
Hoje olhei o Mar sem o ver
Defendi o sentimento sem cavalo e espada
Hoje falei da verdade das coisas mais uma vez
Olhei sobre as rochas estas águas e não vi nada
Deambulei pelas ruas que encontrei
Contei as pedras de sete metros de calçada
Recolhi um trevo de quatro folhas
Que me chamou atenção na relva molhada
Na viagem do norte vi Santa Maria
Uma lembrança invadiu-me o pensar
Na fronteira entre duas verdades
Há sempre uma mentira que anuncia o chegar
Hoje pensei na loucura das pessoas
Numa criança que pede a ternura e um naco de pão
Na fome de um abraço sem rosto
Na ignorância largada ao meio do chão
Imaginei o que será viver na ausência da razão
Na procura do norte sem Sol e estrelas
Porque é que Deus se distrai às vezes
Porque teima em não querer vê-las?
Porque sinto, sentindo desta maneira
Amarro este contido grito
Porque arroxo esta força que me trespassa
Porque oiço sem palavras um murmúrio aflito
Murmuraste-me as palavras que sei de cor
Ó Anjo de asas de penas penadas
Disseste-me que este Mundo não é bom sitio para morar
Que há almas mal-amadas
Que a justiça é mulher da má-vida
Que os homens não crescem sem virtude
Que às vezes as ribeiras correm ao contrário
Que o querer nem sempre rima com verdade
“Que “puta-de-vida-esta”!
Foi o que me assaltou às palavras
Às vezes o absurdo mora na casa do lado
Quando ouvi uma história feita apenas de mágoas
Às vezes a Lua não aparece de vergonha
Às vezes não olhamos os outros como convém
Às vezes a aurora destapa o manto da noite
E solta no Mundo...As Filhas de Ninguém...