sexta-feira, 11 de novembro de 2016

A COR PURPURA OU O POETA QUE ENSINOU UMA MULHER A VOAR


Nasceste ao mesmo tempo que o sol
No anunciar da voz mansinha da flor
E nasceu o sonho
A fonte da saudade, o amor

Tenho uma carta que nunca abri
Tenho uma paixão suspensa por ti
Sou um palhaço que nunca ri
Tenho guardado um sentimento que já senti

Por isso, vem apenas
Sem dor, sem penas
Como se não houvesse mais nada
Vem vestida da palavra na voz calada

Mas vem sem perguntares pelo amanhã
Pelos abismos que abrem fronteiras nos nossos corpos
Com a lucidez dos espelhos e a espuma inquieta do mar
Vem apenas com um sorriso de amar

Vem, docemente, como um papagaio de papel-de-seda
Em tardes de vento brando
Fala-me de fadas, de castelos, de gaivotas felizes
Como se fosse-mos apenas aves sobrevoando o mundo

Mas diz-me coisas sobre a verdade
Fala-me de ti, no amor, na vontade
Deixa-me morrer na tua lembrança
Existir na tua inventada cidade

Deixem-me ser levado pelo vento
Como se partisse para sempre
Numa manhã cinzenta com as gaivotas gritando
Nas tempestades desta ilha algures perdida no tempo

Fala-me de um mar
Onde alguma vez pudemos navegar
Como se voássemos no mesmo bater de asas
“Fala-me do significado da palavra amar”


Mas vem, como se partíssemos para sempre
Num novo dia ao encontro dos desencontrados
Num sonho de navios partindo numa viagem sem fim
“Vem com a alma sorrindo em olhos fechados”
Voarão anjos pelos cantos do salão pela minha mão
Vestirei uma capa de cor púrpura para te ver dançar
Serei pois o mais feliz dos homens
Ou apenas...O POETA QUE ENSINOU UMA MULHER A VOAR...

4 comentários:

luar perdido disse...

Abre essa carta que guardas, fielmente, junto das pétalas adormecidas da saudade. Perde o medo dos sentimentos já sentidos e abre as asas, de poeta, ao vento e ás brumas doces e salgadas que envolvem a ilha. Um poeta vive sempre nas cidades inventadas ou nas lembranças de alguém.
Mas tu sabes - "o significado da palavra amar" - tens gravado na alma e no coração. E deixa-te partir nas asas do sonho, nas penumbras ternas das madrugadas e nos voos plenos das gaivotas... Põe a tua capa purpura, sim. E, no salão da vida, descobre o sentido do voo de uma mulher a dançar....
Uma bela forma de lembrares "A gaivota e o gato que a ensinou a voar" (porquê esta história??Mais uma obra prima de um profeta das palavras. Adorei, como sempre tão teu!
Beijo de luar

LuísM Castanheira disse...

quem...
quem vem lá na tempestade do sonho?
um porto de abrigo te espera...
e o poeta aconchega as letras
num desejo cantado em hino.

Célia disse...

"...Deixem-me ser levado pelo vento
Como se partisse para sempre
Numa manhã cinzenta com as gaivotas gritando
Nas tempestades desta ilha algures perdida no tempo"...

Um belo poema com metáforas de quem vive o amor em plenitude!
Abraço.

Tété disse...

Mas será que podemos nesta vida usufruir realmente dessa profundidade?
Abençoados aqueles que o podem afirmar. Que esse estado perdure por muitos anos.
Abraços