sexta-feira, 1 de julho de 2016

IMPROVÁVEL


Não me esqueças, lembra-te que te amo
Faltou-me tempo para celebrar os teus cabelos
Enquanto o Sol não sobe às colinas da ilha
Tu repetes a multiplicação das ondas

Já vacilei pelas ruas, pelas coisas
Já dormi em túneis habitados pela Lua
Tudo era alienavelmente alheio
E tudo ardeu no céu azul desta alma nua

O Mundo é dos outros e de ninguém
Os teus olhos no reino dos pássaros um altar
A ilha o poiso dos anjos
Devias ser a primeira palavra do verbo amar

Sabem?
Fui uma criança pobre
Tive fome, frio, dor
Sabem?! Já mendiguei amor

Sabem?
Já senti a navalha e o frio do chão
Tive medos, bateram-me, feriram-me o corpo
Sabem?! Já fui condenado pela mão de um mentiroso

Sabem?
Deixei de querer ser pessoa
Deixei de acreditar nos homens
Sabem?! Há homens que são merda, não coisa boa...

Também mulheres para que conste
Algumas, muitas, todas...
Não! Há mulheres anjo, estrelas doces, deusas
Há também no mar alforrecas

Há ribeiros tristes
Mulheres alegres vomitando maldade
Há um coração nobre que se ergue ferido
Nesta inventada cidade

Há um menino no inverno de uma janela
Nasci nu sabiam...?!
Pedi pão, enxotaram-me com gesto de mão
Já enchi de presentes muito duro e frio coração

Já me deram o papel de vil criminoso
Já me chamaram artista notável
Já fui pássaro de asa ferida
Derrotado é... IMPROVÁVEL...

1 comentário:

bea disse...

Muito bem! Tudo o que já foi - e ainda é, que ninguém perde o que foi - decerto o ajuda a não se sentir nem ser derrotado. Mas há quem o sinta. E não deixa de ser homem ou de viver. Os fracassos acontecem. Mais que nossos, são nós. Um mundo de vencedores não existe. A não ser, talvez, no imaginário dos poetas. Mas nem a vitória é igual para todos. Para Hegel, por exemplo, a vitória era do espírito e o escravo podia ser e fazer-se mais livre que o senhor. Gosto da afirmação, mas deixa-me sempre um bocadinho zangada com o filósofo.