sexta-feira, 11 de março de 2016

ANJO DE ÁGUA


- Onde vais? – perguntou a minha alma
sozinha num canto
- Vou onde me apetecer – disse o meu coração teimoso
- Tenho paixões para gastar, encontrar quem saiba amar

Noutros tempos diria:
Há sempre luz no início do gesto
Avançando nas valas frágeis
Após uma luta rápida com um doloroso momento

Enquanto o pensamento comia todas as distâncias
E Deus dava os braços à luz do dia
Inventei lutas, dourei sentimentos
Plantei filhos, cortei árvores, engoli a nostalgia

Deixem-me aqui...
Com presépios nos dedos
Deixem-me aqui sereno e pleno
Com dores, sem medos

Ouçam comigo esta voz da verde ilha
Este grito de ave que vem de dentro de mim
Como se fosse a última vez
Não impeçam esta correria louca de razão pouca

Deixem-me, aqui sonhar, só
Neste lago de água mansas e flores eternas
Compondo esta solidão, este silêncio, mil vezes silêncio
Na espera de um rosto, inventando o poema

Quero ir, para longe da minha distância
Comigo dentro de mim
Com uma grossa algema de palavras nos braços
Quero sentir que amar só tem principio, nunca fim

Já chorei numa muda sinfonia
Já senti que por amor morria
Já me vesti de nostalgia
Já mordi pedras e rezei ao fim do dia

Serão os nomes apenas diagramas de esperança
Saio dentro de mim e piso os falsos beijos
Nos gemidos dos sonho, pensando novas metáforas
Bato a todas as portas com a poesia nos olhos

Tudo isto, todas estas palavras
Apenas porque no céu deste dia pardacento
Vi uma forma nas nuvens que me afugentou a mágoa
Não sei se eras tu, ou um... ANJO DE ÁGUA...

3 comentários:

Penélope disse...

Há sempre luz no início do gesto
Avançando nas valas frágeis
Após uma luta rápida com um doloroso momento

Quero sempre acreditar nisso...
Voltando, depois de muito tempo afastada.
Se desejar venha visitar minha bnova casa!

bea disse...

O que será um anjo de água?! A gente fica a imaginar uma forma meio transparente...hummm...um dia destes tive assim uma visão branca mesmo a meu lado, era um substrato de nuvem com forma humana e começou a desaparecer mal concentrei o olhar. Não era um anjo de água, mas seria alguma coisa. Talvez a força do imaginário, mas era alguma coisa que não se explica, a retirar-se de manso.

Graça Pires disse...

"Anjo de Água", um belo poema.
Abraço.