quarta-feira, 2 de julho de 2014

POEMA PARA UM AMANHECER


Quando uma mulher reza
Aí o silêncio é uma flor e chora
Enquanto tudo compõe a solidão
Fica o sorriso de um surdo, o encanto de um mudo

Ficam os passos suaves de uma criança
Ficam os ouvidos apagados
A língua presa à palavra maldita
A desdita dobrada no peito de Mãe aflita

Às vezes um homem bebe do cálice que embebeda o louco
Escorre este amargo absinto pela goela prenhe de secura
Às vezes subimos a colina da cidade desatenta
Às vezes a palavra é afago, outras chicote, crua e dura

Nesta alma persiste a alegria
Serei o primeiro demiurgo da tristeza vencida
Corpo solene ungido com a maresia
E lembro-me como sorrio às vezes, criatura que em Deus confia

Então poeta, isto é que é cuspir metáforas
Hoje quem te ler vai pensar que és o escritor maior
Um intelectual de mão cheia
Não! És apenas o filho pródigo de um deus menor

Podia ser um bom titulo para o poema
“Filho de um deus menor”, mas como pode ser!?
Se tens esta brilhante forma de pintar a saudade
Como pode ser menor alguém a quem tiraram a verdade?

E sigo embalado pelo âmago do universo
Conto as vagas de um mar inventado e são sete
É tão simples esmagar os dias na contradição
É tão estúpido a uma deusa de barro pedir perdão

É tão triste repartir a mesa com a falsidade
Saibam que esta água que circunda a ilha
Está sempre girando nos olhos em desdita
Passei à pouco numa estrada de céu azul, maravilha

Passei e fechei os portões da lembrança
O tempo pediu-me para te conhecer
Não sei bem e nunca saberei quem és
Uma pauta sem notas ou...Poema para um Amanhecer...

3 comentários:

Beatris disse...

Meravigliosa poesia simile a una preghiera!
Buona giornata da Beatris

Ana Bailune disse...

Achei maravilhoso.
Silêncio.

Tayná disse...

Lindas palavras... ^^