sexta-feira, 30 de setembro de 2011

A VIAGEM DA MINHA PAIXÃO


De velas paradas baloiça um barco
Amarras à ilha, preso ao nevoeiro
Nunca serei D.Genádio o arcebispo
Não sou descobridor, na chegada, primeiro

Afrontei os deuses do Olimpo
Conspirei com Athena, Hera e Apolo para destronar Zeus
Mas ele era rei dos deuses
E acabei enredado em sonhos meus

Sonhei com um rodopio macabro
Ouvi um silvo de ave rapina demolidor
Fui animal de uma criatura bela
Dei a alma e corpo ao desamor

Ouvi o som da maresia
Mesmo ao cair da noite
Um canto chamou por mim
Num rumo de boa ou má sorte

Mil archotes rasgaram o negrume da noite
Senti o som do mar bater no casco do meu barco
Cedi ao encanto do canto de uma sereia
E acabei trespassado pela seta de um arco

E sonhei que era trovador e cantei
Porque entras na minha alma e soltas este fervor
O que tens para me dizer
Diz ao sonho por favor

…E parti para o alto mar numa manhã submersa de neblinas
Ficaste tu na ilha nesta manhã de luz fria
Na lonjura vi um desenho de cruel ironia
E um deus do mar que de mim ria

A noite terminou abruptamente no dia
Passei a mão nos olhos para soltar os sonhos de contradição
No meio deste oceano profundo e imenso
Em sonhos viajei…Na Viagem da Minha Paixão…

terça-feira, 27 de setembro de 2011

COM O LUAR NOS OLHOS


Os barcos levam nome de santos
Uma flor tristonha lembrou a Primavera
O silêncio mora no meio de um monte
As mulheres ficam sempre em cais de espera

As mulheres…
No jardim onde as maçãs são de ouro
Conheci três mulheres de encanto
Uma negra, uma vermelha, outra branca para meu espanto

Estava a brincar!
Nunca consegui conhecer realmente uma mulher
Nunca entendi o que lhes vai na alma quando sentem
E atiram isso a um coração qualquer

Não! Não era de nada disso que queria falar
Hoje deu-me para falar de coisas assim
Sei apenas que às vezes me olham sem ver
Sei que nem sempre o princípio é o caminho para o fim

Que fúria tem este Mar
A ilha acordou presa a uma tempestade medonha
Não há pássaros no céu deste degredo
Já nem vejo a lua triste ou risonha

Rios correm de encontro à terra

Rasgando esta feiticeira bruma
Não há trégua nos vales da ilha
As vagas vieram coroadas de negra espuma

Não há ninho que sustente o canto de pássaro
Não há santo que nos valha na oração
Não há contas para provar tanta fé
Já não há calor neste pobre coração

E quero adormecer no abandono do dia
Quero sentir o aroma da lenha aos molhos
Aquecer a alma com a verdadeira esperança
E sonhar…Com o Luar nos Teus Olhos…

sábado, 24 de setembro de 2011

A TORRE DOS SONHADORES


Perdi as palavras que escrevi à momentos
Levou-as um sortilégio solto da noite escura
Sentei-me numa pedra de negro basalto
Fechei os olhos e tentei lembrar a cor da ternura

Nunca a escuridão me encontrou
Nunca tomei como certo o encontro com a verdade
Espinhos, punhal afiado, lágrimas
Uma flor morreu num campo de saudade

Atirei sementes ao Mar revolto
Zombou de mim uma Gaivota que passou
A espuma ficou negra e perdeu-se na areia
Fiquei mudo e triste, ainda estou

Entrei no Mar na procura do silêncio
Deixei-me levar por uma onda breve e fria
Vi criaturas passarem docemente
Uma parou, pareceu que ria…

…De mim
Triste e patético poeta louco
Rasguei as mãos na procura de uma estrela do Mar
Ceguei no sal e senti-me tão pouco

Sai deste mar de frio abraço
Sequei as minhas penas ao vento
Galguei os restos da fúria de um vulcão
E senti o Mundo parar por um momento

Um vertigem tomou-me a razão
Cerrei os olhos e vi tanta coisa que não via
Vi, paixão imensa, amor em contradição
Vi sem ver e ao voltar a ver um pássaro ria…

…De mim…
Das palavras que disse e ninguém ouviu com o coração
Deste sentir que jorra como a fúria de um rio
Pedi a um anjo que me desse absolvição

Corri ao encontro de uma montanha aprisionada na bruma
Pelo caminho toquei de leve em todas as flores
Subi a um castelo erguido ao celeste
E de joelhos quedei-me na…Torre Dos Sonhadores…

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

A OUTRA FACE DO ESPELHO


O aparo risca a alvura do papel
Ausência da tinta esconde a palavra
Uma mão trémula pára na indecisão
Uma semente eclode no meio da lavra

O fogo e o vento unidos na desgraça
A chuva lava mágoas enraizadas no tempo
Este espelho de água reflecte uma máscara trocista
Que muda num sorriso em dado momento

Na noite tudo se perde
A esperança, o desvario
Sonhei que o choro de uma criança
Tem mais força do que a fúria de um rio

E este aparo não pára de arranhar o papel
O beijo da tinta estará ausente, a palavra não
A palavra solta, é grito da alma, choro de coração
Amarrotei mil folhas em loucura, na indecisão

A neblina beijou a ilha na madrugada
Cobriu as pedras em manto de água fria
Ainda tenho o som das andorinhas do Mar no peito
Ainda tenho nele tanta alegria

Tenho uma fé feito de mil cores
Uma paleta onde misturo as emoções
Este pincel deixa tanta marca vibrante
E um mundo imenso de contradições

Pinto rostos, o céu, a saudade
Pinto mentiras, corações sem chama e verdades
Pinto o Mundo muito à minha maneira
E um barco carregado de puras saudades

E apago o olhar para ver melhor
Para sentir o dizer de um amarrotado papel velho
O que vejo está muito para lá de sentir
Nesta…Outra face do Espelho…

domingo, 11 de setembro de 2011

ORAR, CAMINHAR, AMAR


A transparência das águas inunda-me o olhar
Os Anjos já não moram nas nuvens altaneiras
Conheci Deus no meio de uma oração
Vi gente sem alma, sem coração, sem maneiras

Conheci uma gaivota azul
Falou-me de mares distantes do Adamastor
Disse-me que o ódio é pequenez da alma
Que há gente despida de amor

Caminhei num tapete de buganvílias caídas
Apanhei uma folha de papel numa toada de vento
Tinha escrito a negra tinta uma traição
Gerada do coração de um monstro sempre atento

Quantas pedras compõem um abrigo?
A talha de um altar é feita sem defeito
A luz da Lua é feitiço incontrolável
O sortilégio sempre morou em meu peito…

…E esta força sem limite
Velas, brandais, leme com rumo a Norte
A estupidez é planta sem flor
Não há tormenta que não acabe em sorte

Nesta terra linda e verde
As pedras guardam mil e um segredos
Um arpão rasga o ar na procura do mal
Um traidor veste um fato de mil medos

As águas lavarão a lama do caminho
O vento alisará as pegadas na areia do Mar
O tempo ficará suspenso por um momento
Para eu…Orar, Caminhar, Amar…

domingo, 4 de setembro de 2011

FLOR OCULTA


Algures existe um lago de águas dormentes
Uma montanha silenciosa
Uma árvore sem-abrigo para os pássaros
Um dama que julga ser formosa

Algures entre o céu e esta ilha
Há um sítio onde se enterra o lamento
No alto de uma verde cumeeira
Onde nem se atreve a ir o vento

Podemos fazer o tudo com as lembranças
Transformar a o amor em dor
Pintar das mais belas cores a ternura
Fazer desaparecer do coração o desamor

Haverá um Paraíso onde aconteça o encontro
Das perdidas almas tocadas pela tristeza
Haverá um Mar vestido de bonança
Onde o canto da sereia seja uma ode à beleza?

Oiço as notas de um piano oculto
Dançam as folhas no ondular do vento norte
Um par de amantes tatua um coração no barro
Para ver se o destino lhes reserva a sorte

Plana um papagaio de papel no celeste
Solta gargalhada de miúdo feliz
As cores do arco-íris inundam o olhar
Um amor é querer do sempre quis

Recolhi do rosto um aguaceiro de verão
Lavei as mágoas que não cabiam na alma
Adormeci no marulhar de vagas
E sonhei que a paixão é eterna chama

Afastei o pensamento envolto em mágoa
Com a nova aurora a minha alma exulta
Prendi o olhar ao fim do verde
Pareceu-me ver uma…Flor Oculta…