quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

O TEU CORAÇÃO É A MINHA CASA


Escrevo para que oiças um pássaro
Mas as palavras ardem mudas
Escrevo para que oiças a canção do mar
Mas o teu coração fica mudo no meu chegar

Um azul vespertino enredado no verde
Um olhar dos anjos diurnos
Dispo-me frente às ultimas palavras
Ouvindo a respiração das estátuas

Entre mim e ti
Há o tinir de punhais
Há o Sol e a Lua
Há uma casinha de chocolate no fim da rua

Há um pássaro falador falando de amor
Há um jardim com sonhos plantados
Há uma cerca feita de nuvens felizes
Há uma pomba branca de penas e raízes

Entre o fogo e o abraço inapagável
Ouve o meu silêncio, esta lágrima de dezembro
Quando te lembrares de mim no rumor deste inverno
Saberás que o amor quando é amor, é eterno

Quero atravessar a ilha nos olhos de uma gaivota
Deixar-te no cabelo uma coroa de cintilações
Acenar-te com um lenço de água rente à nostalgia
Na cálida leveza de um olorento fulgor, prender o amor

Subir aos píncaros do poiso
Este pássaro conor
Com o amor todos os poderes renascem afinal
Tal como das pedras às vezes nasce uma flor

Já te senti
Como Mulher que se levanta de manhã antes de amar
Com um espanto de pétalas nos olhos de chuva
Com o canto das cigarras na boca húmida

Se ergueres nos mares castelos
Plantares flores nas lagoas
Se me quiseres de alma pura e nua
Se te abrir os braços no fim da rua

Todas as gerações do vento dançarão
Do céu descerá um lençol de luz espesso
As cigarras cantarão felizes
Neste jardim dos regressos

Então uma secreta mão pintará um doce murmúrio
Os ribeiros cantarão na cintilação da espuma
Numa distancia infinita saberás onde moro
...O TEU CORAÇÃO É A MINHA CASA...

2 comentários:

luar perdido disse...

Impossível não ouvir as canções que pintam a distancia entre o aí e o aqui.Impossível haver corações mudos à chegada! As gaivotas sabem de cor as espumas das lagoas, os odores das flores por abrir:em espera atenta e silenciosa, sabem o sabor do abraço feito lágrima de deserto Dezembro. E sabem que das pedras ainda renasce uma flor, ainda brilha um raio de sol e uma prateada lua vem espreitar, envergonhada e tímida: mas vem.
Atrevo-me a dizer - acena com um lenço de água verde e azul com laivos de nostalgia -, prende o amor na casinha de chocolate que ergueste no final da rua e rodeaste de jardins de regressos.

"Que a tua casa seja nesse coração". Sublime Poeta! Tudo o que se possa escrever...estraga a magia deste poema.

Beijo de luar

LuísM Castanheira disse...

habitar o amor...
no poema que o poeta traça com ardor.
belo
abraço.