terça-feira, 22 de junho de 2010

O FEITIÇO QUE HÁ EM TI


Este sol que vence o nevoeiro
Recolhe as gotas do sereno da manhã
Este grito que se perdeu na noite
Transformou-se em palavra vã

Aromas errantes soltos no ar
Esta terra molhada tem a promessa de pão
As uvas são amargas em Julho
O Setembro é pintado da cor do coração

As palavras nem sempre são bem ditas
Nem sempre vindas do profundo da alma
Umas caem por terra estéreis
Outras envolvem o sentir da calma

Julguei ser a ilha um navio à deriva
Sem velas, sem vento nos brandais
Julguei-me numa viagem perpétua
Inventei um grande e colorido cais

Que roubei às asas de uma brisa brincalhona
Tracei as formas que me ditaram a vontade
Não saiu à primeira, talvez aí por volta da nona

Pois é, a loucura tem um fraquinho por mim
Entra e sai a seu belo prazer
Às vezes penso ser gerada por um irado deus
Que faz tudo para me roubar o ver

Vi!
Estou sempre a ver coisas estranhas
Estou sempre a sentir à minha volta
Uma roda de dores tamanhas

Estou sempre na mira do pensamento incomum
Estou sempre tão cheio de comoventes verdades
Estou sempre a chorar o lado escuro do mundo
Estou sempre na procura de um partir sem saudades

E parto no embalo do fim do dia
Não levo bagagem para o viver dos sonhos
Levo apenas esta força imensa
Que ofusca até os seres bisonhos

São tantos os caminhos que percorro
Neste infinito mágico há algo que senti
O deslumbramento preso a um sorriso
Gerado no...Feitiço que há em Ti...

sábado, 5 de junho de 2010

O COMEÇO DA ETERNIDADE


O Sol reflecte seus raios
No espelho de água desta Lagoa
Tal como pássaro em voo diurno
Tens em ti uma alma que voa

Voa sobre este verde de emoção
Da terra brota o azul hortênsia em cabeleira
Este teu sono de sonhar na ilha
Tem o Mar por cabeceira

Ah esta ilha, qual barco à deriva
Velas silenciosas, mastros a prumo
Esta bússola enlouqueceu
Tem a marca de enganoso rumo

Sete distantes destinos
Sete vontades expressas
Em sete mágoas por dizer
Na resposta a sete promessas

Sete!
Desci às Sete Cidades e inventei mais uma
Na Baía do Silêncio celebrei uma jura
Envolto numa suave bruma

Feiticeiro da dor
Fazedor destes constantes nevoeiros
Ao cais nenhum amor chegará
No anoitecer dos dias primeiros

As pedras têm esculpidas em si
Mil fúrias de esquecidas tempestades
Desenhos de azul sal
Fazendo lembrar cidades

Casas sem janelas
Portas abertas de par em par
Uma árvore com frutos de pão
Na espera do chegar

Ensaiei a partida a cada dia
Contei as pegadas de toda a amargura
Vi cada por-do-sol incendiar o céu
Vi nas nuvens as formas da vil loucura

Preparei a alma para receber o infinito
Enchi o coração da mais pura verdade
E descobri que o verdadeiro amor
É...O Começo da Eternidade...