sexta-feira, 26 de agosto de 2016

RESPONSÁVEL PELA SUA EXISTÊNCIA


Este é um poema para um silêncio vindo de dentro
Apertando o instinto crispado
Há quem largue socos quando apenas lhe quero sorrir
Há quem ame e nunca queira partir

Quantas são as folhas viscosas
Apertando a garganta seca
Na ilha as casas de pedra aconchegam-se ás nuvens de algodão
Aqui reza-se quando aperta o coração

A revolta do mar
A submissa pedra
Há quem me sorri com um sorriso louco
Há quem do amor sabe tão pouco

Tens espelhos dentro das pálpebras fechadas
Deixando escapar rios de sal
Tens no coração uma dúvida medonha
Tens no teu rosto uma sombra tristonha

A fúria molhada
Levando a testa às mãos numa caricia sem sede
Pensando no amor e em Deus
Este jovem arauto passa e morre pelos pecados seus

Refulgem dentes de criança
Encolhidas nas árvores verdes sem sede
Comungando o amor com voz calada
Sabes?! “Uma mulher imensa dentro de um homem nunca se apaga”

Afastei o ódio que alimenta o homem
Montei um choro , como se de uma peça de teatro se tratasse
Quando se fecham os olhos, quando se ama a flor, a mulher ou qualquer coisa
Um choro é angustia que se esconde, nunca sabemos onde

Não me perguntem porque amo
Amar é o nascer do átomo do nosso sofrimento
É o acender da luz das nossas palavras
É a vida a fazer sentido num só momento

És tu...
Sentada no tempo
Cuidadora do azul do mar
Irreverente abelha de doce momento

Avançarei nas valas frágeis da palavra
Beijando o papel branco

terça-feira, 23 de agosto de 2016

A CIDADE DOS ANJOS


Este destino
Acompanha-me com um olhar fremente
Neste desafio de azul rasgando o verde
Entre palavras gritantes de um olhar doce

Este amor
É fulgor dos hinos por cima das bandeiras
Tal como o amar límpido das aves
Na voraz caminhada dos sóis e dos gentios

Na branca imensidão da página inteira
O verso extenso escondido no horizonte
És como a Hóstia Consagrada ao verbo feito altar
“Estende-me uma ponte, ensina-me como te amar”

Estás em mim
“Quando as hortênsias trazem lembranças mais solenes”
No condescender de uma visão romântica
Sem que o paraíso acorde numa formula quântica

Tenho uma casa com o mar na frente
Tenho um jardim de flores sem futuro
Tenho uma vontade tamanha
De derrubar a sombra deste muro

100 anos de solidão...
Sem ti!
100 sombras soltas de ramagens absurdas
Na saudade 100 vezes morri

Há em mim uma rosa coberta de manhãs
Plantada num canteiro infinito
Há um lugar onde mulheres congeminam feitiços
Há no meu peito um surdo grito...

...A chamar o teu nome
Entre os arbustos as flores esperando um dia
Um sorriso breve, teu rosto claro de mulher
Um amanhã no que Deus quiser

Na penumbra dos quotidianos aflitos e possessivos
Sonho no meio de gigantes plantados em espaços
Na espera que me ames para além dos sonhos
Habitas em mim nesta...CIDADE DOS ANJOS...

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

O OUTRO LADO DO AMOR



A força da palavra
Quando nasce no coração de um poeta livre
É como se o céu abrisse ali as suas portas
Por cada fração de segundo como se não houvesse

Talvez devesse chamar a este poema
“Crónica de um náufrago adormecido”
Talvez seja apenas um tocador de búzio
Nas ondas do teu cabelo, perdido

Não passo de um animal acossado
Vagueando nas plateias sem luz
A paixão vestindo o desejo de afeto
Um pobre e triste tonto de passo incerto

Não passo de um pássaro ferido
Esperando que não se faça dia
Uma pétala de rosa sem destino
A sombra de um errante menino

Na espuma inquieta do mar
Neste meu eterno naufragar
Serei o pânico no aproximar
O retrato perverso da dor

É isso...
Meus senhores, senhoras
Fujam deste abismo de rubro sangue
Vão! Não fiquem, não demorem, esqueçam as horas

Uma sombra no chão jazendo numa cruz
Este pássaro inesperado mordendo o tempo
Fujam da frente!!!
Vem passando o rosto enganador do pecado

Meu Deus...
Fica tão longe o lugar onde me querem bem
Ficam tão perto
As escadarias de nevoeiro

Os caminhos que descansam sobre a terra
Conhecem as dores da caminhada
Os infelizes que às vezes adormecem
Os cegos de voz calada

Queria tanto que meu coração
Fechasse a porta da recordação
No seu lugar um singela flor
Este habitante do... OUTRO LADO DO AMOR...

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

SOMBRAS NOS TEUS OLHOS


Espalho sem rosto todas a mágoas
Esta manhã de sabres de fogo
Perdi-me de ti no campo da memória
De repente é noite nesta doce história

Ah como é fria e gelada a morte continua
Talvez este poeta seja apenas
Um vagabundo bebendo a vida no canto da rua
Talvez a minha seja uma puta de alma nua

A chama das palavras
As promessas da treta vestidas de peta
Uma palavra que se recolhe amarga
Uma lareira apagada, os dentes que caem por nada

Obrigado, não tem de quê
Ofereço o amor ou deito fora
Rasgo, queimo, ignoro
A fome
A loucura
Um buraco no peito da poesia
Uma alma fria
Laranja amarga
O artista navalhado
O sangue sem cor
Um mar sem sal
Uma mãos em construção
Já não bate o coração
Deixem lá o poeta chorar
Não o oiçam
Ele nem sabe fazer tal coisa
Tem apenas o coração surdo
A dor da voz imensa
O eco das palavras
E se fosse inverno...

Este corpo gelado fazedor de tempestades
Já me mataram os sonhos com veneno
Por acaso chegou o outono de repente
Já me mataram o amor ao murro

Um frio de abismos sem principio
Uma gaivota repentina
As hortências que morrem aos molhos
A...SOMBRAS NOS TEUS OLHOS...

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

O CAMPO DOS SONHOS


Um fio invisível, a eternidade agora
Este meu infinito constantemente renovado
Uma noite que beija o dia em sussurro
Esta minha vida com o tempo indeterminado

Quando um raio de sol nos faz abrir os olhos
Vem, não prometo nada, um milagre
Às vezes é preciso negociar o amor
Vou substituir o tempo pela intemporalidade

O tempo...
As respostas da alma
O convite permanece aberto
Este amar arde em doce chama

O que darás
Quando o amor bater à tua porta?
A plenitude da vida, um sorriso
O vinho doce dos dias de Outono

A minha música não te faz sorrir?
Temos tão pouco tempo
Ensina-me o que quiseres ensinar
Ensina-me como te amar

Plantarei esperanças
Dir-te-ei sempre a verdade
O caminho da sabedoria é perseguir o Eu
O caminho da ignorância é perseguir apenas o prazer

Sabes, o Eu é a luz da imortalidade
Brilha eternamente
Tal como o teu sorriso
Na minha alma presente

“Acredito que o que se escolhe hoje
Repercutir-se-á por mil amanhãs
Nunca serei um seguidor plácido sem voz
Nunca serei do destino um concorrente feroz”

Não te prometo ser um deus
Às vezes peço-Lhe a sua presença, o ver
No fervor de uma oração que dos céus desça
Ele recusou-se aparecer

Não temam o poeta não enlouqueceu
Apenas se vestiu de plantador de palavras
Plantei todas que pude no teu terno coração
Neste...CAMPO DOS SONHOS...