sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

INTERMITÊNCIAS

Caminho dentro da carcaça de um homem
Sou barro mal-parido, consciência cruel
Sou verdade e mentira em guerra eterna
Sou o doce do mel transformado em fel

- Mas quem és tu ó Poeta necromante?
Porque teimas em achar-te o maior da tua rua?
- Sou apenas um deserdado do amor
Sou ninguém que segue por uma estrada nua

- Ninguém!
Já me haviam dito que a tua presunção de mataria
Já se adivinhava que a tua estupidez desse à costa
Uma mesa sem pão, sem vinho, sem estar posta

- Cala-teeeeeeeeeeeeee!!!!!!!!!!!!!!!!
Consciência estúpida e vil
Tenho sede, tenho fome, tenho frio de raiva
Tenho na lembrança os filhos da puta que foram mil

- E tenho o dicionário da merda que diz
“Que filhos da puta é calão”
E tenho, penas tantas, que metem dó
Tenho a minha sombra perdida no meio do chão

- Quero lá saber da tua opinião
Sai da minha alma, deixa-me ser apenas humano meu cabrão
Deixem-me chorar sangue até à última gota
Quero ser excluído da absolvição

- Já quis tudo!
Já naveguei por desertos aos encontrões
Já caí na fundura de sete abismos
E lutei contra moinhos de vento em contradições

- Sei lá por onde andei
Não consigo arrancar da cabeça estas malditas consciências
Será este o rosto da vil loucura?
Ou apenas uma vida com…Intermitências…

domingo, 20 de janeiro de 2013

ENSAIO SOBRE A LOUCURA

Hoje acordei num mundo novo
Pensei ter deixado para trás os fazedores do ódio
Hoje senti a lembrança da pura ternura
Hoje senti que minha alma já não era tão dura

Ontem vi chorar uma pessoa
Estou cheio de lágrimas que não consigo verter
Hoje uma estranha calma tomou-me em torpor
Juro que tenho vontade de nunca te mais ver

Mas esta foi também uma noite alucinada
Onde o sonho foi como rajada de emoções
Acordei algumas vezes em total aflição
Já não usas o meu nome, é de pedra negra um coração

Foi sonho, um, dez, mil, um milhão
Pintei o rosto de negro, lavei as mãos à raiva
Prendi uma corda e enforquei a fraqueza
Ainda reverbera em minha alma a tua aspereza

Percorri o absurdo, quebrei os trincos da memória
Cozi as feridas de sete punhais
Fugi de todas as ruas que encontrei
Navegarei preso à verdade dos brandais

Puta da vida, árvore tombada para a morte
Desejo-vos um paraíso de ilusões, muita sorte
Um caminho repleto de dourados presentes
Desejo-vos que a tormenta seja pouco forte

Já não acredito em ninguém
Já não o quero fazer também
Já não plantarei mais as minhas bondades
Já não quero dar seja a quem for as minhas verdades

Pois que morra e se enterre o poeta bondoso
Que alguns chamam de mentiroso e sem formosura
Este escrito é um grande monte de trampa
É o rosto de uma amiga, um Ensaio sobre a Loucura…

sábado, 5 de janeiro de 2013

PINTOR

Quando de vi a primeira vez
Senti imediatamente que serias importante para mim
Quando me sorriste a primeira vez
Pensei que que o principio fugia ao fim

Enchi a alma de presentes
Falei todas as noites com gente tão minha em saudade
Que vive para lá desta cinzenta vida
Falei, ouvi, corri, desfaleci, perdi-me numa inventada cidade

Atropelei os pensamentos impuros
Chamei à vida a paixão que me resta
Mordi todas as raivas que plantaram em meu peito
Fechei os olhos e vi uma deusa em festa

Velei os mortos esquecidos num cais
Carreguei um fardo de gastas palavras
Gritei a um surdo de sorriso parvo
Afoguei em água benta as últimas mágoas

Afoguei-me no pranto de sete deusas
Fiquei sem pernas para correr no partir
Ouvi o impossível do acreditar
Chorei tanto que matei o rir

Este poeta perdeu a pena
Levei tempo para encontrar-me na poesia
Lavei, levei o sentimento do descrédito
Achei que as tuas palavras nada tinham de certo

Hoje pacifiquei-me com as cores
Hoje pintei de sol a sol
Hoje fiz uma oração de traço fino
E ouvi uma música em si bemol

Hoje vi uma nuvem transformar-se em aguaceiro
Vi uma árvore despida com uma breve flor
Vi todas as realidades presas à contradição
Hoje quis ser apenas …Pintor…