terça-feira, 23 de março de 2010

ALMA POR ALMA


Procurei a minha perdida ilha
Por mares e ares, numa demanda
Será Antília, será uma senhora de nome Atlântida?
Que me deu em sonhos esta carta de marear estranha

Na bolina enganei o Vento
Seguro firme este leme que não largarei mais
Tatuei meus sonhos na brandura das velas
Fiz juras de amor junto aos brandais

Conferi o rumo com um golfinho zombeteiro
Uma baleia branca sorriu em brancura
Um bando de voadores peixes cruzou comigo
Um peixe-anjo subiu na vaga e sorriu com ternura

Contei cada vaga que me afagou o olhar
Lancei em sorte uma esperança esquecida
Quanto sal tem a beleza da maresia?
Para onde viajam os sonhos de uma gaivota adormecida?

Para onde vão as palavras bonitas
Para onde partem os corações sem rumo?
Para onde caminha um Poeta louco
Quando o Sol se põe a prumo?

Não sei!
Nunca saberei domar esta maldita razão
Que me invade esta enganosa paz
Que enlouquece a pena em minha mão

E depois a noite, mãe das sombras
Tudo pára no adormeço, solta-se o medo
Apenas uma réstia de vigília em meus olhos
Brota do fundo de mim um antigo segredo

Uma bizarra história!
Com duas marionetas em palco nu
Uma que foi levada nas asas dum ceifeiro de almas
E eu que fiquei neste mundo frio e cru

Porque era preciso um fito acabar
Encher mil corações de sublime luz
Lavrar as palavras em cristal água
Escrever a magia que me seduz

Então partiste sobre o meu choro
Mas invadiu-me uma estranha calma
Já sabia que teríamos em sorte o imenso
Uma troca divina...Alma por Alma...

sábado, 13 de março de 2010

O VALE DOS VENDAVAIS


Estarão loucos os deuses?
A calmaria tomou o verde de assalto
Ai este céu que arroxa a ilha
Um milhafre decidiu voar bem lá no alto

O vento enfureceu na noite
Escutei os sons do embalo árvores
A manhã chegou ao som de um tímido pio
Era um pássaro que anunciava mil dores

O caminho afagou-me os pés
O acaso tomou como sua a razão
O sentimento decidiu fazer-se sentir
Deslumbrou-me a alma, contraiu meu coração

Soltei a palavra adormecida
Chamei a deusa da poesia para me abençoar
Cantei as virtudes da alegria
Vi o poiso da garça no fim do voar

Vi, vejo tanta coisa que ninguém vê
Imagino-te plena de radiosa luz
Com um vestido feito de ar
Com este olhar que me seduz

Imagino o canto maternal das baleias
Como doce e sentida balada
Imagino um beijo na procura
De uma fugidia criatura amada

Um domador de ventos e tempestades
Uma viagem de aventuras repleta
Serei eu um herói de comédia de enganos?
Ou apenas um pobre e louco poeta

Serei, sou qualquer coisa
O Mundo conhece este meu dom
Inundar a vida dar cor ao sonho
É a sina de um anjo bom

Sempre me atraíram os anjos pintados de negro
Sempre achei aconchegante um xaile da mesma cor
Sempre achei que o negro que veste a noite
É pano de cena para o amor

É pedra que sustenta um cais de espera
É capa de mágico, é nevoeiro escuro nos brandais
É a minha alma em dia chuvoso
É meu errante coração no...Vale dos Vendavais