sexta-feira, 21 de abril de 2017

A RUA DAS ILUSÕES PERDIDAS


Num salão mal iluminado
Desenhei pernas de mulher que suspiram
Uma ave das sombras e luzes baratas
Um sonhador andar em quatro patas
Uma pose cheia de maneiras
Um chapéu de coco e sete pulseiras
Para afugentar os espíritos
Apenas os bons
“Não há maus espíritos”!
Apenas gente gorda expelindo um ar cansado molhado
De rendas e suor
Este poeta na boca de gente da treta
É apenas um estupor
E se pensam que repenso o passo
Esperem pacientemente num traço (do Pintor)
Farei uma sangria com alecrim
Sobreviverei ao nevoeiro das manhãs eternas
Embriagado de satisfação e cansaço admito aos quatros ventos
Não aguentar-me nas pernas
Porque sou apenas um pássaro, um pardal
Sem canto, sem penas...

sexta-feira, 14 de abril de 2017

HAMLET



Sentimos
Que os rios estarão sempre lá
Que as pedras apenas se movem pelas ondas
Que o Inverno acabará por chegar
O amor nem sempre é por amar
Sentimos
Que a liberdade é um bicho
Vive no mato e arreganha os dentes
As mãos procurando
O espaço branco do leito
Os dedos pressionando a noite
A mulher de boca molhada
Indicando o barulho da cidade
A poesia não tem idade
Mas tem asas
Rasgando a transparência das unhas
Uma estrela do mar
Um bailinho levantando o pó
A sangria da terra na espera da chuva
A vida puta e dura
Uma mulher que se coseu às paredes
Para evitar o largo das sombras
Serei pois um delinquente da palavra
Uma obra já gasta
Uma peça por acabar
Ou apenas a ironia do verbo amar
Embriagado de satisfação e cansaço
Admito aos quatro ventos
Viver amor e paz em mil momentos

Boa Páscoa
Armando Moreira