sábado, 18 de setembro de 2010
OS TRINCOS DA MEMÓRIA
Uma aragem de fresca brisa
Agitou os loureiros adormecidos
Veio do mar do norte
Tal como a minha vontade em passos perdidos
Adormecidas estão as hortênsias
As manhãs vêm vestidas de frio
Vi uma garça no azul desencontrada
Vi minhas dores serem engolidas por um furioso rio
Desaguei com o olhar na busca do mar
Sequei a água dos olhos solta de um revés
Pisei as águas limpas de uma baía
Adormeci ao fim de sete marés
Sonhei
Com mares, com uma longa travessia
Desfraldei uma vela alva
Naveguei na chegada, na partida morria
Sonhei que era um cavaleiro andante
Por dias de inquietante perdura
Avistei um vagabundo num espelho de água
Era a minha alma talhada em pedra fria e dura
E fui criança de esvoaçante riso
Pássaro embriagado pela cor
Busquei em gestos enlouquecidos
Aquilo que pensava ser o amor
Descalço senti a dureza das pedras
Navalhas afiadas percorrendo o pensamento
Às vezes o sangue fecunda a terra
Às vezes o mundo pára por um momento
Quando era criança pensava
Que se o relógio parasse, parava o tempo também
Pensava que o rosto da felicidade
Era uma deusa vestida de branco vinda do além
Pensava que que meu mundo era apenas a ilha
Que as asas eram a cor da santidade
Que o pensamento atravessa todas as grades
Que um caminho da felicidade tem ladrilhos de verdade
Hoje deu-me para divagar
Estava para escrever uma história
Escorreguei na fronteira do pensamento
E rompi com...Os trincos da Memória...
domingo, 5 de setembro de 2010
SONETO DE AMOR
Um pio percorre este vale onde respiro
Um milhafre plana no azul
Olhos nos olhos, ave e homem imperfeito
São de basalto negro os caminhos do sul
Carrego metade deste eterno céu
Na noite os luzeiros são estrelas
As sombras apenas uma parte de escuro
E as flores não são tão belas
Mas tu brilhas na noite
És firmamento onde mora uma constelação
Que marquei firme em rumo certo
No lado esquerdo, na janela para a ilusão
Ergui muros, calei dúvidas
Plantei saudades, colhi esperanças
Reguei a terra onde mora a incerteza
Soltei um grito, voaram no espaço incandescentes lanças
Soltei as mãos
Procurei a tua virtude na espuma
Construí um diadema de gotas de mar
Voei pela brisa sem pensar coisa alguma
Pintei as montanhas de carmim
Um melro-negro fez-me lembrar o branco
Procurei na paleta uma cor que havia perdido
Descobri que não tem cor o verdadeiro pranto
Descobri que nua és pura como a natureza
Que o teu sonho inundou o meu
Este crente não reza para afastar o pecado
Nem se veste na pele de ateu
Descobri que teus seios são Luas
O teu corpo, casa com mesa de afecto
Tua boca nascente de mil desejos
Teus olhos o começo de um chamamento
Ouvi teu chamamento em canto de pássaro
Abri os braços e ensaiei o voar
Subi o mais alto que pude
Enfeitiçado pelo teu chamar
Encontrei um ninho feito de fina bruma
Coberto por pétalas de azul flor
Fechei os olhos e brotou a poesia
Neste...Soneto de Amor
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