quinta-feira, 29 de julho de 2010

UMA RAIVA INCONTIDA


Onde param as minhas ilusões?
Para onde me conduziram estes passos?
Porque as pessoas teimam em não saber
O significado do meu abraço?

Maldigo este Sol encoberto
As nuvens roubaram o azul
Invejo o vento errante
Algo me impele a olhar a sul

O Mar perdeu a magia do sal
Os golfinhos partiram para outras paragens
Este lago está deserto da virtude das águas
Tem penas de garça soltas nas suas margens

A pessoas passam de olhar vazio
Como se vazia esteja a sua alma
Os pássaros soltam tímidos pios
O fogo é feito de fria chama

Já não ardem as cores na manhã
As auroras ficaram pardas
As hortênsias perderam-se do azul
As mágoas andam perdidas

Perdi-me!
Na lonjura que minha alma ditou
Passei a mão pelos olhos
Um deus perverso a ultima lágrima roubou

Houve um tempo que chorei as coisas
As boas e as más em emoção
Houve um tempo em que tinha sempre
Descoberto meu sofrido coração

Este tempo perde-se como chuva miúda
No pó que encobre mil vontades
Tem mil anos e outras tantas Luas
A procura das minhas verdades

Tem mil vidas a minha viagem no Cosmos
Tem apenas um rosto a minha procura
Tem um canto que reverbera ao meu sentir
Tem apenas um momento a real formosura

Hoje senti sentimentos de tristonho sentir
Hoje senti a minha alma perdida
Hoje gritei em grito mudo bem alto
E soltei...Uma raiva Incontida...

quarta-feira, 21 de julho de 2010

PERDIDO NO TEMPO


Nada é mais lindo do que o despontar da aurora
Nos dias em que os meus olhos voam
Têm asas os primeiros sentires
No acordar com estes sinos que entoam

Sonhei que as estrelas se alinhavam
O celeste ficou cheio de formas estranhas
Contei tantas coisas que me ditou a razão
Descobri mil luzeiros de formas tamanhas

Descobri que a Lua sorria de desdém
Ao falso amor de paixão crua
Descobri que na volta do Sol
A cor volta com ele à minha rua

Volta também uma gargalhada de criança
O cheiro a farinha transformada em pão
Uma mulher que oferece o leite morno do seu peito
Adocicado pelo seu terno coração

Vi a nudez da alma em pés descalços
Vi um louco fugir à razão
Vi o engano despertar no Mundo
Vi a felicidade perdida no chão

Fechei os olhos para não ver mais
Continuei vendo ainda mais claro
Vi-me rodeado por gente sem rosto
Que me olhavam como um bicho raro

Pelos ouvidos entraram as cores
As notas de uma sinfonia encheram-me os olhos
Um aguaceiro surgiu do nada
No céu as nuvens juntaram-se aos molhos

No meio de toda a confusão
Pareceu-me ver um anjo aflito
Despertei desta loucura toda
Quando uma gaivota soltou um grito

Retirei o orvalho do rosto
Ordenei aos sentidos que tivessem calma
Como não tenho mão neles
Lá teve que me valer a alma

Caminhei, caminhante galgando mais um dia
Parei e olhei à minha volta por um momento
Esta bruma que volta sempre atrás do dia
Deixou-me...Perdido no Tempo...

terça-feira, 6 de julho de 2010

CHEIO DE PENAS


Roda a vida em sua roda invisível
O mundo desperta na claridade da manhã
Um pio primeiro é pronúncio de canto
Uma boca solta uma palavra vã

O nevoeiro partiu no dia
Uma árvore solta os seus dourados presentes
Um ribeiro acolhe o cantarolar das águas
Um coração arroxa de repletos sentimentos

Esta ilha não tem fortuna
Trocou-a por um curioso mistério
Este irreal e intenso verde
Que inunda o olhar mais sério

Nesta ilha há um beijo na tua procura
Nesta ilha as pedras não têm idade
Nesta ilha as juras são lançadas à maresia
Nesta ilha o sonho é janela da verdade

Por isso e por muito mais
É feliz o cantador
Canta melodias feitas ao acaso
Tecidas dos fios da sua dor

Tear que range em protesto
Tecelão de fio branco e negro
O que guarda este manto de mágoa
Onde guardas este precioso segredo?

Onde poisam as gaivotas ao fim do dia?
Porque volta sempre esta suave maré?
Porque presenteia as pedras com colar de espuma?
Porque navegas à bolina sem olhar p'rá ré?

Porque me sinto tão longe do mundo?
Porque sei, sabendo, que perversa é esta viagem
Será que imaginei, imaginando-te?
Será que o teu sorriso é difusa miragem?

Sigo adiante, mesmo em contemplação
Sinto bater no peito mil saudades
Sinto a vida acolher-me em azul sorte
Sinto que fui criança em sete idades

E em sete vezes parti no chegar
Vi rezar na promessa muita alma em novenas
Meu coração chora no embalo do embora
Deito o corpo na noite, adormeço...cheio de penas...