terça-feira, 23 de novembro de 2010

AS FILHAS DE NINGUÉM


Hoje olhei o Mar sem o ver
Defendi o sentimento sem cavalo e espada
Hoje falei da verdade das coisas mais uma vez
Olhei sobre as rochas estas águas e não vi nada

Deambulei pelas ruas que encontrei
Contei as pedras de sete metros de calçada
Recolhi um trevo de quatro folhas
Que me chamou atenção na relva molhada

Na viagem do norte vi Santa Maria
Uma lembrança invadiu-me o pensar
Na fronteira entre duas verdades
Há sempre uma mentira que anuncia o chegar

Hoje pensei na loucura das pessoas
Numa criança que pede a ternura e um naco de pão
Na fome de um abraço sem rosto
Na ignorância largada ao meio do chão

Imaginei o que será viver na ausência da razão
Na procura do norte sem Sol e estrelas
Porque é que Deus se distrai às vezes
Porque teima em não querer vê-las?

Porque sinto, sentindo desta maneira
Amarro este contido grito
Porque arroxo esta força que me trespassa
Porque oiço sem palavras um murmúrio aflito

Murmuraste-me as palavras que sei de cor
Ó Anjo de asas de penas penadas
Disseste-me que este Mundo não é bom sitio para morar
Que há almas mal-amadas

Que a justiça é mulher da má-vida
Que os homens não crescem sem virtude
Que às vezes as ribeiras correm ao contrário
Que o querer nem sempre rima com verdade

“Que “puta-de-vida-esta”!
Foi o que me assaltou às palavras
Às vezes o absurdo mora na casa do lado
Quando ouvi uma história feita apenas de mágoas

Às vezes a Lua não aparece de vergonha
Às vezes não olhamos os outros como convém
Às vezes a aurora destapa o manto da noite
E solta no Mundo...As Filhas de Ninguém...

sábado, 13 de novembro de 2010

PRANTO DE AMOR


Recolho do mundo o sentimento
Gerado por um coração sincero
Acolhi em minha alma um soluço
Em cais de espera há uma vontade de espero

Só, um coração bate sentido
Uma boca pede o beijo em contradição
O abraço fica suspenso no pesar
Uma mesa fica vazia do aroma de pão

Percorri todos os caminhos que me encontraram
Pisei os presente doirados deste Inverno
Subi a um céu para procurar um anjo
Tortuosa viajem que desemboca em inferno

Mar, montanhas, buganvílias rubras
Chuva que inunda e afoga o grito
Na procura da verdade
A palavra não sai, apenas um murmúrio aflito

Derramei as tintas numa fria pedra
Parti estes pincéis enlouquecidos
Juntei sete desejos e sete cores
E libertei das amarras todos os sentidos

Soltei a fúria que guardava no peito
Olhei o nada na procura de coisa alguma
Clamei pela paz neste dia de cinzas escuros
E gravei numa alma uma chama, mais uma

Um violino escorreu pelos meus ouvidos
As notas envolveram-me em lembrança
Os tempos retornaram do esquecimento
Alguns tocaram-me a alma em em golpe de lança

Quantos dias têm dois anos
Quantas noites têm a companhia da Lua
Quantas casas têm o o amor aprisionado
Porque não fazes o mesmo com a tua?

Quantas dores pode um coração conter
Será que a saudade só nasce na distância
Serei um Arlequim sem graça, patético
Ou um pedinte na rua da esperança?

Tudo isso vi reflectido
Num rosto de rara beleza cheio de dor
Soltou-se um irreal azul sal
Em puro...Pranto de Amor...

domingo, 7 de novembro de 2010

O DONO DOS CÉUS


O choro de uma criança
Voou numa toada de vento
O silêncio tomou conta do mundo
O querer pode ser um doce momento

A manhã veio envolta em errantes aromas
A terra fria e prenhe gerou mais uma flor
A noite perdeu-se em escuros abismos
Sonhei com um anjo sorrindo em resplendor

Sonhei com Querubins zombeteiros
Com um Arcanjo em eterna luta com o mal
Sonhei que a chuva era o pranto dos deuses
Sonhei que o amor tem um caminho fatal

Descobri que as nuvens são carruagem de água
Que os anjos afinam as harpas de madrugada
Que as gaivotas em terra são pronúncio de borrasca
Que a razão de um justo não vale quase nada

Que falar ao nada pode ser loucura
O amor sincero tem a cor da ternura
Um alegre ribeiro tem um cantar diferente
Quando em seu ventre corre a água mais pura

Mergulhei as mãos na macieza da leiva
Lavei meu rosto na singeleza das águas
Meus olhos soltaram um mudo chamamento
Soltei dos braços antigas mágoas

Ao compasso de um tambor
Marchei ao encontro de uma demanda eterna
Não fui cavaleiro, não encontrei uma montada
Não levei espada, escudo, nada

De peito aberto percorri todos os caminhos
Inventei lutas, cidades perdidas, um moinho de velas
Levou-me o vento as melhores estratégias
Era o meu plano de luta, fiquei sem elas

Fiquei nu no meio do nada
O frio e calor lutaram por me ver sofrer
Calei as cordas desta viola inventada
Cerrei os olhos para melhor ver...

...Quem era eu nesta patética vida
O que fazia nesta terra de sete véus
Autorguei-me o rei do país das mil e uma ilusões
Serei pois...O Dono dos Céus...