sexta-feira, 26 de maio de 2017

TEMPLO SE SILENCIO

Um fogo brando, um céu que hás vezes é azul, outras negro como os pássaros de infeliz pena. A força da minha voz nunca se ouvirá para além deste rochedo. As valas e grotas nunca se fecharam para me deixarem passar. Por gaivotas, por maldições aqui o Mar rouba o som do bater dos corações e o corpo é apenas haste ou ramo de loureiro poupado ao vento e ao tempo, na sorte e misericórdia de Deus, se existe?! Às vezes penso que somos apenas pó e água moldados por mão perversa implorando um pedaço de pão, o fogo, a fome caminhando na palidez dos dias. Aramos a terra com as unhas em sangue, como quem arranca o trigo ceifando raivas. Como barcos náufragas. Soçobramos ao anoitecer, criamos epitáfios de dor, ao calor da fogueira contamos mil vezes a mesma lenda. Quando a tarde vem o medo da noite enche-nos de arrepios, de repugnância pela solidão que nos ocupa por dentro de um vazio triste. Olhos manietados junto às sombras indecifráveis passeando pelas paredes de pedra nua enquanto ventos estranhos rebentam com as memórias do que somos, com a fé, com as esperanças aprisionadas a esta frágil existência. Meu Deus, Deixai-me com meus filhos vagar pelas montanhas, pela lã das ovelhas, pela ventania “ “Deixai-me no meu grito, construir um Templo de Silêncio”

1 comentário:

luar perdido disse...

Num lugar sagrado não há maldições. Há dores de alma, há penar de coração magoado, há até lágrimas de sal e maresia. Jamais se diga que o "mar rouba o bater dos corações", ao contrário, Poeta, o mar bate ao ritmo deles, porque de marés, partidas e chegadas é feito cada coração. Conta, conta de novo! Que não se percam as lendas, as brumas, as lagoas e as gentes. Sabes, é de sonhos e trovas que vive a alma que ama, é de encantos e poesia que se alimenta um coração em fogo.
Vagueia pelas montanhas com teus filho no regaço, tece a lã das adocicadas ovelhas e bebe o orvalho em cada madrugada nesse "Templo de Silêncio" onde imperam os sons da vida....

Mais uma pérola da tua mestria.
Beijo de luar