quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

SUAVE VENENO


A voz que nasce nestas águas
Tenho nos dedos a sede do teu corpo
Tenho o teu riso recolhido ao meu olhar
Tenho no peito uma palavra que pulsa, amar

Este pescador de estrelas do mar
Domador de ventos
Este fazedor de sonhos impossíveis
Este construtor de ingénuos sentimentos

Como te apago do coração arroxado?
Sentimento amarrado ao ignavo arder do corpo
Um cíclame que cresce entre sombras
As falésias tangidas de um pecado já morto

Já fechei as portas da casa da memória
Abri janelas às anémonas da madrugada
Ensinei uma gaivota a voar
E descobri que é igual ao poder amar

E voei...
Feliz para as primeiras amoras
Senti os prodígios da terra
Jurei não ser guerreiro em santa guerra

Jurei...
Sobre o teu nome ausente da ilha
Na voz de uma menina voando sobre o orvalho dos frutos
Jurei ter visto em ti a saudade e a maravilha

Os fascínios do mar
O torpor da terra lavrada
A tua respiração
Um beijo na boca calada

No outro lado da luz
Um cheiro de solidão
Os paços leves de uma garça
O afago de Deus numa mão

Este imperturbável vento
Os cabelos soltos na sua claridade
Sabem lá o que sente este poeta
Sabem lá o que é amor e verdade

Na translúcida serenidade desta casa
Hoje apeteceu escrever mais cedo

Não sei se falei de amor, dor ou paixão
Ou derramei no papel um... SUAVE VENENO

2 comentários:

luar perdido disse...

Como pode o POETA amar calado? Amordaçado num suave veneno que tanto o mata, como mata o amor desejado - venerado. Fala poeta! Em altos brados, se assim tiver que ser. Canta aos quatro ventos o que te estoira no peito. Pinta, em cada hortênsia adormecida, as cores da aurora, os arroxeados purpúreos dos ocasos.
Mata a sede dos teus dedos, dos teus lábios, dos teus sonhos: só tu és senhor das águas e dos céus, para os removeres e veres: espelhado na lagoa o rosto (o corpo e alma) amado.

Poeta... não te deixes morrer: nem calar, nesse "amargo" e suave veneno. O amor merece ser "celebrivido".

Adorei! Como sempre: magistral, de uma doçura e nostálgica tristeza tocantes.

Beijo de luar

MEU DOCE AMOR disse...

Tudo foi derramado