domingo, 28 de fevereiro de 2010

ALIANÇA


O Mundo não pára
O tempo corre em louca vertigem
O sortilégio da luz inunda o dia
A água corre na sua eterna viagem

Saberás que o encantamento
Que um olhar de amor liberta todas as mágoas
Saberás que a plenitude é miragem difusa
No espelho de água de sete Lagoas

Folhas de mandrágora colhidas ao coração da noite
Feitiço feito de mil quereres depositados no sonho verdadeiro
Coração de Arlequim, lágrima presa ao canto do olho
A paixão maior nasce sempre do amor primeiro

A primeira vez, a primeira dor
A primeira ida, a chegada primeira
Uma tempestade assola as casas do sul
Um coração decide calar-se em batida derradeira

Um arco-íris aponta a morada dos seres feitos de água
Os jardineiros da terra suspiram de pena
Uma gaivota soltou as penas, cancelou o voo
Que actor sou, deixei muda e esta sentida cena?

Soluços de gotas caídas do alto
Estão mudas as estrelas, o vento parou um momento
As pedras da ilha estão brancas de maresia
Uma mulher abre a alma e solta um lamento

Ou será um chamamento?
Esta constante procura do sitio da paixão
Esta flor de sal doce de travo triste
Esta falta de ti envolta em solidão

Caminhante, caminheiro, assombração
Poeta rimando o passar das horas
O errante perfume das rosas toldou-me o pensamento
Porque ris de mim, porque ris com riso e por dentro choras?

Palavras, escrevo tantas
Que fervor é este meu Deus
Porque me enlouquece a alma às vezes
Porque sinto o mundo pintado de pecados meus?

Talvez por te ter e não ter
Talvez seja apenas um ser de esperança
Talvez lá bem fundo perdida no tempo
Ainda floresça uma...Aliança...

domingo, 21 de fevereiro de 2010

PERDIDAMENTE


Um aroma selvagem inundou a manhã
São de fogo as auroras de Abril
Uma nuvem adormeceu no celeste
Um bando de pardais soltam trinados mil

Um relógio canta os quartos
Uma flor acolhe a irreverência da abelha feliz
O feitiço da luz envolve o verde
Que acolhe os pés descalços de um petiz

Apetece-me pintar a musica
Que me afaga a alma, desperta os sentidos
Apetece-me pintar-te o sorriso
Unir-te aos meus anseios antigos

Uma tela, universo ávido de um deus
Será o pintor o criador da cor do dia?
Um salteador das sombras da noite?
Ou apenas um semeador da nostalgia

Vibrantes pinceladas tomam de assalto o branco
Alvas são as partidas para a pureza dos sonhos
A paixão nasce sempre do lado esquerdo do sentir
O amor também abraça os seres bisonhos

Que ser é este que abre os braços ao vento?
Voa sobre o mar na procura de perdida ilha
Vê em cada criatura a esperança renovada
Uma estrela criada por deus que ainda brilha

Pedras brancas, negras são as noites sem Lua
As gaivotas são sentinelas de Neptuno o rei
São mensageiras da chegada tempestade
São anjos num reino em que a bondade é lei

Divagações deste louco poeta
Hoje não acerto com a história prima
A pena enlouqueceu não obedece à alma
Apenas se diverte cavalgando a rima

Esta era para ser uma história de amor
Uma tela de apaixonada paixão
Um arrebatador grito de exaltação
Uma viagem pelo sublime da sensação

Uma lagoa de marés vivas
Um fechar de olhos de forma dolente
Um dizer-te simplesmente
Que te sinto...Perdidamente...

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

O MUNDO AO CONTRÁRIO


Chove no Mundo
O céu envolveu o verde com seu manto
Será que os Anjos andam a brincar com as nuvens
Ou é apenas um deus que verte seu pranto

Chove no Mar, água na água
A maresia ostenta um diadéma de sal azul
Uma bruma envolve o meu querer
Há um pronúncio de saudade vinda do sul

O caminhante não tem medo da chuva
A loucura não teme a razão
O ódio é tão parecido com o amor
A palavra amar mora na casa da paixão

Mas...
O estranho tomou-me de assalto
A noite tomou conta do dia
A lua e o Sol enlouqueceram no alto

Atirei a mão na procura do gesto
As Estrelas decidiram morar no Mar
Um anjo descobriu o caminho secreto dos pássaros
O mesmo que levei sete dias para encontrar

Sete são as maravilhas
Sete são os sortilégios encontrados
Sete serão os teus anseios perdidos
Sete são as cidades dos mal-amados

Lagos de fogo e luz
Um golfinho tocador de bandolim
Uma baleia branca a rodopiar no areal
Um cavalo marinho a galope no princípio, zombando do fim

Um homem branco vestido de branco
Um homem negro com desgosto de ser preto
Uma mulher a fazer de conta que o amor é bom
Um homem que não se importa porque lhe dá jeito

E solta-se o desatino
O gozo fugiu de um corpo faminto
Boca que deixa fugir um pedaço de dor
O tempo para por um momento

A quietude invadiu a alma deste pobre poeta
Na passagem beijei a mão a um Vigário
Acordei em sobressalto com amargo gosto na alma
Sonhei que...O Mundo Estava ao Contrário...

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

METADES


Chove bem no meio do mar
São de fogo as manhãs na ilha
A seda púrpura é lençol de amantes
Os olhos roubam a virtude à maravilha

Enchi a taça com absinto
Ergui o braço, toquei uma nuvem carmim
Ensaiei um passo de dança
Senti que os pássaros riam de mim

Senti o resto da geada em descalços pés
Calei minha viola de dois corações
Deixei entrar no peito o tamborilar de perdidas gotas
Senti o sabor sal das minhas emoções

Andei, caminhei sem parar no acaso
Esventrei a terra na procura da semente do amor
No barro apenas encontrei mil dúvidas
E num gesto de mão enterrei minha dor

Fiz do meu querer caminhante
Cantarolei melodias sem notas
Inventei os sons por inventar
Senti a liberdade de mil raivas soltas

De tanto andar fui parar à beira-mar
É assim quando o passo não tem destino
Dei por mim a mirar-me numa poça de água
E vi de novo meu rosto de menino

Vi a vida rodar em carrocel
Vi meus sentimentos voarem em corcel azul
Vi tanto rosto terno de vidas perdidas
Uma nuvem acabou com meu ver, vinda do sul

Senti a fria doçura da espuma afagar-me o corpo
Deixei que uma gaivota me tocasse o ombro
Mergulhei no reino de Neptuno com destemor
Uma sereia cantou-me uma canção de assombro

Fui no embalo das eternas vagas
No infinito procurei e encontrei a baía dos meus medos
Um cáis de espera esperava a minha chegada
Não tinha mala, no coração trazia apenas os meus segredos

Sentei-me no meio desta aventura inventada
Percorri com os olhos da alma um jardim de verdades
Descobri finalmente que a palavra amor
Só floresce se semeada em...Metades...