sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

OS NOMES NÃO TÊM COR


Se uma estranha alucinação te assombrasse
Se como uma árvore te conquistasse junto ao teu lugar
Se nunca mais anoitecesse no reino das criptomérias
Talvez a luz do dia te inundasse com o amar

Persigo o brilho dos felizes sonhos ao amanhecer
Não é pecado sentir mais para além do amor
E de repente tombaram as paisagens sobre a Lagoa
E em breve instante recolhi do Inverno uma singela flor

Dei pequenos passos no sentido da Lua
Perdi-me nas fronteiras do teu divino corpo
Só tu e eu enlaçados em viagem perpétua
Este poeta do clube dos poetas mortos, fingindo-se morto

Pois, o poeta é um fingidor...
Suas palavras são papagaio de papel de seda a planar
No seu peito mora a lucidez dos espelhos
Em sua alma mora a espuma inquieta do Mar

Vem, ou deixa-me morrer com a tua lembrança
Deixa-me ser gaivota em manhã cinzenta de neblinas
Mas diz-me coisas sobre as tuas tardes de saudade
Diz-me sem dizer onde mora a tua verdade

Imagina-me no centro dos teus sonhos felizes
E se fosse-mos apenas aves sobrevoando todos os horizontes
Vem e sorri no canto possível do reencontro
Vem, como se partisses para sempre e me esquecesses nas tempestades

Veste este céu no teu corpo de fêmea
Sara teu corpo ferido por um amor com sede de infinito
Abre as janelas que fechaste um dia no desencontro
Deixa-te cair nua nas asas do vento e solta este abafado grito

Murmurante noite no encontro das madrugadas
Escuto nos teus cabelos as ondas do Mar
Como não consegui convencer nossos corpos a estarem eternamente abraçados
Sim, é possível escutar as ondas a passar

Há um lugar onde é possível construir uma casa
Habitar o tempo e cultivar o amor
Há um lugar onde se semeiam verdades e se acalmam tempestades
Onde só existe harmonia e...OS NOMES NÃO TÊM COR...

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

QUEBRARAM-ME O CORAÇÃO


No êxodo de um tempo escrevo
Num instante corre a vida em fio invisível
Cruzei todos os caminhos de solidão
Em frágeis tremores bate ainda meu coração

Em espanto contemplei a água retornando ao céu
Regressei de um tempo onde repousam as memórias
Tombam no orvalho frágeis sonhos
Serei herói ou vilão de sete histórias?!

Paladino do amor
Força de um Mar por descobrir
Os pássaros partem sempre ao fim da tarde
Uma alma que parte, leva o mundo a sorrir

Pergunto pelas Primaveras adormecidas
Pelos pregões nas madrugadas em flor
Pergunto por um Deus amigo
Pergunto se sigo o rumo ou estou perdido

São negros os húmidos olhos da triste memória
São de dor os sentimentos que a maldade gerou
São frias certas criaturas que Deus plantou no Mundo
Há gente que se cruzou com o amor e nunca amou

Semeei com o olhar ilusões
Naveguei por tempestades e contradições
E no rumor do mar me perdi e me encontrei
Fiz amor no sonho e escrevi na areia: “amei”

As rosas crescem embaladas pela brisa
Murmuram canções num imaculado nevoeiro
Há lugares que emanam sortes e orações
Há lugares onde moram infindáveis contradições

Dos trincos da memória recolhi lembranças felizes
Levitei sobre os verdes desta ilha
Tentei agarrar um arco íris fugidio
Atropelei um anjo que do céu descia

Perguntei-lhe se no celeste o amor era verdadeiro
Respondeu-me que sim, era a sua opinião
Disse-lhe que aqui nesta Terra dura e fria
Mil vezes...Quebraram-me o Coração...

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

ESTE MEU CORPO


Recolhi do Mar o teu corpo de Sol
Recolhi da Sombra o teu escondido amar
Recolhi dos teus lábios a doçura das uvas
Recolhi o teu abraço na partida do chegar

Este transbordante cálice no meu coração
Esta carne que planto no teu corpo de fêmea
Estas palavras tingidas de vibrante carmesim
Esta vendaval de saudade que há em mim

“Quando morrer, não chorem por mim”
Não haverá vazio pois plantei poesia
Quando morrer, devolvam o meu corpo ao Mar
Não digam rezas por um ser que se desencontrou do amar

Os sonhos e as mãos estenderam-se sobre a mesa
Onde havia pão floresceu a ilusão
Onde haviam facas, apareceu a oração
Onde havia vinho, derramou-se a paixão...

...Onde havia amor nasceu o monstro da contradição
Ora! Não devo amar as flores nem acariciar a melancolia
Neste fogo medonho, sussurra um chamamento
Nesta rua deserta das cores só oiço o lamento

Não me deixarei vencer pelas madrugadas sem luz
Não me irei perder nas cinzas da tarde
Não me lembro das cores da escuridão da alma
Não sinto a chama do teu coração que arde

Só o vazio ocupa o lugar de uma mulher amada
Só pede misericórdia ou consolo o pecador
Só ardem de gozo os homens minúsculos
Só quem é amor, sabe o que é o amor

Pescador de tempestades
Este homem bom correndo de olhos vendados
Este Anjo de asas de papel amarrotado
Este sonhador do vale dos condenados

Viram isto?!
O poeta escreve que mete medo, distraído ou absorto
Não chorem por ele quando morrer
Sorriam quando a terra beijar...Este Meu Corpo...

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

VOZ ERRANTE



Naufraguei nesta ilha de névoas
Acordei na areia em aurora de hortênsias de fogo
Bebi das águas de um primeiro Outono
Adormeci nas folhas carmesim de uma tarde sem fim

Encontrei uma deusa vestida de vento
Que me julgou com descrença
Prendeu meu coração, parou o Sol, fez-me chorar
E depois enxotou-me com frio olhar

Viajarei á inocência com ardência da alma
Regressarei da terra onde nunca estive
Como voa este olhar, como ama o coração
Na volta completa de um luar, deixei de ver a paixão

Retorno á crença no fio dos dias
Entre ruinas desenhei mil prantos
Quando toco este basalto negro
Quando lavro com as mãos esta terra de espantos

Ouvi sempre o rumor do Mar
Cresci entre pedras e melancolias
Construí emoções nas colinas do tempo
Engoli o pão e o sonho em tardes frias

Ouvi lendas, pintei memórias
É de verde e água o silêncio da ilha
Esperei ondas enviadas pela distancia
Senti pedras se erguendo, altar, palavra, alma cheia...vazia

No orvalhado aroma das conteiras
No crepitar dos sonhos vadios
Senti nos ombros a túnica imaculada de Deus
Lavei pecados nas crespas águas de sete rios

Tão perto do céu...
Como gaivota de palavras por penas
Sacudi do corpo o resto das dores de uma tarde
Corpo tranquilo, alma que arde

Acendi este lume, aqueci o querer
Pacifiquei meu coração de alma navegante
Contei pegadas das aves do Mar na areia
E lancei ao vento esta...Voz Errante...