
Solenemente uma árvore cede ao vento
O limite de um sonho é a palavra não
Os deuses habitam num castelo de nuvens
A mentira desbota a cor da paixão
As palavras que uma boca proferiu
As chuvas que caem na noite fria
As pedras que não erguem uma casa
A maldade impressa em alma que se esconde no dia
Uma figueira
Árvore que não dá flor
Chão estéril com pegadas nuas
Ò deusa do desamor
Ò veneno bebido de um trago
Absinto de gosto amargo
Braços que pedem a ternura pura
Barco que navega na ilha ao largo
E um passarinho canta alegremente
Uma donzela olha um amante docemente
Um corpo estremece de luxúria
Um anjo não é homem nem mulher certamente
Uma lagoa não é oceano
O céu nunca será limite meu
Já fui crente de muita palavra
Agora oiço-as com coração de ateu
Agora fiquei preso na palavra
Agora lembrei uma esquecida formosura
A distância percorrida por um anseio
Às vezes tem mil passos de amargura
Às vezes dou por mim a pensar
Porque há gente que vive o amor em contradição
Tudo isso me ocorreu agora num instante
Nunca saberei pintar…As Costas de Um Coração…