
Este sol que vence o nevoeiro
Recolhe as gotas do sereno da manhã
Este grito que se perdeu na noite
Transformou-se em palavra vã
Aromas errantes soltos no ar
Esta terra molhada tem a promessa de pão
As uvas são amargas em Julho
O Setembro é pintado da cor do coração
As palavras nem sempre são bem ditas
Nem sempre vindas do profundo da alma
Umas caem por terra estéreis
Outras envolvem o sentir da calma
Julguei ser a ilha um navio à deriva
Sem velas, sem vento nos brandais
Julguei-me numa viagem perpétua
Inventei um grande e colorido cais
Que roubei às asas de uma brisa brincalhona
Tracei as formas que me ditaram a vontade
Não saiu à primeira, talvez aí por volta da nona
Pois é, a loucura tem um fraquinho por mim
Entra e sai a seu belo prazer
Às vezes penso ser gerada por um irado deus
Que faz tudo para me roubar o ver
Vi!
Estou sempre a ver coisas estranhas
Estou sempre a sentir à minha volta
Uma roda de dores tamanhas
Estou sempre na mira do pensamento incomum
Estou sempre tão cheio de comoventes verdades
Estou sempre a chorar o lado escuro do mundo
Estou sempre na procura de um partir sem saudades
E parto no embalo do fim do dia
Não levo bagagem para o viver dos sonhos
Levo apenas esta força imensa
Que ofusca até os seres bisonhos
São tantos os caminhos que percorro
Neste infinito mágico há algo que senti
O deslumbramento preso a um sorriso
Gerado no...Feitiço que há em Ti...