
Este espesso tapete que cobre a ilha
Arrocha-me a alma, em sobressalto
É pronúncio de mil calamidades
Um negro manto plantado a alto
Sopro no vazio da incerteza
Esta calmaria orvalhada parada no tempo
Esta ansiedade sem ordem para ser ansiada
Este medo inquietante neste momento
Lancei meu grito no vale dos milhafres
Toquei meu tambor de toque que some
Vesti as vestes berrantes de espantalho
Para limpar do céu este negrume
Como pode haver amor no ar?
Como podem as flores vestirem-se de cores?
Como podem ser felizes os pássaros?
Como pode a vida ganhar novos sabores…?
Se este céu nublado continuar assim
Se esta dorida dor continuar cravada em mim
Se este andar de rumo incerto cravado em meu caminhar
Um dia encontrará um princípio sem o fim?
Com estas malditas nuvens, duvido!
Hoje percorri a ilha toda na procura de uma réstia de luz
Onde pára o verde, aquele verde esperança
Onde param as hortênsias que me fazem feliz?
A fruta não medra sem sol
Meu pé de laranja lima esqueceu-se de florir
Um melro negro poisou no basalto negro
Zombou de mim e voou no partir
Invejei-lhe as asas
As penas que colhi na vida não têm cor
Será que o seu cantar na madrugada
É singelo chamamento para o amor
Mas como posso eu amar alguma coisa?
Moinhos de vento que sopram a norte
Velas de barco na dança de salgadas ondas
Redes lançadas na procura da sorte
Cavalos-marinhos, tempestades medonhas
Quantos dores perdidas na tua alma tens?
Todas geradas debaixo deste negro manto
Mesmo sobre a cabeça…Deste homem que embirra com as núvens…