quinta-feira, 27 de outubro de 2016

O PRINCIPEZINHO


Sabes... quando se está muito, muito triste
É bom ver o por do Sol com mil prazeres
Sabes...num planeta pequenino basta subires uma cadeira
Verás quantos crepúsculos quiseres

Já vi um Rei vestido de púrpura e arminho
Já vi uma gaivota mirar-se num espelho de água
Já vi uma mulher dar o peito ao marido faminto
Um golfinho fazer nas ondas um ninho

Já pintei ovelhas brancas
Anjos tristes aprisionados á bondade
Pintei um sorriso de olhos de sol
Já amei mentindo, construindo a verdade

Será que as estrelas obedecem a um Rei?
Que as sereias cantam o feitiço
Será que o teu coração bate terno por mim
Ou o teu amor perdeu-se num fim?

Cá estou eu bifurcando a alma
Numa barca navegando no olho da cidade
Quero fechar este livro antigo de culpas
Quero repetir-te mil vezes uma verdade

Amo-te...!
Recordando o tempo de menino
No esquecimento do mar brincando
Nas escadas de um ancoradouro

Para te encontrar
Caminho no alcance do horizonte
Para além das suas muralhas te ver
Sabes...somos a consciência do amanhecer

Já nos rimos na madrugada extensa
O choro é uma certeza, não rasga horizontes
Como se o mundo não soubesse de tudo, de nós
Desmontando a misterioso fia de mil afastamentos

Nunca serei um guerreiro vencido pela maresia
Contigo no coração nunca estarei sozinho
Saber do teu amor
Faz-me sentir...Um Principezinho...

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

SOLSTÍCIO DE AMOR


Ou será esta uma proposta de encantamento?!
Azul é o tempo que fala de búzios novos
De ventos ansiosos percorrendo os caminhos lentos do amor
Sabes: é possível dilacerar as fronteiras do sentir

És mulher
Vem sem violentares as palavras
Ninguém repara mas, o teu sorriso ficou em mim para sempre
Como tugúrio na paisagem, solta voz, fogo devorando a lagoa, mágoas

Talvez seja um arbusto inquieto
Encolhido num regaço fértil, sem me conheceres
Poeticamente cheio de amor
Preparando todos os amanheceres

Nem tudo o que faço pode estar errado
Nenhum amor pode estar fechado
Por entre o tempo incolor averbado
Na tua distância sempre tão perto

Podia ser apenas uma palavra aflita
Derramado em finos segmentos
Habitando o lado negro da Lua estranha
Algures no despertar da sombra cativa

Esta solidão grave incompartilhada
Pobre poeta, mendigo dos seus desgostos
Chorando e rindo desalmadamente da madrugada extensa
Este homem que sente, respira e pensa

Como a caricia serena do mar
Como o orvalho transparente das manhãs
Como este outono com gosto de vento nesta ilha
Como o teu amor envolto em maravilha

Este herói desconhece o fim da batalha
Recolhendo na hipnose dos sons os passos do teu chegar
No cerne imperceptível do papel branco
Há um punhado de amor esperando o despertar

Um trevo de quatro folhas, a voz calada da ternura
Uma rosa breve singela flor
O gemido de um cego, o cálice que embebeda o louco
Uma oração neste...SOLSTÍCIO DE AMOR...

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

DIÁRIO DE UMA SAUDADE


Escutei nos teus cabelos as ondas
Como se os abismos do mar trouxessem o eco
Numa cama de algas amei uma sereia
Recolhi o sal de uma onda e espalhei uma mão cheia

Percorri
Reinos de silencio quebrando o encanto
Na água exposta à luz dos espelhos
Encontrei Neptuno com cara de espanto

“Tenho o corpo eternamente abraçado na tua lembrança”
Tenho uma eterna espera num lugar possível
Tenho no a rota do sol dos pássaros
Tenho a sensação de que sorri teu coração...

...No meu passar
Sim é possível escutar as ondas batendo
Na rocha macia dos teus cabelos soltos ao vento
Parar o tempo, amar-te em pensamento

Mulher com aroma de erva
Corpo de garça
Memória de Eva
Pranto azul
Suor maduro
Estátua grega
Menina brincando á cabra-cega
Pomba com partículas de fogo
Água soberba na enchente dos rios
Incendio da carne no calor dos estios
Hortênsia cantante no Sol de abril
Um símbolo, uma lembrança, um ritual
A paixão vestindo o desejo de afeto
Corsa com os ombros nus
Olhos apelando à saliva quente
Fêmea de pele macia
A noite mansa despida sob o lençol
Esperando que jamais se faça dia

Vem. Imagina-te no centro de todas as minhas esperas
Trás o perfume de outras eras
Em que fomos felizes com verdade
Vem. Escrever mais uma página do... DIÁRIO DE UMA SAUDADE...

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

ENTRE NÉVOAS


Dormi nas pétalas orvalhadas e frágeis
Uma hortênsia acordou nesta manhã de outubro
A fonte do irreal inimaginável belo
O cristal da lágrima em tua face descubro

Às vezes partimos aos poucos para lugar nenhum
Partimos como partem os vagabundos, os pássaros do mar
Partimos às vezes para na viagem ficar a alma pura
E acordamos de manhã devagar com o cheiro da outra loucura

Suavemente nas asas de uma sombra obscura
Ouvi alguém partir de mim
Não sei se era eu ou tu
Era apenas um deus irónico anunciando um fim

...Da paixão, do amor ou da contradição?!
Sentado na areia molhada
Contei ondas atormentadas
Cantei orações na noite calada

Deixei o mar tomar conta do meu corpo
Lavei da alma um sonho já morto
Agarrei a brisa num sopro
Dancei com uma sereia num tempo lento

Este medo de estar por cansar
Este sol que cega o cego
Este grito que devasta o mudo
Vasculhando a sombra, a dor, a rosa em esforço

E o pescoço torço
Nas mãos metidas no papel
Umas vezes serviram-me absinto
Outras muitas puro fel

Esta solidão baloiçando no infinito
Este mudo grito
Esta criança impossível de sorrir
Este querer ficar e partir

As flores adormeceram na ilha
Os amantes aguardam em mil esperas
Sento-me no meio deste adormecido vulcão
Ente dores... ENTRE NÉVOAS...

terça-feira, 4 de outubro de 2016

PROMETO PERDER


Venho ter comigo num país encantado
Sou ilha à deriva no coração de pobre
Trago-vos as mãos vazias embrulhadas de silêncio
Sou um estranho, por dentro vim nu em dia suave

Tenho as mãos amputadas pelo amor
Tenho no coração preso um grito de perdão
Tenho uma dor que dói mais do que a dor
Tu sabes, tenho por ti um infinito amor

Já fui pescador de nuvens
Apanhador de sonhos impossíveis
Já fui palhaço disfarçado de palhaço
Já fui gaivota perdida no espaço

Fui água, fogo, medo, raiva, contradição
Paladino do amor, criminoso sem perdão
Já fui rico com pobreza e pobre com nobreza
Já fui grande, comi no chão, orei na mesa

Dormi numa cama de pedra
Cuidei com os olhos do azul do mar
Saltei ondas com golfinhos violeta
Já fiz amor faz de conta, acreditei numa peta

Deixem-me aqui sereno
Ouvindo o grito da agonia, ou de alegria talvez
Este grito de ave que vem dentro de mim
Levem-me em correria pelas lagoas, como se fosse a ultima vez

Sabem?!
Fui o rapaz mais pobre da ilha
Fui até chamado de enjeitado
Tanta vez senti isso: ser rejeitado

Por ti...por ti... por ti...
Uma vezes chorei, outras a mim menti
Nesta vida de merda
Mil vezes morri

Mil vezes fui julgado
Outras tantas condenado
Já andei de corpo açoitado ao léu
E nunca me abandonou a Mãe de Céu

Deu-me rosas para o coração despertar
Deu-me sinais que não quis ver... PROMETO PERDER...