quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

A ETERNIDADE E MAIS UM DIA


Chove de mansinho no barro
Frios são os pensamentos neste fim de dia
A ilha escureceu em sobressalto
A bruma envolveu tudo num manto de nostalgia

Os acordes de uma guitarra afagaram meu peito
Um pássaro esqueceu-se de voltar ao ninho
Uma Mãe olha embevecida um catraio
Que acolhe em sua boca um seio que transborda carinho

É uma incontida força o amar
Amor é palavra usada sem preconceito
Umas vezes usada apenas pelo desejo
Às vezes nem eu a sei usar de jeito

Eu não uso a palavra amar
Não sei amar de palavra vestido
Sei apenas que quando amo
Solto o imenso, o todo

Sei lá o que sei!
Parece-me saber muito sem saber porquê
Sei mundo, céus e pequenos infernos
Sei sabendo de olhos cerrados o que a alma vê

As pedras são mesmo pedras
Quando alguém as atira para magoar
As flores são sempre belas
Quando dão cor ao verbo amar

Vou esperar por uma onda que sei
Vir do norte em busca da pedra que sou
Vou esperar pelas buganvílias rubras
Vou sentir o sal da maresia no sítio onde estou…

Numa restinga de negro basalto
Onde as gaivotas fazem ninho
Onde as tempestades adormecem
Onde já vi dois amantes envoltos em carinho

Vou ajudar uma alma aprender a sentir
Uma paixão ganhar cor sem ter companhia
Vou ensinar uma criança pobre a sorrir
E transformar…A Eternidade em mais um dia…

domingo, 15 de janeiro de 2012

SOM DO CORAÇÃO


Não sou um pintor
Apenas um salteador das cores perdidas
Não sou um artista como dizem
Apenas alguém que dá forma às dores sentidas

Imagino um mundo onde existam mil cores
Um céu que as derrama aos olhos
Um mar onde os peixes se pintem a seu bel-prazer
Um campo com papoilas negras aos molhos

De negro se pintam às vezes certas almas
A ausência da cor é o abandono ao amor
A noite aprisiona-as em seu manto
Na noite os passos não deixam rasto nem dor

E estes sons que me entram à alma
Estes chilreados estridentes na manhã
Esta melodia breve e triste
Esta letra sem voz, palavra vã

Esta rubra lava que transborda meu sonhar
Este verde que conheço de tantos tons
Esta canção perdida no cofre da lembrança
Este nevoeiro da lagoa de sete tons

Nunca serei um tocador
Nunca sentirei a vibração das cordas ao ouvido
Nunca desisti de tocar a vida à minha maneira
Nesta minha pauta de letras que duvido

Talvez um cantador, rasgando madrugadas
Talvez uma pálida estrela na procura de perdida cor
Talvez o fruto amargo de uma árvore sem flor
Talvez os sons de uma balada de desamor

Talvez…
Eu que sou alguém de sim ou não
Eu que me esqueço às vezes de sentir
Esta minha musica…O Som do Coração…

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

MARÉ DE FOGO


Cheguei ao lugar onde se cruzam as palavras
À casa dos desejos que ninguém acreditou
Sentei-me numa cadeira inventada
Aprisionei meu pensamento e aqui estou

Aqui estou no limiar do credo nas pessoas
Na condição de justo vestido de injusto
No rosto uma máscara inventada por alguém
Arrochando ao peito a razão a muito custo

A poesia às vezes sabe-me a porcaria
As palavras a uma estúpida melodia
As convicções a um negro céu em ironia
E tu a uma farsa que me pareceu magia

Quando digo tu, falo de mim, para mim
Nada de confusões nesta indigestão poética
Hoje a musica sabe a desafinanço enlouquecido
Gerado numa alma patética

Pois é, palhaço ou profeta
Escolha lá se faz favor meu senhor
Umas vezes sou o génio cá da rua
Outras um perfeito estupor

Um anátema preso num baú
Um actor mudo que chora de si
Uma comédia de enganos menor
Um ir, voltar, o longe, o aqui

Conheço todos os verdes da ilha
O lado escuro da maravilha
Uma saudade que se perdeu com a idade
Uma aurora que morreu de velha

Conheço também uma história engraçada
De um homem que durante toda a vida não disse nada
Quando morreu não soube onde era o céu
Ficou na ilha como alma penada

De penas pois se vestem certas almas
Uma verdadeiras, outras um logro
Dormitei para aí cerca de um minuto
E acordei nesta…Maré de Fogo…

domingo, 8 de janeiro de 2012

O NOME DA ROSA


O relógio marca o tempo que passou
Suas engrenagens são rodas de magia
Um alquimista tenta enganar o tempo
Um profeta arrocha no peito a nostalgia

Sonhei com uma criança de mão estendida
Vi em seus olhos mais falta de amor do que de pão
No acordar procurei desvendar esse sonho
Não consegui, talvez algo guardado no coração…

…Este coração
Esta força que há em mim guardada em meu peito
Esta chama incandescente
Este desajeitado ser imperfeito

Este homem que olha o amor envolto em bondade
Este fazedor de tempestades de saudade
Este caminhante sem cavalo ou espada
Esta espera pintada de serenidade

Esta maçã presa na garganta
A procura do pecado pela absolvição
Este mar negro sem fundo de esperança
Esta maré que renova a paixão

A maresia continua bonita na tempestade
Sinto que um dia voarei feito vento
Ainda sinto na mão a frieza dos brandais
Ainda sinto que no tempo farei tanto mais

Farei das palavras um universo de vida
Farei tocar todos os sinos da terra
Cavalgarei estrelas e aportarei planetas
Serei paladino em santa guerra

Vou mudar o curso do relógio
Retroceder até uma pequena e humilde casa
Ouvir uma meiga voz dizer, meu armando, meu amor
E lembrar por fim…Do Nome da Rosa

domingo, 1 de janeiro de 2012

A TORRE DOS DESEJOS


O Mar não parou no troar dos foguetes
O céu ficou mais pobre com a subida da falsa luz
Um anjo acordou de um sonho divino
Na terra um olhar falso encena o seduz

Nunca acaba o amor impossível
Dura uma eternidade
Reverbera em todas as constelações
E viaja num barco com asas de nome saudade

Nunca acaba a chegada de uma nova onda
O vento volta sempre a este lugar
Uma vela bruxuleia iluminando o caminho da fé
Um coração soletra baixinho o verbo amar

Quando cai uma estrela a Lua esmorece
O morrer de um dia é prenúncio de nova aurora
O atravessar de um caminho fugindo à ternura
É um ficar na página de um livro de mágica história

Não há magia na crueldade de umas mãos
Nunca encontrei verdades num caminho de soltas pedras
Nunca naveguei no estuário de uma lagoa
Nunca esculpi a palavra nestas areias negras

Sou um insano sonhador de profecias patetas
Paladino do amor, força e fraqueza anel ante
Mensageiro que guarda a mensagem ao descrédito
Homem, arcanjo ou necromante

Sei lá!
Eu que tudo sei e invento o não saber
Eu que solto todos os dias a alma ao colo da brisa
Eu que percorro o “Cosmos” sem ter de correr

Eu que partilhei o sopro da vida com algumas almas
Recebi na viagem, verdadeiros e falsos beijos
Ergui com palavras de suprema melodia uma construção
E aprisionei a alma…Na Torre dos Desejos…