
Areia foi aplanada pela maresia
A madrugada instaurou a claridade
Um barco parte para o mar-alto
Leva tatuada no casco a palavra saudade
Uma gaivota olha com olhar perdido
Perdidamente um golfinho salta no azul
Perdi à muito o rumo que me levava
Ao amor que habita um sitio no sul
O Mundo agita-se na costumeira loucura
Olhos vazios na procura do nada
Passos incertos em rumo por inventar
Uma criança que chora presa a mão dada
E o vento lá bem no alto
Varre as nuvens ao encontro do mar
Sopra adiante uma vontade inventada
Solta de um amante que procura o amar
E eu aqui no alto
Fiquei com vontade de ensaiar o voar
Um Milhafre olha-me zombeteiro
O melhor é deixar-me ficar
Fecho os olhos
Procuro o silêncio desejoso da alma
Mas este vento não pára, não se aquieta
Reacendeu no meu peito uma mortiça chama
Em labaredas soltou-se a lembrança
Os sonhos espreitaram envoltos em chamas
A paixão ganhou cor em seu esplendor
Soltei as dores, as mais tamanhas
Mas este vento enlouqueceu
Dançam as árvores em furioso passo
Agitam-se as águas adormecidas
Um pássaro vagueia num curto espaço
Tem feitiço este vento
Feiticeiro do vento, montado em corcel
Serei eu o culpado desta demanda
Ou apenas um boneco de amarrotado papel
Demiurgo de causa perdida
Com a alma emaranhada em mil talentos
Não, sou apenas uma aragem de passagem
Um dos...Herdeiros dos Sete Ventos...