quinta-feira, 23 de julho de 2015

E A SOLIDÃO


Estive comigo em Paris quando morri
Quando atirei docemente um papagaio de papel-de-seda
Estive comigo quando morri
À porta da razão que o perverso fez mentira

Já dormi no cais dos vagabundos coberto de pesadelos
Acordei com as gaivotas gritando o meu nome
Olhei-me na lucidez de um espelho de água
E lavei com sal uma profunda mágoa

Lembro os dias felizes em que fui alguma coisa mais
Por isso vida:
Abre-me as janelas que me fechaste um dia
Vem, cobre-me de névoa e hortênsias sem nostalgia

Uma vez amei um anjo
Escutei nos seus cabelos as ondas
Do Mar ouvi os aplausos de um golfinho
Do alto de uma árvore o canto alegre de um pássaro preso ao ninho

Uma vez amei uma pessoa
Mas sabem, amar nem sempre é coisa boa
Uma vez abri a alma de par em par
Mas sabem, nem sempre as pessoas entendem o amar

Gostava de habitar o reino dos silêncios
Já tive vontade de ficar eternamente abraçado
Gostava de construir uma casa, habitar o tempo e sorrir
Gostava de afogar este pranto, este fado

Pranteei as minhas canções nas madrugadas
Sim é possível escutar as ondas de um coração triste
Sim é possível começar tudo e partir
Às vezes sorrio por saber que o amor nos outros não existe

Deixem lá estar o poeta
Cuspi letras nesta tempestade louca
Deixem lá estar, tenho dores apenas
Que importa, isso é tão coisa pouca

Vagueei na noite pela ilha na procura de nada
Tive mais uma luta feroz com este estranho coração
Vi e falei com todos os anjos que encontrei
Eu...E A Solidão...

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