sábado, 30 de abril de 2011

NO LIMIAR DA VERDADE


Há tanta coisa que te posso dizer
O mar vai bramindo no encontro da fria lava
As gaivotas perderam-se no encontro da Terra
Encontrei hoje uma alma que inquieta estava

Hoje pintei a ardência da manhã
Fechei os ouvidos à palavra vã
Quebrei um ramo de loureiro verde
Mordi o veneno de uma maldita maçã

Fui Adão nu de preconceito
Paladino de uma luta sem tréguas
Demiurgo de uma história por contar
Barco sem leme em agitadas águas

Parei o relógio!
Parei o tempo que julguei ter parado
Ordenei aos pássaros que o canto parasse
Pedi a um anjo ter no voo cuidado

Uma deusa chorosa, chorava à beira-mar
Uma pedra sem mão percorreu o saltar
Uma giesta perdeu todas as flores
Um morrer ensaiou um falso matar

Fiz magia com todas as cores que tinha
Fiz aparecer na tela um tocador
Pintei-lhe um violoncelo a preceito
Mas ele não sabia tocar uma música de amor…

O amor nunca acontece sem amor
Esta coisa do amor será fantasia?
Será uma noite vestida de nostalgia?
Será planta envergonhada que floresce ao fim do dia?

Seja o que for, tem o nome de amor
Acho bem que seja assim
Há quem diga que se enraíza para sempre
E floresce como planta de alecrim

Não contei lá grande coisa neste louco poema
Vejam bem que nem falei da saudade
Mas disse algumas coisas sem nexo
Que estão…No limiar da verdade…

segunda-feira, 18 de abril de 2011

ALIANÇA


Ontem senti a ressurreição de um sorriso
Senti uma suave brisa a falar docemente
Construí um abrigo no deserto da emoção
Encontrei na areia duas gotas de agua dormente

Eram lágrimas soltas dos olhos de uma criatura pura
Por momentos fechou-se a alegria na Terra
Contei sete pedras no meio das ondas
E fechei os olhos, imaginei-te Anjo em suave espera

Os vales são as ruas de um deus
Mãos de seda percorreram o espaço
Soltaram-se as raízes do bem
Num único e sentido abraço

Como um caminho coberto de azul
A terra prendeu-me um sonho sonhado
No julgamento dos meus fracassos
Venci tempestades com este vento de braço dado

Embriaguei-me na minha solidão
Vi nos teus olhos a fragilidade da espuma
Subi com o olhar o voo dos pássaros
Perdi-me na procura da paixão no meio da bruma

A tua beleza mora no feliz pensamento
Palavras que irromperam aos ouvidos, tantas
Escolhi algumas numa oração e lancei-as ao mar
As ondas trouxeram-me verdades tamanhas

Um grito brotou da alma
Em surdina alcançou-me a alma
A dor verteu diamantes de sal
Plena és em doce chama

Já tinha proibido a fé de entrar em meu peito
Porque selaste a tua alma à ternura?
És o pio de ave na procura do ninho
Um ribeiro de sentires da água mais pura

Que distância pode alcançar a verdade?
Pelos dias das minhas noites de magia
Pela alma de duas criaturas vibra a luz
Que se perpetua para lá do dia

E no encontro do coração na sua manhã
Segui o curso de um errante espírito na esperança
Fechei os olhos e a alma às palavras
Neste silêncio firmei uma...Aliança...

quarta-feira, 6 de abril de 2011

O PALHAÇO


Olá mininos e mininas, pais...
Senhoras e Sinhores vai começar a função
Este é o palhaço poeta
Que faz tudo o que não quer o coração

Vejam! Faço magia!
Com esta caixinha de simples cartão
Não se iludam, nem pombas ou coelhos
Não há truque...perdão!?

E então?! Que emoção
Encontrei algo aqui neste bolso esquecido e roto
Espera aí o que é isto meus senhores?!
Ah...! É uma pedra mágica que pensei ter dado em mar revolto

E vou cantar uma adivinha
Vou desenhar uma ideia minha
Vou inventar uma musica em surdina
Vou dançar sem bailarina

Vou fazer três pinotes
E enganar a gravidade
Equilibrar um prato sem partir
Vou servir nele pão e saudade

Uma trompete, um trombone
Um serrote que chora as notas
Sapatos fora da medida
Encarnados e de solas rotas

Mas ainda nada fiz de palhaçada!?
Pare os protestos minha senhora!
Segure esta rosa encarnada na mão
Espere...espere, não se vá embora!

Foi-se embora...
As mulheres adoram virar as costas
Dizem que amam eternamente num dia
Até juram isso de mãos postas

Estava a brincar!
Credo ninguém ri, era uma piada cheia de gosto
Muito bem foram-se todos embora
Aqui ficarei firme até ao Sol-posto

E vou brincar com esta vida
Daquilo que fiz, vou fazer...ou faço
Pinto a cara para ninguém saber quem sou
Meu nome...O Palhaço...

sábado, 2 de abril de 2011

INSPIRAÇÃO


Rasguei o mar com estas mãos
É de pedra este sentido do sentir
Enjaulei as minhas asas em troncos de giesta

Para que o corpo não se entregue ao partir

Contemplei o espelho desta lagoa
Perdi-me no templo de esquecimento
Vacilei na ironia de um acaso
Recordei com mágoa um passado momento

Mordi a terra, senti a frescura de uma conteira
Aprisionei entre os dedos um rosário sem contas
O silêncio tem a cor de uma perdida lembrança
A tua vontade obedece ao vento e a ideias tontas

Ao meu silêncio chegou um riso
E mais um tímido toque de tambor
O meu dorido peito rejeitou
Uma ave de fogo gerado da paixão e do amor

Estou parado no embalo de mil vagas
Mergulhado na imensidão deste mar de contradições
Leme,velas, vontade navegante
Alma que levita nas mais puras sensações

Ainda é humano face às pedras da ilha o que sou
Este frio orvalho pacificou a minha loucura
Através da ressurreição de um sorriso
Fica à vista um lembrada formosura

As casas são pedras abrigando pedras
As pedras são o campo árido onde nasce a quimera
As pedras às vezes são cais de partida
São espera, são muro de lamentos que a vontade encerra

Escutei o pranto e o riso
Procurei o lugar onde começa o começo
Paguei com ouro esta viajem sem fim
E mais um poema que nunca pôs preço

Dormi entre a tempestade e as pedras da ilha
Dobrei a vontade em desalinho
Revela-se na tristeza e na palavra
Este pranto cereal esmagado pelo rodar de moinho

Libertei as asas, quero voar para fora desta gaiola de palavras
Encontrar no limite das almas a satisfação
Quedo-me no infinito caminho do sonho
E encontro esta tão minha...inspiração...