não há perdão que deva ser negado ao poeta
Mesmo que ele seja como eu, um pateta

As filhas do campo são azuis na ilha
Escondi no silêncio absoluto a magoa
Sempre serás no meu mais profundo
O meu...Anjo de Água...

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

PRANTO


Manhã submersa de neblinas
A noite teceu seu manto
A água em sua eterna viagem
Cobriu a ilha de pranto

Parti da ilha numa manhã de luz fria
Com um pálido sorriso
Levando na bagagem a nostalgia
No coração a revolta
Nos olhos um ar submisso

A lonjura desenha uma cruel ironia
Cobre o sentimento no vale da distância
Deixou gravada no barro negro
A tua doce lembrança

Quantas luas passaram sobre a tua cabeça
Quantos rebentos de verde no barro nasceram
Quantas palavras ficaram presas à alma
Quantas dores do meu peito irromperam

Será assim na quarta feira
Pela minha palavra algumas centenas de almas subirão
A um cruzeiro no alto de uma falésia de pedra
No alto dirão algo que escrevi, uma oração

Cantores e atores desta terra
Gente que vive sem presunção e espera
Gente que arranca à terra o vinho e o pão
Gente que ora em santa guerra

Sei que a emoção será imensa
Que verei nos olhos das pessoas o espanto
E uma música feita por mim marcará esta peça
Lavrei-a com alma e tem como nome...pranto...



quinta-feira, 7 de agosto de 2014

NÃO ME PERGUNTEM PELO AMOR


Entre palavras e o rumor azul de mar
Dançam estrelas breves dos teus olhos
Cai uma murmurante lágrima dos sonhos teus
Ai se falassem estas mãos, diriam que afagam Deus

Qual é a cor dos teus sentires
Porque olhas para trás ao partires
Porque é translúcida a tua forma de querer
Porque os olhos da minha alma se fecham para não ver?

As mãos do amor ferido são trémulas
Se tocares no basalto arderão no acender da lava
Uma sarça ardente cobre teu suave peito
Não tenho manhas, sou tão ingénuo e puro, pró amor não tenho jeito

Nasci na ilha
Percorri vezes sem conta as estações
Apartei-me de muitas primaveras
Pensei saber tanto, já nem sei quem eras

Nunca esculpi na pedra um anjo
Às vezes regresso à inocência de sorridentes segredos
Nunca beberei os Outonos nas tuas mãos
Ninguém me aprisionará na baia de todos os medos

As gaivotas não cantam como o mar, sabias?
Imaginei uma distância infinita nas tuas ultimas palavras
É tão triste quando uma Mulher se levanta de manhã sem amar
Nas gerações da chuva encontro pronuncio de um chegar

Parti...
De gente mascarada de ódios eternos e pobres
Cheguei a uma baia do silencio
Onde Deus acha que são as minhas palavras brancas, nobres

Chegarei sempre a lugares imensos
Esta cabeça, esta alma, tanto querer
Não tombarei com o orvalho gerado da bruma
Sou pássaro que não precisa de olhos para ver

E de viagem para Santa Maria onde me estimam e querem
Serei Escravo da Cadeinha, escrevi para almas sentirem
Meu coração chorará com os meus atores vestidos das palavras deste homem
Quero que subam o cruzeiro, lavrei letras, senti, rezem


Foram tempos de desocultos fascínios estes
Há vidas, há campos, há terra onde não medra nem uma flor
Deixo no teu cabelo uma cintilante coroa e...Não Me perguntem pelo Amor...

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

NEGRO E FOGO


O poder do amor
O sortilégio dos sentimentos
Uma flor que respira
Um sonho, momentos

Inquietos às vezes encontramos o engano
Há um sorriso que já não visita a lareira
Há uma coroa de louro para uma mulher
Quem sabe, quem fala, quem sofre, quem quer?!

Há uma cesta com a fome da loucura
As hortênsias esmorecem em Agosto
Hoje é um dia em que a ilha me aperta o coração
É um tempo de vazio sentir, sol-posto

Este é o tempo exato da brandura das palavras
O tempo de lançar a mão por dentro de um breve sonho
Este é o caminho das sete fontes
Este é um “Ser” altivo e pleno, não bisonho

Este sou eu...!
Este é o tempo em que me elevo à condição de JUSTO
Abortaram todas as raivosas manhas nas pessoas
Em mim irradiou uma fogueira de mil chamas


Um instante de fresca brisa
Violou meu pensamento
As minhas mãos moldam palavras, quero que sorrias
Nesta poesia infinita do beijo

Meus senhores, minhas senhoras
Está servido este dossel de uvas maduras
Há um segredo no fundo de um poço feliz
Tomai bebei, este é o vinho sem agruras

Tomai comei este pão feito de esperança
Nunca serei um fugitivo perdido
Nunca serei um Sol escuro
Nunca guardarei raivas, sei, estou seguro

Nesta amena tarde envolta de misticismo
As minhas palavras nunca serão atiradas contra o silêncio das portas
Solto as mãos ao Mar e rogo
Uma promessa, uma chama...Negro e Fogo...