segunda-feira, 25 de outubro de 2010

HERDEIROS DOS SETE VENTOS


Areia foi aplanada pela maresia
A madrugada instaurou a claridade
Um barco parte para o mar-alto
Leva tatuada no casco a palavra saudade

Uma gaivota olha com olhar perdido
Perdidamente um golfinho salta no azul
Perdi à muito o rumo que me levava
Ao amor que habita um sitio no sul

O Mundo agita-se na costumeira loucura
Olhos vazios na procura do nada
Passos incertos em rumo por inventar
Uma criança que chora presa a mão dada

E o vento lá bem no alto
Varre as nuvens ao encontro do mar
Sopra adiante uma vontade inventada
Solta de um amante que procura o amar

E eu aqui no alto
Fiquei com vontade de ensaiar o voar
Um Milhafre olha-me zombeteiro
O melhor é deixar-me ficar

Fecho os olhos
Procuro o silêncio desejoso da alma
Mas este vento não pára, não se aquieta
Reacendeu no meu peito uma mortiça chama

Em labaredas soltou-se a lembrança
Os sonhos espreitaram envoltos em chamas
A paixão ganhou cor em seu esplendor
Soltei as dores, as mais tamanhas

Mas este vento enlouqueceu
Dançam as árvores em furioso passo
Agitam-se as águas adormecidas
Um pássaro vagueia num curto espaço

Tem feitiço este vento
Feiticeiro do vento, montado em corcel
Serei eu o culpado desta demanda
Ou apenas um boneco de amarrotado papel

Demiurgo de causa perdida
Com a alma emaranhada em mil talentos
Não, sou apenas uma aragem de passagem
Um dos...Herdeiros dos Sete Ventos...

sábado, 9 de outubro de 2010

O IMPÉRIO DA BRUMA


Varre a ilha uma cortina de chuva miúda
A água aprisionada em mil gotas
Tal como as minhas mais profundas mágoas
Que em minha alma se encontram soltas

O Mar enlouqueceu
Ameaça galgar esta perdida ilha
O verde continua sorrindo
Ostentando a cor da eterna maravilha

Eterno é este nevoeiro gerado na noite
Por um deus colérico e sedutor
O mesmo que quando se cobre de Sol
Gera em cada passo o amor

Assaltou-me o sentimento
Soube que um amigo partiu por um celeste caminho
Um homem bom nunca morre
Só se afasta um bocadinho

E eu, neste palco
Pinto mil e uma emoções
Luzes, as pancadas de Molière
O aplauso, tantos sorrisos, contradições

Inquieta alma esta
Vivendo entre a o amor e a dor
Voando para além do sonho
Nas asas de um viajante Açor

Viajeiro das perdidas madrugadas
Navegante de barcos de papel
Preso aos brandais desta Nau da esperança
Afugento a fome com pão e mel

Mato a sede na saliva das tuas palavras
Tempero o sentir com o sal das tuas lágrimas
Recolho uma flor que eclodiu do basalto
Gerado num vulcão de sete chamas

Sete vezes, sete abraços, sete suspiros
Sete notas, uma balada de pasmo encanto
Uma lamparina a iluminar um santo
Sete pedras de incenso para o quebranto

E eu no meio deste desatino de vento
Faltaram-me as palavras sem coisa alguma
Caíram-me sete folhas à cabeça
Fui coroado o rei do...Império da Bruma...