terça-feira, 27 de maio de 2014

CAMINHOS BRILHANTES



Quem são aqueles seres envoltos em maldade?
Tudo engole, a voracidade desta raiva
Inesgotável é esta força que me acalenta
Imensa é esta luz que me protege e sustenta

Serão as mulheres os únicos seres perfeitos...!?
Será este homem o mais desalinhado do planeta?
Serão certas mulheres apenas isso mesmo, mulheres?
Conheci algumas flores da treta

Quero pintar mares fora do alcance dos fantasmas
Colorir as mágoas de carmesim
Quero ter aos ombros em afago a Capa do Senhor
A mesma que à alguns dias me libertou da dor...

Quero tanto!
Passei a querer novamente que me quisesse o Mundo
Nunca gostarei do sabor do ódio
Nunca tocará o meu mais profundo

Tens os olhos cheios de certezas gastas
As mãos sujas das pedras de arremesso
A alma vazia da semente do perdão
Um pedaço de feia lava no lugar do coração

Não sei porque escrevi a quadra acima
É preciso sorrir para que cresça a vida
Perdida dentro de mim há apenas uma memória
Fechei a alma de pássaro ferido a uma triste história

Abri a janela do sonho de par em par
Amenizei a importância das feridas e sou um barco
Quero inventar uma mulher de sonho calma
Quero que ela veja o que guarda esta alma

Quero inventar um vento calmo
Este espírito alucinado diz-me que sou terra
Imperturbável apercebo-me que se esfumou a importância
E neste silêncio vindo de dentro, sou paz, amor sem espera

E não espera o poeta
Não abraçarei mais sentimentos inconstantes
E no rumor deste silêncio vindo de dentro
Descubro o rumo para...Caminhos Brilhantes...

sexta-feira, 23 de maio de 2014

COM AMOR SEM RAIVA



Nem um amigo, nem uma palavra verdadeira
Pousaram na minha mesa
Tive um sonho longo e vazio em que se desfez teu rosto
Sou uma bÓia num poço de silêncio

Inventei uma cidade
Uma mulher séria que me amasse
Inventei um ser verdadeiro, um presente
Nasceu das pedras uma serpente

Inventei o amor num coração vazio
Inventei uma deusa sem trindade
Inventei uma forma de dar calor ao gelo
Inventei asas para a saudade

Inventei-te...!
Desejei um desejo com sangue nos lábios
Há quem me largue socos quando apenas quero abraçar
Há que tenha inventado a parte mais negra do amar

Há quem respire com raiva
Tal como um Arauto que passa e morre
Sabes!? É no estio que o coração prende as palavras
É neste teu longo Inverno que se avizinha que eclodirão mágoas

Que se enganem os que pensam
Que este poema é para alguém
É apenas o vómito de uma estupidez
Que encontrei numa pessoa...outra vez

E que se enganem os que pensam
Que não estou alegre e feliz
A esses “Vão para a puta que os pariu”
Vou estrear mais uma peça, é o que faço, fiz

Não me desejem sorte
Também não esperava isso de vós
Sabem quando escrevi bêbado estava
Saiu uma comédia que tem...AMARGO AMOR SEM RAIVA...

domingo, 18 de maio de 2014

CINEMA PARAISO



É afinal na mais simples equação do amor
Que se encontra a razão de viver
É afinal na total ausência do sentir
Que faz sentido um horizonte, partir

Esta viagem ainda faz sentido...!
Esta minha demanda pela razão
Aí vês que os homens não têm importância
Então compreendes que és um pássaro, morres, ou não

Voas e o teu corpo é apenas, nada
Respiras a custo numa mão fechada
Nadas num mar de nadas, de boca calada
Choras e ris como alma penada

E ouves uma mulher vestida de vento
Uma criança perdida num momento
Uma desgraça desgraçada sem alento
Uma cabeça dura sem convencimento

E botas-te pela rocha abaixo
Só porque a mulher rachou o tacho
E afogas as mágoas em vinho forte e macho
Cais no esquecimento tonto e borracho

Muita merda!...muita merda!
E querem ver não vai haver peça
Pois o ator partiu uma perna, que pena, luz apagada
Queimem a plateia, que tragédia, que merda!

Senhoras e senhoras era para ser:
Uma tragédia Grega linda de morrer
Uma Madame séria, convicta toda a tremer
E...Oh...esqueci-me do que tinha para dizer

Que desgraça foi essa que me deu
Um comprimido para as dores de cabeça, destrambulhou-me
Já passaram por mim hoje mil idiotas de sorriso
E enlouqueci! Acho que estou no...Cinema Paraíso...

sexta-feira, 16 de maio de 2014

SORRI



No meio dos risos surgem os punhais
Este pássaro nunca se perdeu do saber
Nem sempre tive o aconchego de uma porta fechada
Meu Deus “Afasta de mim este cálice” não quero beber

Gostava de conversar contigo Mãe
Dizer-te tanta coisa que fiz
Gostava de sentir o teu sorridente orgulho
Este menino chora mais ao lado, continuo pobre petiz

Gostava que visses os sonhos que plantei
As palavras que escrevi com emoção
Gostava que dissesses a todas estas pessoas que me odeiam
Que tenho bom coração

Gostava que estivesse o Pai
Que vissem o que fiz com as cores do Mundo
Diz aí em cima ao Avô e à Avó
Que só por vos ter não sou assim tão só

Estou doente...
Este corpo às vezes falha, tenho dores
Sem fôlego uma criança morre
Sem amor o poeta é apenas um descrente pateta

Gostava de te dizer o que dizem de mim
Já fiz tanta coisa: Escrevi rezas, canções e peças
Estas mãos herdei de ti Maria, pois é
Esta bondade de ti José

Gostava que quem amo acreditasse em mim
Porque ainda amo, consigo amar
Queria tanto que o ódio sem sentido
Tivesse fim, pudesse acabar

Pois é Mãe, falo contigo todas as noites
Hoje decidi escrever emoções
Cometi erros, magoei pessoas também
Mas sou bom homem neste mundo de contradições

Caminhando está o começo de tudo
Aqui estou, caído, levantar-me-ei e se disserem que morri
Para alguns será dia de festa um alivio
Para ti que me amas, não chores...Sorri...

sábado, 10 de maio de 2014

ESTA NOITE



Trouxe na mão inquietos sentimentos
Não há amor que não possa sentir a chama das palavras
Entrando em mim ri-me do homem mais infeliz deste mundo
Estes versos denunciam este meu mais profundo


Para não pedir, não morrer, não fugir
E agradecido por louvar o teu amor
Aqui o eco das palavras é grito surdo desde então
Sinto uma sede desta ilha que me aperta o coração

Escondi as mãos por entre os sonhos
Queria devorar todos os beijos possíveis
Que me perdoem as feias pessoas sem rosto
És linda! Desde a aurora ao sol posto

Com voz triste digo às vezes a verdade mentindo
Tal como uma réstia de luz que rasga os olhos ao cego
Tal como o espaço provável da tua paixão
Cumpri na palavra o que sou, “Barco num mar de solidão”

Mas, não tenhais pena
Serei uma gaivota repentina, o esgotar dos lábios
Cada instante que cresce como devora as coisas
Este homem, pintor de verdes e lavas

Apetece a estas mãos teu corpo macio
Sem desgosto à hora do poente, teus sorridentes seios
Com inquietude e sem revolta dormir em ti
Sonhar que estou, existi

O meu desejo é o conhecimento da espera
A entrega dos sentidos a todas as memórias
Eu sou, eu, tudo o que sou e não serei para quem quer
O paladino da sétima página da tua história

Ainda só li até á sexta, ou vivi
As palavras chamam-me à realidade, partiste, foste
Ficou esta profunda e sentida saudade
Que me esmagou o peito...Esta Noite...

quarta-feira, 7 de maio de 2014

VENHO TER CONVOSCO


Hoje pacifico-me com todos vós
Hoje fechei à chave o orgulho
Aniquilei a presunção
Hoje abro o meu coração...

...Apenas porque me chamaste à razão...?!
Não, apenas porque decidi por fim, por um fim
Apenas porque te ouvi e não me quis ouvir apenas a mim
Apenas porque jamais ouvirei da minha alma não, vestirei o sim

O sim que faz de mim uma coisa ruim
Porque esta lava incandescente derramada neste peito
Faz de mim um ser diferente, nem sempre grande coisa
Na maior parte das vezes um ser sem jeito

Hoje e sempre guardarei a dor
Apagarei sem hesitar o rancor
Hoje rezarei para cumprir a vida
Hoje falou-me e ouvi, o amor

Amanhã falarei com quem não falo
Vou estender a mão à ofensa
Amanhã serei apenas um homem que olha de frente
Não quero pensar mais pelo que a gente pensa

Vou pintar aquilo que me ditarem os anjos
Escrever sonhos tamanhos
Vou dizer à vida todos os dias
Que se enganou, quem pensou que não sou o que sou

E vou dizer-te a ti sem palavras
Que não sou um inventor de sentimentos
Dizer-te que no perdão das minhas incorreções
Abraçar-te-ei em mil momentos

Hoje ouvi uma grande pessoa
E como são grandes certos corações
Hoje entendi definitivamente
Que amar deve ser isso mesmo “Amar” sem contradições

Sem duvidas, com honestidade para o bem e mal
Sei que escrevi estas palavras como um tosco
E porque ouvi uma pessoa sem me ouvir a mim
De alma nua...Venho Ter Convosco...

terça-feira, 6 de maio de 2014

PARECE MAIS UM MILAGRE




As pessoas detestam-nos quando somos diferentes
As pessoas odeiam a grandeza que Deus fez
As pessoas odeiam quem enobrece a vida
Algumas pessoas são apenas isso mesmo, pessoas, talvez

Percorri todos os caminhos da ilusão
Ganhei rumos, escrevi sonhos, reparti o pão
Segui em frente de cada tonta opinião
Fui tanta vez inocente da vil punição

Percorri uma rua mesclada de negro e fogo
Nesta carne já não há espaço para a seta trespassar
Caminhando está sempre o começo de tudo
Partirei sem glória, nunca esquecerei o chegar

Que bestas!
Deixem viver em paz este poeta judeu
Que só recolhe palavras amargas
Que é crente e sente e não guarda mágoas

Sabem?!
Nasci de uma Mulher de nome Maria
De um bom homem de nome José
São anjos que me guardam e me mantêm de pé

Logo, também tive Mãe...
Pouco, mas algum amor também
Parti só para a vida muito cedo
Senti-me perdido, senti tanto medo

Percorri o mundo em barcos e sonho
Fui no caos mais um, vulgar numero
Senti na pele o chicote e a dor no coração
Senti o roer do estômago na falta de pão

Mas que interessa o pão quando a fome é amor
Que interessa a dor se sabemos o rumo
Está cheio de lágrimas este corpo
Que sorri à vida no Sol a prumo

Que fala com deuses e anjos
Com golfinhos felizes e pássaros flamejantes
Que nunca ninguém entendeu ou amou
Que sou eu e ainda cá estou

E ainda há gente na minha Vila que me abraça
Por ter chorado ainda antes de nascer
O meu coração tem a cor do almagre
Ainda se diz de mim...Parece Um Milagre...

sexta-feira, 2 de maio de 2014

POR DENTRO, VIM NÚ


Venho ter convosco numa terra encantada
Trago as mãos vazias embrulhadas em nostalgia
Trago a lembrança de dias felizes
Trago um aroma de silêncio que em ti vivia

Em sete puras madrugadas em ti morria
Em sete marés em ti no amor crescia
Em sete dias a esperança prometia
Em sete duvidas de injustiça padecia

Sete...!
Falta um, tive apenas seis de Sol e vida
Sou um estranho por dentro de quem não me sabe
Sou apenas um timoneiro de um barco de nome saudade

Tenho as mãos vazias de carinho
A alma ausente do sorriso inebriante
Tenho esse ar altivo que esconde a dor
Tenho o coração amputado do amor

Tenho, tive uma Mãe...
Que num abraço apertado fez de mim artista
Tenho uma lágrima no canto de todas as lembranças
Cerro os olhos, quero sentir com a alma, sem vista

Tenho tudo, nada...
Tenho uma esperança renovada
Às vezes dou por mim como alma penada
Por quem ninguém chora, nem é amada

As minhas manhãs crescem
As minhas noites são azul índigo
As minhas maçãs são amargas de tão doces
Tal como às vezes alguém que se diz amigo

Um poema é o começo ou o fim de tudo?
Com esta agora fiquei cego, surdo, mudo, e tu?
Não passas tal como eu de um infeliz que chora e sorri
Porque ao aqui chegar...Por Dentro, Vim Nú...

terça-feira, 29 de abril de 2014

ÀS VEZES PINTO O AMOR, TANTA VERDADE



Das estrelas que contemplei molhadas
Por rios e orvalhos diferentes
Escolhi apenas a que amava
E desde então durmo com a noite

Da onda, de uma onda e outra onda
Verde mar, verde frio, verde ramo,
Escolhi apenas uma onda;
A onda indivisível do teu corpo

PINTEI ESTA TELA, NÃO É MINHA...

domingo, 27 de abril de 2014

SETE CARAS


Há um abismo em direção da descrença
Não há nenhum barco pronto para partir
No escuro a verdade é coisa demorada
Sem perdão não existe coisa amada

No meio de risos senti todos os punhais
Fui demiurgo de uma comédias de sarcasmo
Semeadas certas pessoas não nascem de novo
Ferido o amor uma boca não deve calar o “AMO”

Há uma manhã de espadas luzindo nos trincos da memória
Não tem rosto o amor num corpo sem voz
Sei que amanhã vai ser amanhã
Sei que dizer-te amo nunca será palavra vã

Transborda este cálice parado em meu coração
As minha flores matinais são escritos do presente
Caminhando na tua ausência está o começo de tudo
Há um pássaro da madrugada que acordou mudo

Há este herói que desconhece o fim da batalha
Entrando em si ri-se a mulher mais infeliz
Caminhado na ausência há o começo de tudo
A preto e branco foste a heroína de um filme mudo

Esta ilha que há em mim
Despedaçada no fim do crepúsculo
Esta lava derramada em meu peito
Faz de mim um poeta sem formosura ou jeito

Acho que cerraste os olhos numa manhã infinita
Cristaliza o balanço do teu pensamento
A palavra recolheu-se em ti amarga
Tudo isso e mais a fome da loucura em vil momento

E estou tão agradecido e louvo o amor
Aprisionei numa caixinha todas as palavras amargas
Rasguei os imagens todas de quem me despreza
Apaguei da alma as aves de...Sete Caras...

sexta-feira, 25 de abril de 2014

VIAGEM ASSOMBROSA




Tenho a garganta rouca de silêncio
Neste abandono cinzento de pessoas
Tenho a alma amputada de crenças
Comigo dentro de mim florescem coisas boas

Nesta ilha as flores são eternas
O verde é lava mansa
Nesta ilha a espera é de um poema ou barco
Nesta ilha abandonei a cor da esperança

Os nomes não têm cor
As almas de mulher também
Os nomes dos sentimentos são mentiras
Há sempre um mentiroso que diz ser alguém

Uma gota de vinho num cálice
Uma navalha cortando um coração
Um rosto virado para o lado da estupidez
Uma palavra de amor perdida no chão

Nascem rugas nas montanhas mais altas
A morte de uma luta, uma flor já murcha
Um papagaio de papel desbotado
Uma criança triste de rosto tapado

Uma janela virada a nascente
Olhos imensos, ausência de horizonte
Uma imensa crença de sonhador
Um barco de papel, navegante

Eu, navegante de silêncios e sonhos
Eu com sangue dos lábios nos dedos
Eu que muita gente quis fazer perder
Eu que nunca ficarei na baia de todos os medos

Eu...
Que não alimento raivas e tenho uma crença formosa
Soltarei o pano das velas deste barco
Nesta...Viagem Assombrosa...

segunda-feira, 21 de abril de 2014

AS DUAS FACES DO AMOR



Escrever um poema é como matar a dor
É ver dormir anjos transparentes
É sonhar com novos horizontes azuis
É encher algumas almas de presentes

Nem um amigo nem uma voz pousaram
Na minha mesa há pão de esperança
Lembro flores de Maio num altar imaculado
Entre tantos olhos e sorrisos onde está a confiança?

Foste uma ilha aparecida de um desconhecido mar
Já virei as costas a gente de navalha na mão
Já pintei no silencio das igrejas negros anjos
Já comi pão sem fome, já ignorei a paixão

Estas pálpebras fechadas deixam escapar rios
É na descrença que o coração corta a palavra
Neste fogo consumidor dos dias vazios
Deste peito dorido jorra lava

Pintemos uma ilha juntos fora dos fantasmas
Como menino que chora sem saber da dor
Como tudo o que se move por sentir a paixão das palavras
Como Arlequim perdido do seu amor

Esta noite respingou um suspiro feliz
Vou deitar fora tudo isto e mais a fome da loucura
E pelos versos que me denunciam
Vou escrevendo de alma pura

São enormes os olhos da raiva
Se soubesses a sede que sinto quando a ilha me aperta o coração
Como gaivota repentina que levando consigo o sofrimento
Como crente que reza e pede ao amor um momento

O espaço provável do encontro é infinito
O instante da verdade violando o pensamento
Este esgotar nos lábios a poesia de um desejado beijo
Este chamar de realidades se ter ensejo

Esta inesgotável fé de ser e sentir
Transmutação de sonho em flor
Este poema é um caso de loucura grave
Ou...As Duas faces do Amor...

sábado, 19 de abril de 2014

UM LUGAR NOS OLHOS




Saí pela porta de uma fria madrugada
Era o tempo de todas as incertezas
Era o tempo que me fugiu à memória
Era o tempo em que os poetas morriam sem glória

Entrei por uma janela de casa marítima
Nessa época já te adivinhava, pressentia
E tive que atravessar toda a noite
Percorri guerras e tréguas e gente que sem querer viver, morria

As árvores permanecem fiéis
Ouvi uma vez o grito do silêncio
Fiquei acordado na mais antiga noite da vida
Fiquei sem fala ao ver-te passar em passada contida

Aprisionei um sorriso antes das oito
Fiquei preso às pedras da calçada
As antigas casas morrem devagar
Em mim nunca morre o amor pela pessoa amada

Percorro uma longe e demorada estrada
Levo em mim o silêncio sobre o sofrimento
No amanhã de muitos anos de uma vida vertiginosa
Guardei uma palavra, apenas uma, para um momento

No lugar do inesperadamente onde nada espero
Bebi rumores de plantas de estranhas cores
Lancei pedras sobre uma onda imperturbável
Sobre o chão dos meus passos há apenas desamores

Repeti o mesmo afago numa pedra polida
Pediram-me para falar da saudade, disse que não sabia
Perguntaram-me se sabia pintar a cor do mar
Perguntaram-me se o meu amor é de uma vida, se conhecia o amar

Venho a esta terra plantar alegria
Venho pintar todas a verdades aos molhos
E de repente o que mais quero
É ter-te...Num lugar nos Olhos...

segunda-feira, 14 de abril de 2014

É NOITE E SINTO




A canção que hoje me apetece cantar, és tu
O poema que te escrevo é Sol
Nossos corpos crispados são punhais sem sentido
Estou cansado deste inverno doído

Sou comandante da minha alma
Dono do meu destino
Houve uma altura que desejei não te ter conhecido
Os meus dias de ti parecem tão distantes, noutro caminho

Naufraguei nesta parte da tua vida
O mosteiro que encerra esta alma vai desmoronar-se
Estou tão zangado comigo
A única traição foi minha Mãe ter partido sem aviso

A felicidade tem que ser paga?
A verdade tem que ser provada com a morte?
A única traição, no amar, é paixão
É não saber, enlouquecer, perder o norte

“O melhor de mim é a parte mais simples”
Escreverei sobre nós um dia
Há que viva encurralado no amor de ninguém
Há quem seja ilha, nostalgia

As sombras que me passam no silêncio do pensamento
Este poema vai crescendo sozinho
Como a angustia da espera morta
O infinito não tem janelas nem porta

Uma revoada de pássaros despertou-me
Uma brisa da tarde aconchegou-me
Uma lembrança de ti acompanhou-me
O sorriso de um sonho de ti lembrou-me

Tudo isto porque já não tenho sal nos olhos
Quem luta com moinhos de vento e tem um longo caminho
Quem promete aos deuses algo e ergue este cálice de absinto
É apenas um lunático como eu e porque...É noite e Sinto...

sexta-feira, 11 de abril de 2014

MENINA DE CARACÓIS


Quantos são os anos de um destino crispado?
Quantas são as folhas secas numa garganta sedenta?
Quantos são os gritos da revolta na longitude da distância?
Porque não crês em vês de vestires essa desconfiança?

“Uma Mulher imensa dentro de um homem nunca se apaga”
Há mulheres, os monumentos, os pássaros, uma pedra
Já dizia o me Amigo Emanuel Félix, “um homem pode amar uma pedra”
Um homem quando ama, constrói um muro, semeia e medra...

“Há uma Mulher em mim como Sol em dia sem fim”
Não há tempo no rumo para a eternidade
Quero construir um silêncio ou um palácio
Quero tatuar-te na alma uma só verdade

“Escrevo esta verdade com insistência”
Porque não há palavra que valha o terror da solidão
E no cerne impercetível da tua terna vontade
Apenas resiste uma infame e mentirosa assombração

Atravessei hoje a ilha pelos olhos de uma criança
Dispersos incêndios que a loucura ateou
Vi uma Mãe linda sentado com dois meninos
Pensei em dor e amor, quem nunca amou?

Acenei-te com um lenço de água
Ser ilha foi sempre a minha vida
Trago sementes de amor nos olhos e só estou quando amo
Direi baixinho “gosto, tanto, quanto te amo”

Levarás esta ilha sempre escondida no silêncio da voz
Vejo a memória entristecendo teus olhos
A ilha tem nome de Anjo, tu chamas-te apenas mulher...
E nele cresce o rumor do Mar, Menina do mar, sem querer

Senta-te neste banco de vida
Penteia as tuas mais incontidas paixões
Quando te lembrares de mim no rumor de um entardecer
Entre o fogo e o abraço inapagável irás ver, querer

Não me demoro, vivo nasço a cada instante
Paro no tempo na procura de sete Sóis
Encontrei uma Mãe de olhar triste
Lembrei-me de uma...Menina de Caracóis...

terça-feira, 8 de abril de 2014

A NOITE DOS MEUS DIAS


São milhões de risos de escárnio
Despedaçando o peito da esperança
São folhas secas espalhadas na boca
É uma tempestade sem ter bonança

Por aqui nesta íngreme enseada de palavras
Alcanço o ardor da injusta e infligida dor
Por aqui um sino tocará cansado no tremor da tarde
Alcanço estas fundações de luz e reverbera o amor...

Foi a nove de abril às três de uma fria manhã
Que uma voz nasceu nestas águas
Um poeta pateta, pintor de saudades, necromante...?!
Cheguei aqui com a sede nos dedos e mil e uma mágoas

Onde estás...?!
Onde estou, estaremos...
Agarrados ao cicio a à aura dos segredos
Lembro-te das sextas, nas manhãs, confiemos...?!

Já lavei a alma das mais íntimas feridas
Hoje procurei o vento e a estação da luz
Na força de um ritual repeti teu nome sete vezes
Há uma árvore de frutos mordidos, uma fé que seduz

Um torpor e a respiração da terra
Um cheiro de solidão, um olhar no horizonte
Em que ilha descubro teus olhos
Onde te posso plantar ternura aos molhos?

Se falasse de ti
Diria teu nome em poema cheio de margaridas
Se dissesse teu nome e queria...
Diria que no encontro há uma gaivota que em mim sorria

E porque também nasci num dia qualquer
Peço-te pois que acredites se em Deus confias
No alto desta noite de chuva fina
Relembro...A Noite dos meus Dias...

sexta-feira, 4 de abril de 2014

JE SUIS MALADE


Um poeta disfarçado pelos espelhos
No esquecimento do Mar brincando
Na era, do nosso murmúrio, surdo das árvores
Contamos luzes atormentadas, amando...

Estou fatigado...
Na obscuridade de um gemido de mãos cansadas
Enquanto o vento as violenta com desejo surdo de ti
Sentado na pedra molhada, contei luzes atormentadas, morri

Minha alma estará sempre aberta ao raiar da aurora
Éramos, somos, seremos a consciência do amanhecer
E riamos desalmadamente na madrugada extensa
Acreditando na misteriosofia do morrer sem viver

E num vazio tão profundo como a caricia serena
Que nos separa do abraço, da solidão
Já não sei se ouvi palavras ou passos súbitos
Ou terá sido teu terno coração...?

Não recordarei personagens longínquas e cruéis
Como pássaro de silêncio as riscarei do peito
Há entre ti e mim um pacto na penumbra
Há entre mim e Deus uma promessa de espera

Disfarçado de inquietude surgiu o desgosto a poente
Estes olhos manietaram-se junto à sombra, revolta
Não consigo rebentar com os corredores esquecidos da memória
Há coisas tão importantes neste poema, tanta história

Estou cansado...!
De construir um ruído mudo de silêncio
Por maldições meu corpo será, pão, fogo, fome ou mar
Ou serei a parte errada da palavra amar...!?

Sou poeta porque descobri a razão inexplicável de estar aqui
E aqui cheguei num barco de nome saudade
Prostrado no desejo da pedra e conhecimento da espera
De tanta dor...Je suis Malade...

sábado, 29 de março de 2014

TEM O PODER DA ÁGUA A PALAVRA



És uma flor apertada no desamor
Uma menina que amei sem preconceito
Vivemos no sonho um ninho de maçãs maduras
Tinhas no olhar a ternura e uma branca paixão no peito

Um arauto falou-me de infortúnio
Procurei-te numa fúria molhada pelas marés
É no estio que o coração corta as palavras
Olhei-te do alto de um altaneiro convés

Olhos de branca Garça...
Nas madrugadas perdi-me no canal
Erigimos um lugar para a lembrança
Na espera, negociei com os deuses um final

Rasguei a propositada brancura do papel
No intrínseco verde dos pastos inesgotáveis
Fiz um tapete de frescas hortências para te amar
Fiz mil orações para te encontrar

Pintemos depressa montanhas fora do alcance dos fantasmas
Aprisionemos as águas que separam nossos corpos
Assim como vamos ao encontro do passado
Abraça-me, é assim que construo as casas, com cuidado

Houve tanta noite nos meus dias
Houve tanta madrugada de luz fria
Houve tanta saudade, nostalgia
E uma lembrança que em mim sorria

Haverá sempre a chegada das marés
Dor, alegria, mágoa, frágua
E um porto de alegre espera
Onde...Tem o Poder da Água a Palavra...

quinta-feira, 27 de março de 2014

NO MEU PALCO



Nesta plateia verás os vestígios dos últimos sonhos
Duas lágrimas que secaram na madrugada
Quando as luzes se calarem na ausência da cena
Tu sentirás pena por já não seres Dama amada

Sou um Ator anónimo no caos do Mundo
Com uma alegria breve no olhar
O teu rosto perdeu-se na desordem das marés
Vi uma ave perdida, o amor a passar

Mas sintam as pancadas de Molière
Corram a cortina vai começar a peça de uma vida
Numa sarça ardente escreveste a palavra traição
Atiraste ao palco toda a tua contradição

Uma bailarina vestiu-se de Columbina
Atiraste ao fogo este triste Arlequim
Do lume de ti, nunca se aparta o amor
Entre as ruÍnas do crepúsculo, será afastado o fim

Em círculos de solidão afinou um violino
As abambolinas escondem um nome
Húmidos são teus olhos da memória
Há por escrever uma fantástica história

Estou no proscénio onde ardem as sombras
Procuro os prodígios de um jardim de ventos
Que flor faz nascer a verdade do teu crer?
Que recato da tua alma guarda os felizes momentos?

Este pano de cena que teima não fechar
Vez agora a nudez da tuas incertas convicções
E na translúcida serenidade de uma casa
Irão abraçar-se dois perdidos corações

Que vestido abandonaste na cadeira?
Que palavras ficaram por dizer
Hoje senti-me perdido ao olhar para um retrato
E quedei-me em silêncio...No meu Palco

domingo, 23 de março de 2014

FORASTEIRO DO VENTO



Levarei sempre a minha Musa no silêncio
Trago sementes do teu sorriso
Tenho partes de ti em mim como uma profecia
Hoje encenei a paixão de cristo ao fim do dia

Hoje pedi aos Romeiros uma ave-maria
Ordenei que o incenso fosse derramado no fogo
Por mim passaram almas famintas
E pedi a Deus que um desejo de mãos postas

Entre mim e ti há um tinir de ferros em brasa
Este verbo que canta evoca oiro mais raro
Estão em botão as rosas que regaste
Não eclodirão as sementes que plantaste...

...Sem a justa verdade do amor!
Podias ser apenas uma pintura difusa
Um olhar perdido em sala de espelhos
Ou um gesto terno de levantar a água dos teus cabelos

No meu peito repousam barcos de muitas cores
O silêncio sobre o sofrimento
Tal como uma moradia que morre devagar
Sem acreditar, não há tempo nem momento

Com amor e raiva se constrói obra parva
Os tumultos e a dor estão contigo
O que te sugere o teu espírito alucinado
Sobre os brandais respira um sonho antigo

Morre a Musa, viva a Musa!
O escriba não desfalece no caminho
Um poeta nunca morre
Só se afasta um bocadinho

Não mais subirei as colinas da cidade desatenta
Serei pois o primeiro habitante da tristeza vencida
Não beberei mais o mar
Só não consigo esquecer o amar

Emocionado percorri uma parte da ilha
Hoje esqueci na paz da vida o tormento
Hoje pacifiquei-me com deus e ateus
Fui no Mundo mais um...Forasteiro do Vento...

sexta-feira, 21 de março de 2014

A MINHA MUSA



É Março no traço áspero de silêncio
Esta dor imutável, revolta na chegada das marés
É o dia dos poetas, as palavras hoje são poesia
As minhas têm a cor da melancolia

Sabem qual é o primeiro nome duma mulher?
Apenas mulher...
Ela tem o sol dos frutos e o céu no coração
É Mãe, Marias, compreensão, uma lágrima, paixão

Nele cresce o rumor das hortências
Derramadas em cântaros pelo céu
Respirando um tempo imortal
Entre o fogo e o abraço inapagável, fatal

Sabem qual é o nome do amor?
Apenas amor...
Eu chamar-lhe-ia Mulher
Falem-me pois de uma mulher, quem quiser...

No êxodo do sentir escrevo
E descalço-me em frente das tuas ultimas palavras
Ressoam as memórias, o perfume dos dias felizes
Escrevo para que oiças um piano, esqueças a mágoas

Hoje sentei-me numa cadeira do Mar
Ouvi passos minúsculos aproximando-se de mim
Era um golfinho de chapéu de coco
Que me disse “vive, engana o fim”

Deram-me uma coroa de folhas já mortas
Nos primeiros degraus da vida
Nunca envelheci nos espelhos
Cheguei cedo, tarde, nesta infinita demanda

Nasci na ilha onde se confundem as estações
Do canto dos deuses na madrugada
Nasci mil vezes e em basalto me esculpi
Talvez seja apenas uma refulgente sombra

Talvez um anjo de pedra sem nome
Uma alma que de tanta dor ficou confusa
Não! Apenas um Poeta pateta
Que neste dia perdeu a...Sua Musa...

quarta-feira, 19 de março de 2014

GARÇA PERDIDA



Ouvi uma voz longínqua no vento
Senti o aroma do amor passar perto de mim
Senti sementes de um olhar inquieto
Tão longe, tão perto

Foi uma árida manhã, um dia sem Sol
Atravessei um areal de esperança
Meu barco leva o nome de mulher
Amo e sempre amarei, querendo quem não quer

Absorto na transparência da solidão
Há um lugar nos teus olhos onde habito
Há um recanto sem pranto na tua alma inquieta
E um destino que terá rumo certo

Todas as errâncias e afastamentos são loucura
Há um ribeiro de águas puras de ternura
Há joias de sentimentalidade estendidas no caminho
Há um relógio que marca um chamamento baixinho

Há um segredo e as vertentes de uma paixão
Ondas de beleza no afago, fascinação
O ar libertou hoje o odor de sonhos passados
Não há longe nem distância para um coração

Venho da dor no regresso de uma saudade
Venho lembrar que há apenas uma real verdade
Liberto meu grito nas fundações da luz
E peço paz e um milagre de amor a uma santidade

Esperei por algumas palavras
Atravessei isolados terraços da incompreensão
Plantei ventos, colhi desenganos
Pintei a prima obra com as cores da paixão

Tudo isso para falar de uma singela emoção
De uma vontade que ficou em ti contida
Cerrei os olhos e iluminou-se minha alma
E vi no me céu uma...Garça Perdida...

sexta-feira, 14 de março de 2014

JUDAS DE NEGRO CABELO


Nas paredes mal caiadas de uma alma
As manchas de mãos em desenhos bizarros
Vomitei num vazio indescritível
Corre uma cobarde serpente de atitude invisível

Hoje acordei para uma realidade fétida
Obrigado...não tens de quê seu tanso
Há sempre uma noite se aproximando
Há sempre um caminho que terei caminhando

No palácio carbonizado de uma comédia de enganos
Vive prisioneira uma donzela já gasta
Uma boca afogada em palavras amargas
Voa um poeta que rima...já basta!

Um mar embravecido, trás dias sem manhãs
Uma falsa gaivota largou penas ao coração
Uma mulher que estupidifica a paixão
Terá cem anos de solidão

Cem anos de bruma nos olhos
Venham devagar ver, ouvir o poeta
No suor do sonho, ouço vozes num cântico azul
Garça, gaivota, pássaro voando a sul

E quero-vos contar...
Como as serpentes sorriem no enganar
Quero-vos contar, como alguns seres desprezíveis
Moram onde o Mar despeja a sua ira no chegar

Sei de duas...
Que riram em maldosas gargalhadas, de mim
Sei do vomito sem cor nem corpo
Quando a tarde se desprender de mão assustada, no fim

Também sei que mora em minha casa a cor
Que em minhas orações construo um branco novelo
Até rezo por quem me feriu quase de morte
Pelos...JUDAS DE CABELO NEGRO...

domingo, 9 de março de 2014

MENINA DOS LAGOS


Senta-te neste banco de nuvens
Observei nos olhos de uma pessoa o Mundo
Fatigado um Milhafre pousou nos ombros da minha ausência
Ouvi o teu Mar com os meus dedos no meu mais profundo

Tu, magnólia em busca do rumor da terra
Fragor de púrpura, instante de amor
Vi-te sorrir nas estações do crepúsculo
Em Fevereiro uma rosa é breve flor

Gaivota pousada ente o basalto e o azul
Que ilha descubro na tua verdade?
Este barco de vela branda nos mares do sul
Que nunca deixou morrer a saudade

Se falassem as tuas mãos
Diria que eram o afago de um Anjo
Se falassem as tuas raivas sem sentido
Diria que era o amor sem vontade de estar escondido

Hoje sonhei com um campo de margaridas e gaivotas
A minha rosa entre Primaveras...
Fechei os olhos absorto na transparência da música
E perguntei ao alto que por amor quem eras

Apontei com o olhar as falésia de uma lagoa
Este pescador de cores, fouçando incompreensões
Apaguei da minha tela os trovadores das sombras
Apaguei todas as frias e más sensações

A minha aura não esconde segredos
Lavarei do meu peito o intimo de certas feridas
E sobre as pétalas murchas do silêncio
Desenharei todas as estações perdidas

Hoje acordei com as palavras a sorrir
Com uma brisa em doces afagos
Imaginei uma lagoa de mil cores
Onde mora uma...Menina dos Lagos...

sexta-feira, 7 de março de 2014

O MENSAGEIRO


Nenhuma das minhas flechas deixou o arco
Há uma cidade onde os relógios se movem desconcertados
Há uma Lua anunciadora de bonanças
Há um Sol só meu que aquece este homem de sete Mundos

Meu Sol...
Eu não te adivinhava nem pressentira
O relógio da Igreja deu duas badaladas atrasadas
Era um sorriso bonito que chegava antes das oito, sem ira

As árvores permanecem
Suavíssimos os pombos saudaram esta alma
Este respirar de novo, o dia dos pássaros, o perfume da terra
O entardecer que pinta este céu de intensa chama

Hoje ou em qualquer outra parte
Dançarei um tango eterno
No lugar onde inesperadamente se soltam os teu negros cabelos
Há uma nuvem que ameaça transformar-se em aguaceiro

Mas há Sol, sobre o chão dos meus passos
Longe, imóvel, imperturbável e sério
Permita-me ouvir as ondas, o som mais breve
A perfeita respiração de um deus em seu império

Sei de uma história breve
Uma rapariga fugiu num cavalo espantado
Sei de uma chegada anunciada pelos anjos
Sei de um barco brilhante repousando num rio profundo

Se olhares a almofada, verás vestígios de sonhos
A brancura da minha bondade na madrugada
Diz-me dos teus olhos, onde se esconde alegria
Diz-me onde mora o amor, a pessoa amada

Diz-me onde se esconde a saudade
Fala-me da lembrança do beijo primeiro
Escreve as notas de uma felicidade interrompida
Procura no Sol...O Mensageiro...

terça-feira, 4 de março de 2014

A ILUSIONISTA


Dentro de um corpo passeia um aspecto negro
Meteram-se os punhos na garganta
Ouvi uma floresta de tontas palavras, um punhal
E uma obsessiva razão de incerta descoberta

Gente da treta!!!!
Conheci duas mulheres de salgada saliva
Nunca lhes vi luz no inicio dos gestos
Apenas o silvo da serpente e gestos de falsa altiva

Isto é tudo conversa, uma asneira
Uma ficção sem jeito ou maneira
Como é carnaval, uma palhaçada
Pode ser mentira a poesia ou brincadeira

Adiante!
Cerro os olhos com ramelas sorrindo
Não quero ver mais infelizes seres
Nem uma boca falsa parindo

Vou beber vinho para não vomitar fogo
Evitar ruas cinzentas de mulheres transparentes
Não voltarei acordar gente sem nome na vida fria
O meu amor não será mais o que minha alma confia

Esmagado pelo suor parti dentes podres de palavras
Eu rio-me e lembro-me que afinal estou só
Contaram-me uma história de mijar a rir
Não há verdade nem a merda de certa gente pode parir

No meu verde pensamento enterraram um punhal
Porque há gente fodida muito ofendida e coisa e tal
Há quem julgue que as prendas doces só vêm no natal
E a estupidez pode medrar e coisa e tal

E acabemos com este vomitado poema
Já me chamaram, mentiroso, violento e até alquimista
Parei hoje para ver o cartaz de um circo rasca
Com a fotografia de uma...Ilusionista...

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

TEMPLO INVISÍVEL


Rezei na aflição e necessidade
É ilimitado o poder de amar
O amor é indivisível e imóvel
Que estação do teu coração devo achar?

O pensamento é ave no espaço
Ás vezes o engano de que não pode ver
Não falarei porque estou em paz
Creio em mim, este ser sabe crer

O silêncio da solidão revela aos próprios olhos
O seu eu em perfeita nudez
No orvalho das pequenas coisas encontrei uma manhã
Nesta árvore são vulgares os frutos, no chão brilha ouro, uma maçã

Tenho em mim mesmo toda a verdade
Gostaria de pedir ao tempo o infinito e o incomensurável
Quando esquecemos a cor do vinho, já nem sabemos do copo
Quando se ergue a vontade subimos a montanha ao topo

Contudo o intemporal que há em ti tem consciência
Sabes que o hoje é só a memória do dia de ontem
Gostaria de fazer do tempo um regato
Onde lançaria a pureza que a minha verdade contém

Não há dor, mas uma rede atirada
Não há uma única busca pela revelação
Onde para o melhor de vós mesmos?
Para onde se ausentou um coração?

E quando estiver silencioso um coração
E quando os meus pássaros emudecerem
Que uma voz fale aos ouvidos, dos meus ouvidos
E que o amanhã não seja apenas a memória do ontem

E contudo a tua alma guardará a verdade de um coração
E aquilo que em vós pulsa mora ainda no limite
Sem medir o tempo e as estações
Serei errante poeta sem contradições

E mesmo nas escuras cavernas alimentar-me-ei
De uma crença radiosa e notável
Foi este poema escrito na mais terna calmaria
Por esta alma moradora de um...Templo Invisível...

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

AVIÃO DE PAPEL


Tenho os braços nus de armas
Se viesses por aqui seguindo qualquer caminho
A qualquer hora, qualquer estação
Mora na mesma alma o amor, um destino

Estes meus dedos amputados pelo silêncio
Esta voz surda brotando dentro de nós
Este vento rasteiro cobrindo as palavras de frio
Este homem que te lava os olhos num cristalino rio

Este meu passado diluído na razão do presente
Estes poemas que foram crescendo sozinhos
Sorri sem necessidade, compreendi que é preciso sorrir
Compreendi que no esconder não houve o mentir

Sorri...!
Não tarda irão florir as buganvílias brancas
Os pássaros do meu quintal continuam fiéis
Não me abandonaram, desenhei-os em sete papéis

Com amor e doce raiva guardo estes soluços
Com divina paixão aguardo uma nova de um coração
Com a vontade dos deuses pintei-te de tinta inalterável
Guarda, poeta, vigia, vigilante, lavrador de um amor

Acariciando o teu rosto colorido de doçura
Permite-me que este poema seja o começo de tudo
Darei os braços à luz do dia
Neguei três vezes, minha alma, confia

E vou rasgar a minha garganta rouca
É feitiço o verde desta ilha
E tu feita de águas mansas e flores eternas
Diadema de hortências de azul maravilha

Qual criança que do amar só sabe amar simplesmente
Que transforma a vida no amargo doce do mel
Hoje escrevi a verdade de todas as minha razões
E atirei ao alto a folha em...Avião de Papel

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

GENTE GENTIA


Para se falar de um homem não há um único nome
Para se falar de um grande homem não um ser insignificante
A este homem têm servido o sabor salgado
A este humilde homem não chega julgar um instante


As pedras desta ilha não têm idade
Estou sentado na pedra onde dormem os séculos
Apetece rebentar na cabeça o silêncio
Agrilhoar o querer quebrar os sonhos

Há uma noite que se aproxima hesitante
Uma rua mesclada de vermelho fogo
Um coração menstruado a verter dor
Uma alma que regressará em flor

Sem fôlego uma criança morre
Sem sol as maçãs serão sempre amargas
Sem crença não há verdade que valha
Sem amor apenas existe um palheiro sem palha

Nesta carne ferida não há florestas novas
No interior carbonizado deste poema
Ninguém descobrirá duas reais verdades
Ninguém aqui aplicará um teorema

A bala dura das palavras
Não quero encontrar mais no alcance
Não quero ser amor a visitar lareira apagada
Eram grandes os olhos de raiva sem razão, nada


Aqui a terra fecha-se de Mar
Fecho-me cada vez mais ao destino
Sonhei com um instante de água fresca
Sonhei com um sincero caminho...

...Onde quero lembrar o espaço provável do verde tempo
O acaso clamando por um novo dia
A explicação das coisas a razão do amor
Uma vida que corre, um querer que não morre, confia


Deixai-me criar epitáfios
Em maldição meu corpo é uma árvore
Gero tantos frutos de sonho e cor
Nem gente, nem a puta da vida sabem o sabor

Nem tu...!
Sol que não adormece na noite
Hortênsia que em rumor me falas
Magia que me embriagas e suave perfume exalas


Sou, serei brinquedo rodando as mãos insanas
Uma voz calada, vibrante ou terna fala que alguém sentia
Serei apenas o que o meu destino ordenar
Não aquilo que quiser...Gente Gentia...

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

NAUFRAGUEI


A estupidez deste homem é total
Talvez seja mesmo o que de mim dizem
Agora já é tão grande o coro
Não sei se quero isto ou morro

Morri mil vezes, outras tantas perdi
Perco sempre pedaços de alma nesta caminhada
Mereço grilhetas, cadafalso, uma forca
Não passo de uma insignificante alma penada

Que raio de coisa sou?
Um génio, ou um marginal da vida?
Um bondoso homem que só é mau para si
Uma charada mal contada, uma dor contida


Espero que ninguém leia esta merda
Diria que é mais lixo, gerado por um lixo
Ler será uma total perda de tempo
Como já ninguém lê o Profeta, logo não existo

Ainda bem assim vomito à vontade
Aqui tenho na asneira a liberdade
Aqui não entra a saudade
Aqui sou lixo jogado numa cidade

Vou escrevinhar umas quantas peças
Umas de rir outras de chorar
Acabar dois parvos livros
Vou esquecer-me do que foi o verdadeiro amar

Ninguém ama!!!!
É mentira, uma tontaria
Fui demiurgo desta inconcepta peça
Ninguém morre, aqui o tonto nem é já mais valia


Olá senhoras deste mundo
Divas desta vida e arredores
Esta minha ilha de silêncio
Esta ilha que há em mim...em mim...


Perdoem-me pois, o pecador já pecou tudo
Perdoem-me, sou um anjo mau, um necromante
Perdoem-me que não sei o que faço
E esqueçam da minha vida o restante
Desculpem qualquer coisinha
Apliquem à vontade sobre este corpo a lei
Estou caído, mas levantar-me-ei
Perdi penas, parte da minha alma...Naufraguei...

domingo, 8 de dezembro de 2013

IM0RTAL



É bom que se saiba
Não tenho um nó na garganta
Tenho o sabor da verdade no corpo todo
Tenho na mão as cores todas do Mundo

É bom que se saiba
Que há quem envergonhe as minhas canções
Quem me apontou punhais
Quem se afogou em contradições

Deitei-me dentro de mim
Sem vontade de recuperar o tempo, impossível
Tenho o silêncio preso ao céu-da-boca
Não se pode vomitar a palavra no vazio indiscritível

Às vezes invento coisas no meu coração amedrontado
Então o meu espirito alucinado cala-me
O meu corpo é terra que vejo passar por baixo do céu
É semente coberta por rasgado véu

Não precisam os desesperados
De subir as colinas rubras da paixão
À minha volta a luz nunca é suficiente
Tenho uma caixinha onde guardo a derradeira ilusão

Esta alma persistente de alegria
Como sorrio às vezes quando conto as aves felizes
Quando aceno ao desprender dos anjos magníficos
Ao soltar dos sonhos de despretensiosos petizes


É tão difícil percorrer estes dias insulares
Nunca temi repartir a mesa, o sabor do pão
Esta água girando sempre à volta da ilha
Vagas medonhas, nevoeiro, solidão

Nestas negras pedras dormem os séculos
O interior destas casas cheira a cal
A saudade das mãos cansadas do segurar meus filhos
Esta alma que não dorme nunca…Imortal…

domingo, 1 de dezembro de 2013

O CHAPELEIRO LOUCO DE ALICE


Caem gotas do celeste, choram os deuses
Apetece-me subir por aí em ondas de sussurros
Não voam anjos quando chove na ilha
Debaixo do pó de arroz nem sempre a maravilha

Tenho o sonho de uma cagarra por um voo feliz
Há uma liberdade contada estampada no meu rosto
Decidi faltar ao encontro dos desencantados
Fosse porque fosse vivi o amar até ao sol-posto

Onde se mede a beleza de um poema?
Ainda me arde à alma certas palavras
Na voraz caminhada por incertos dias
Apenas quero esquecer as mágoas

Perguntem aos mestres a razão
Porque têm tectos as casas?
Porque nos aquece a promessa do amor?
Porque perdi para esta vida as minhas asas?

Louco poeta…
Membro honorário do clube dos poetas mortos
Caído nas garras do vento
Rei da prima palavra por um momento

Fazedor de magias esquecidas
Não discuto porque Deus me fez assim
Podia ser apenas o despertar de uma sombra cativa
Sou apenas água de beleza altiva

E vejo os pássaros trajados de mil cores
Um milhafre zangado de cartola
Uma gaivota sem vontade de voltar ao mar
Um mendigo que nega esmola…

…Que toca um tambor com vigor
Que faz coisas belas e uma ou outra tolice
Abri hoje uma caixinha de música
E saiu de dentro o…Chapeleiro Louco de Alice…

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

BRISA DA MEMÓRIA


Recordações são como grãos de poeira
Algumas, soterrados no fosso da criação
Às vezes é preciso sorrir para mostrar que estamos vivos
Com amor e miolo de branco pão se aquece um coração

Tudo começa num poema
Há deuses que não usam diadema
Tudo acaba quando a boca fica calada
Há palavras de louvor, outras de pena

Uma ilha tem um princípio
Uma cidade mais de mil casas
Um coração sete ou mais janelas
Uma gaivota às vezes recolhe as asas

No alto de uma colina senti a terra respirar
Uma mulher virgem será sempre de um homem só
Um beijo pode ser gesto tolo, banal
Um idiota pode ser uma anedota e coisa e tal

Já vivi numa floresta de palavras tristes
Pelo fio da uma navalha atravessei agruras
Na pele deslizante de uma rapariga madura
O amor escorrega, perde-se, não dura

Este poema ferve como cal viva
Grande troinas é este poeta, não é!?
A canção que hoje me apetece cantar é outra bem melhor
Já chega de lembranças maduras, de dor

Hoje apeteceu-me largar um papagaio de papel de seda
Vieram a mim a cor de longos dias
Hoje vi uma nuvem igual a uma Lua
Hoje naveguei num mar de alma nua

Hoje a loucura tomou a palavra de assalto
Disse tanto e não contei qualquer história
Hoje ao cerrar os olhos por um momento
Passou-me de mansinho a…Brisa da Memória…

sábado, 9 de novembro de 2013

PARA QUE SEJA UM POEMA


Ninguém repara mas vejo sempre o teu sorriso
Podia ser eu apenas uma palavra doce
Podia eu ser mais uma pedra da ilha
Podia eu ser alguém ou algo que fosse

Nunca discuti se Deus fez o Mar
Nunca perdi o rumo deste navegar
Nunca parti sem ter o chegar
Mas sei quando acreditar na palavra amar

Sei de muitos punhos cerrados
Os meus espaços são tão transparentes
Às vezes corto o mar, rasgo as pedras
Às vezes transformo em cor a mera quimera

Mas, falemos de suspiros dos pássaros
De uma gaiola vazia de emoções
Falemos de uma dor que se perdeu no amor
Não quero sentir o desespero das contradições

Deixem-me ficar com o mar apreciando a noite
Desafiar uma baleia a cantar para mim
Deixem-me domar um golfinho azul
Deixem-me acreditar neste princípio de um triste fim

Deixem-me…!
Rezar falando com as pessoas que amei
Deixem-se ser grande com alma de petiz
“DEIXEM-ME APENAS SER FELIZ”

Tem a força do vento este alento
Não terei mais notícias de saudades ausentes
Construi sonhos no lugar de casas
Derramei tristeza, enchi a alma de presentes

Hoje decidi que as coisas vão rebelar-se
Escrevi metáforas sem qualquer tema
Abro este livro de vida de alvas folhas
Aceno à vida…Para Que Seja Um Poema…

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

O SILÊNCIO DAS CASAS


Ouvi alguém partir de mim
Ouvi um pássaro aflito, ouvi um grito
Ouvi no silêncio um rumor de melancolia
Ouvi a saudade uma vez, numa casa vazia

Nem tudo o que faço pode estar certo ou errado
Apenas faço…
Renunciei à esperança, calei a voz da penumbra
Vi nascer um tugúrio e um fogo que devorava o espaço

Um céu menstruado de ausentes pássaros
Esta poesia desaparece pelos espaços de fechada janela sem querer
Numa brisa sussurrante, rasteira
Gostava de ser a consciência do amanhecer

Baloicei meu corpo no infinito
Desprezando cada hora, desafiando o impossível
O espaço provável do amor
É campo de guerra da guerreira dor

A poesia é como beijo infinito
Pensei ser infinita a caminhada de minha Mãe
Hoje olhei um cruzeiro, gravado, Maria
Orei, chorei, nesta faminta solidão, vazia

Montei um choro no guião de uma peça
Neste vale sem casas nem campos, sei dizer amor
Vim de mãos vazias pelo silêncio dos olhos
Entre as cicatrizes de terra estéril, sem flor

Há bocas atafulhadas de sorrisos
Olhos sem nada para dizer
Há canções que não apetece cantar
Há cartas de amor escritas por quem não sabe amar

Uma rosa, no peito suave de uma dama
Um papagaio falador sem cor nem asas
Neste dia de lembrar pessoas que me amaram
Fiquei preso no….Silêncio das Casas…

domingo, 27 de outubro de 2013

A DAMA DE OUTONO


É Outono e tem, gosto a maresia este vento
Nesta ilha grandes nuvens fazem acabar o Sol
Partem gaivotas rente às ondas do mar
Alguém canta trovas de amor, alguém aprisiona o chorar

Vamos ver se hoje não me embriago de palavras
Sou um pescador nocturno de nostalgias
Há um grande silêncio na minha rebentação
Há um insondável mistério neste coração

Chegou-me o potente cheiro de dias e do tempo
O cheiro a algas, em cabelo de mulher inventada
O nome de mulher tatuado em barco varado
Uma atracção pelas ruas calcetadas, um breve fado

A sempiterna expressão da estátua do Arcanjo
Neste tempo de começar uma caminhada
Descobri um Sol reflectido nas vidraças
Descobri que querer tudo, às vezes é não ter nada

Descobri uma Lua de espada afiada
Uma alma sorridente desencontrada
Descobri à porta de uma madrugada
Que não passo de uma alma ensombrada

Sinto no triste espaço de uma estação que se foi
E todavia meu coração ainda consegue afastar o frio
Há pessoas sentadas num entroncamento eternamente
É eterna a passagem das águas num rio

Há sempre o centro de um palco circular
Há sempre um tempo para marcar o caminhar
Há uma densa nuvem de gaivotas numa praia
Há um sortilégio que me alimenta o sonhar

E há as fachadas impressionantes da virtude
As moradias que morrem devagar, o sonhar no sono
E um barco a repousar na areia dos tempos
Com o nome…A Dama de Outono…

domingo, 20 de outubro de 2013

CIDADE SITIADA


Lembrarás que as manhãs
Acordam a luz fugidia
Lembrarás que este insignificante ser
É apenas contradição, nostalgia

Tenho dores, tantas…
Minha alma silenciosa solta um lamento
Só, eu a desperto, esta navalha de dois gumes
Sou casa a sangrar por dentro

Esta casa arde com as sombras
De costas vergadas interrompo a magia
O meu sonho é sempre maior que a palavra
Regresso à inocência no romper de novo dia

Este é um poema que não quero seja lido
Esta porcaria é respirar sofrido
Minhas mãos beberam hoje este Outono medonho
Alvoraçadas aves, palavras sem sentido

Vou descalço pelo rumo da alma que sou
Sou como ilha escondida no silêncio em torpor
O primeiro nome de mulher é senhora qualquer coisa
E nele cresce às vezes inquietante e surdo rumor

O fogo de abraço único
O ribombar de um trovão pela manhã
A fúria deste vento norte que me gelou o querer
Não quero ver, não quero sentir esta dor, não quero ser!

Estou aqui de passagem, já disse
Esta viagem não correu em águas brandas
Pintei o mundo, amor e desamor
Adormeci e acordei em dores tamanhas

Quero morrer na repetição de uma onda
Quero, quis tanto, tão pouco, nada
Não leiam este chorrilho de loucas palavras
Deste poeta em…Cidade Sitiada…

sábado, 12 de outubro de 2013

SOLIDÃO



Caminho há muito por prantos e desvario
Pergunto por este adormecido Inverno
Dancei, fui caminhante de mil estações
Fui odiado por maldosos corações

Hoje senti-me acompanhado de mim
Só, sou apenas o que chamam de tolo poeta
Nunca se aparta este lume de mim
Porque raio não chega esta trampa de vida ao fim?!

Este é o meu círculo de fogo e loucura
Cresci contente nesta melancolia
Cresci com medo de não poder ser
Sou crescido e descrente do crer

Não colhi frutos desta infância amachucada
Onde param os lamentos das andorinhas do Mar
Onde pára o chamamento que ouvia no chamar
Onde pára a estrela do meu navegar?

Despenharam-se meus sonhos em temerosa agonia
Nunca achei a breve incandescência da verdadeira verdade
Escarpas, medonhas tempestades, fulgor de um Sol antigo
Já nem me lembro do nome do meu último amigo

Deixaram-me no cabelo uma coroa de lata
Coroaram-me “O último dos homens sem preste”
Acenei com um lenço de água que gerou a minha mágoa
Acenei sem mão, sem intenção
Acenei para ninguém, perdi-me no nada

Uma vida tombada jaz sem sombra
Por mim passou um bando de gaivotas famintas
Este tempo ressoa
Um manto ardente esconde o rosto desta pessoa

Enobrece este coração com as criptomérias
Esta água de mágoa reverdeceu, na virgindade de uma oração
Neste território de ressonâncias não voltam as minhas crenças
Neste jardim me quedo preso á…Solidão…

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

TOQUEI UM INSTANTE


Quando conhecer a tua alma
Pintarei os teus olhos
Quando ouvir o som da tua voz
Pintarei um pássaro, flores aos molhos

Nesta madrugada um piano nos meus sonhos
Acordou este poeta pintor
As cores da água fizeram-me arregaçar o querer
Perguntei a mim mesmo o que é a distância do amor

Como náufrago procurei um raio de luz da madrugada
Uma réstia de dor lembrou-me quem sou
A cintilação da espuma é apenas o riso do sal
Numa distância infinita deixei morar o mal

Casa, uma paleta de confusas cores
Pedra, água, mãe de água
Já foram levados pelas chuvas os ninhos de verão
Já foi lavada, levada no vento parte da minha mágoa

São cinco da manhã
Louco poeta pintor perdido do sono
São tão estranhos os tempos
Que vida, mil vidas, roda alucinante, caminho longo

Uma voz…
Tanta emoção tem este arroxado peito
Serei uma estrela afugentada dum claro céu?
Ou uma simples criatura com orgulho e preconceito?

Estão nublados estes olhos
Está de pé ainda este Templo de negro basalto
São tão urgentes os gestos de minhas mãos
Ardem na manhã uma revoada de melros atirados ao alto

Deposito uma toalha de mesa no chão
Vi cair um justo num grito lancinante
Vi a cor no aroma de rosa breve
Acordei tão cedo no…Tocar de Um Instante…

domingo, 6 de outubro de 2013

O JARDIM DOS SETE VENTOS


A Ilha acordou cinzenta
Envolta em manto de finas gotas de água
Sonhei com um Mundo onde floresce a verdade
Sonhei que tinha afugentado a mágoa

Ninguém saberá que uma Ilha começa na nostalgia
Onde se cruzam Milhafres de séria estampa
Nesta ilha lavarei os pés em degraus de negro basalto
Nesta vida já subi tanto, tão alto

Existo na ausência do meu nome
Sou um poema sem rima, sem história
Uma ave do mar que busca poiso em terra
Uma bandeira branca no centro de uma triste guerra

Os deuses não cantam na madrugada
As estátuas ficam para além de todas as memórias
Soltam-se sementes de água dos meus olhos apenas quando amo
Tenho no meu caminho mais quedas do que glórias

São brancos estes muros das casas do norte
É tão inocente a idade de plantar sonhos
Sou um pescador de ventos, cheio de fé
Um aprendiz de feiticeiro, um necromante até

Não sei se alguém espera para além das minhas palavras
Tão quietas as minhas memórias ouvem o Mar
Uma melodia de silêncios faz parar o mundo
Soletro o nome dos que se ausentaram de mim
Orvalhada vida, repleto profundo

Imperturbável é esta minha fé
Esta minha crença no querer de certos gestos
Entre fragores de cor purpura
Mergulho em mim, afugento amargura

Senti vontade de correr no rumor do Mar
CaDa gota de sal me faz sentir mil alentos
Hoje abri os trincos da memória
Neste…Jardim dos Sete Ventos…

domingo, 29 de setembro de 2013

A MUSA DE FOGO


Quedo-me sobre os escombros da vida
Este Teatro destruído por vil mão
Tropecei em dispersos desenganos
Amordacei a luz, encobri a paixão

As palavras, as minhas…
Podem destruir o homem, a palavra não
Podem amordaçar o poeta
Nunca o seu coração

Este Domingo de Setembro nasceu vazio da claridade
Ainda sinto o rumor do crepúsculo desvanecer
Tacteando a sombra de uma buganvília
Cerro os olhos para não ver, não crer

Oiço passos minúsculos, aproximando-se da minha memória
Assalta-me a lembrança, solta-se uma memória
Um anátema…
Mil histórias, uma singela história

Esqueci os primeiros degraus da vida
Pensei como se envelhece nos espelhos
Deram-me no tempo uma coroa de folhas já mortas
Fecharam-me amizade no bater de sete portas

Memórias…
O verbo que canta às vezes evoca o amor
Às vezes a dor…
Há palavras que ardem mudas
Há espinhos na beleza de uma flor sem cor

Entre mim e as palavras há o tinir de punhais
Enternece-me a visão dos frutos de Outono
No êxodo deste instante escrevo
Olhar sem rumo, sem sentir não vejo

Ao olhar os ocultos fascínios de Mar
Pintei um nome de Deusa num barco
Pintei dois anjos de água negros
Pintei uma …Musa de Fogo…

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

A BARCA DOS MIL SONHOS


As mãos prendem um perfume
Conheço tanta história com final feliz
Conheço mil caminhos
Paguei, de joelhos, tantas promessas

Meus Deus…!
Faltou-me a luz, arroxou-me a alma a saudade
Dormi, morri, tenho saudades de me encontrar com a morte
Tenho-me perdido do destino, do norte

Sou como um luar de volta incompleta
Um lamento dos deuses na madrugada
E entre as ruínas deste pardo crepúsculo
Sentei-me num chão frio, abandonei a chegada

De assalto meu corpo foi ficou preso ao nada
A gaivota da minha memória perdida numa tempestade
Os voos do meu olhar já não alcançam a ilha
Não me falem mais, não quero! Que morra a saudade!…a saudade

Este lume do sentir nunca me aparta
A febre lenta deste viver mata-me as palavras
Toda a gente chegou tarde ao dar-me a mão
Folhas latejantes, quentes, agrilhoada paixão

Estou fatigado deste voo
Estou vazio do querer acreditar
Adormeço com a desistência dos milhafres
Será que no amanhã ainda me amarão

Onde dormem os milhafres?
Para onde vão os sonhos vãs?
Onde poisam as gaivotas durante a tempestade?
Para que serve sentir o ódio a gerar saudade?

Há uma cadeira na espera do meu cansaço nocturno
Há um rumor no crepúsculo a esvanecer dos seres bizonhos
Há a brandura da minha alma envolta em duas lágrimas
E há um mar arável para esta…Barca dos Mil Sonhos…

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

O PAGADOR DE PROMESSAS


Este novelo de fio negro
Este xaile de uma vista só e negra
Este barco de negreiros, esta aventura
Esta arroxada alma acreditar na ternura

Esta chuva de verão, esta sedenta terra
Numa casa do sul vi vultos do Mar
Pintei sombras, luz, uma infinita claridade
Pintei ventos dolentes, pintei a saudade

Uma exaltação solta nas frinchas de uma espera
Absorvi a transparência da música
Invadem-me a lembrança mil primaveras
Afasto do pensamento repetidas quimeras

Os meus olhos já não colhem ódios
Já não adormeço nas madrugadas da melancolia
Já não me lembro da idade de um homem amar uma mulher
Sinto ainda o odor do orvalho num fruto qualquer

A esmagadora pureza das maçãs
Frutos mordidos por uma Lua prazenteira
O cheiro a Sol e sal vindo de entre as pedras
A respiração da Terra, absolvição derradeira

O caminhante, caminheiro…
Cavaleiro andante, quixotesco semblante
Uma espada de papel, escudo de lata
Um cavalinho de barro a que chamei rocinante

Uma porta antiga aberta de par em par
Acordei no silêncio os trincos da memória
Às vezes fico assim calado ouvindo os dias
Às vezes penso nas cores de uma contada história

Às vezes…
Penso que “Meu Deus” em mim professas
Às vezes louco escriba, pintor de lamentos
Ou talvez, pobre…Pagador de Promessas…

domingo, 25 de agosto de 2013

OLHOS DE NEGRO OLHAR



Latejantes folhas, quente terra, fresca água
Esta ilha respira no doce remanso da eterna maré
Aqui os deuses acordam na madrugada
Uma estátua acolhe os lamentos vindos do nada

Segui a viagem do pensamento
Sou a sombra de uma roseira brava
Entres ruinas a mais pálida luz
Vi um pássaro que no canto trinava o amava

Cresci nesta dormente melancolia
Ausentei-me do meu nome vezes sem conta
Adormeci no dia para enganar a noite
Abracei o inimigo em terrível afronta

Nesta ilha do meu canto
As casas são feitas de água e vento
Nesta ilha aprisionada pela bruma
Serei apenas sal solto na espuma

Nesta ilha ouço os passos chorosos da água
O alvoroço dos pombos no dia do divino
E já vejo talhado o ardente rosto de Setembro
E vi coisas tantas que já nem lembro

Regresso todos os dias de uma saudade
Senti na alma a sombra de Chopin a passear numa ribeira
Lavarei a alma de íntimas e dolorosas feridas
Não quero morar no vale das almas perdidas

Tangida de melancolia correu mais uma noite
Inebriei-me na força de um ritual
Era apenas uma simples oração que não sabia de core
Era mais ou menos, “perdoai-me Senhor, coisa e tal…”

Sinto ainda em, mim a inocência de plantar o vento
Sinto que nunca esquecerei o significado da palavra amar
Nesta ilha as pedras nunca serão brancas
São como…Olhos de Negro Olhar…

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

LANCELOTE


Sentei-me numa cadeira perto do Mar
De gravata comecei uma bravata
Olhos de pálido mel
Minha alma sabendo a fel

Parei a vida
Parei o tempo, malditos tambores
Parei o coração e morri baixinho
Amaldiçoei esta terra dos amores

Desbotei esta máscara de palhaço
Arranquei à unha as linhas de meio sorriso
És tão estupido poeta
És um falhado, uma perversa peta

Bem, isto começou mal
Vamos lá recompor a pena
Pintemos as mais belas metáforas
Este é o tempo das negras amoras

Negro coração, este meu calhau sem cor
Já me chamaram génio, bom rapaz, mau actor
Já me chamaram rei da dor
E há quem contenha na boca a palavra estupor

Larará..la…lará
Eu bem tento domar esta louca caneta
Mas hoje fugiu-me a força, a razão
Ardeu-me a alma, fugiu-me o chão

Esta porta cerrada
Esta ave do mar profundo
Este homem que sente às vezes
Não pertencer a este mundo

Muito bem, não liguem, não leiam este poema
Foi traição da caneta, nem consegui dar o mote
Hoje a sombra engoliu toda a luz
Vi a minha sombra, qual triste…Lancelote…

sexta-feira, 26 de julho de 2013

ORGULHO E PRECONCEITO


Os deuses choraram o dia
Uma voz nasceu nestas águas
Senti o canto de pássaros imaginários
Chego aqui com tanta sede, tantas mágoas

Fui hoje um trovador das sombras
Senti um anjo verter lágrimas azuis
Senti o engrandecimento de um fiar de angústias
Senti velas, mastros, estais

Esta chuva que resvala no silêncio
Retornei aos meus silêncios onde não existe dor
Não ouvi o tremor do sino esta tarde
Esta chama que não esmorece, que teima, que arde

Crepitam risos na distância da verdade
Lavarei os pés neste frio barro de pobreza
Não espero palavras nem voz de amor
Não pintarei sem cor, não desenharei tristeza

Sete pássaros cruzaram o milheiral fugindo à morte
Imaginei um jardim de encantamento e ventos
Subi uma montanha azul inventada pela loucura
E dei por mim a imaginar palavras em boca pura

Grande maluco que és...!
Bela cabeça para criar tolice e cabelo
Às vezes penso que sou amado neste inverno de desamor
Outras, um perdido fio de emaranhado novelo

Não faz mal meu rapaz
Cá se faz, cá se dorme para esquecer
Sobre o meu muro hoje agitaram-se pombas brancas
Pensei em ti, julguei ver

Sobre as pedras o dia apenas deixou a voz de uma menina
Disse tanta palavra com a verdade vinda do peito
Quede-me tombado com este tristonho dia
Esqueci o meu…Orgulho e Preconceito…

quarta-feira, 17 de julho de 2013

O TEMPO DA ETERNIDADE


O amor é infinitamente mais resistente que o ódio
Encontrei Deus vestido de pássaro
Encontrei a vida vestida de sol intenso
E disse a um Anjo o que quero e penso

Gloriosa caminhada subindo ao infinito
Preparei as mãos para a ternura
Darei sempre a melhor água desta nascente
Serei a pedra ou água pura…?!

Sentei-me no mar
Fechei os olhos para uma sereia saudar
Fiz uma vénia a um golfinho saltador
E descortinei na espuma a palavra dor…

…Ou era amor…?
Que importa se me fecharam a porta
Enjaularam este coração
Que soltou breve uma esperança quase morta

Espadas cintilantes cortam o ar
Uma Mãe sem pensar molda o aconchegar
A maresia é suave véu, caminhada fria
Este verão do meu contentamento não pode parar

Marcharei à volta desta fogueira
Rasgarei palavras já gastas, canções esquecidas
Este tear tem fino linho unindo mil fios
Os meus sonhos lançados à terra escorrem para os rios

Afastei uma ramagem de nostalgia
Ardência dos corpos presos ao querer
A vida contada em horas de vertiginosa calmaria
Uma madrugada que abraça um novo dia

Não serei mais nas escarpas um lenhador furtivo
Não serei mais um filho da eterna saudade
Não serei mais um poeta vestido de dor
Deixarei apenas envolver-me…O tempo da Eternidade…

sexta-feira, 12 de julho de 2013

BALADA DA CIDADE TRISTE


Descalço-me frente às tuas vontades
Não tenho céu nem estrela como minha
Sou pedinte que nada pede
Arvore que ao vento cede

Um velho estende a mão ao acaso
A rua adormece vazia
Um metro silho tomba contra a noite do mundo
Um assobiador solta trinados de nostalgia

A quentura dos dias retida na calçada
Um corpo atirado aos sonhos do nada
Um ladrão a cantar o roubo a um coração
Uma pomba tombada por uma pedrada

…E murmura esta alma inquieta
Escrevo para que oiças o que os teus olhos sabem
Este espelho envelheceu na espera do ver
Este sentimento que sente e é semente do ser

Escrevo para que se rompam fráguas e amarras
Se solte o grito silencioso e humilde do amor
Esta criança temerosa já não espera sorte e sentimento
Já não acredita que possa haver um feliz momento

Uma tela…
Um quadro banal torto na parede
Olhos de alegria breve
Este herói sem capa a tremer de medo

Mas medo de quê?!
Quando tens só para ti o escárnio da solidão
Mas medo para quê?
Se já nem voas de tão preso ao chão

Acreditem ao não…
Sei escrever música sem notas saber de pena em riste
Deu-ME hoje para compor uma maluqueira qualquer
Saiu isto, uma…Balada da Cidade Triste…

sábado, 6 de julho de 2013

UM NOME DE MULHER


Evoco aqui o silêncio dos desejos
A sombra fria dos teus passos
A frieza das manhãs de Inverno do teu olhar
A loucura sem sentido a passar

Ardência das minha saudades
A tangencia da melancolia atirada ao mar
Janelas fechadas da madrugada
Com pétalas murchas de silêncio no chegar

Os sons de uma guitarra têm a cor do Mundo
O choro de uma criança o incomensurável da dor
Esta distância crescente de agonia
Este lume morto de fim de dia

Das pedras a voz solta de fecunda mulher
Uma figueira sonhando parir flores
Vi animais tristes passando num rumo incerto
Vi o amor e dor dormirem tão perto

E vi um idiota armado em esperto
Uma mulher sem rosto dizer mal da puta da vida
A terra desventrada sedenta de chuva
E um poeta asneirar por ter bebido sumo de uva

E vi uma Mãe de gestos felizes
Um Pai sem paciência para os petizes
Vi fome te ternura e mentira num olhar
E tenho tentado saber como me fizeram aqui chegar

Sei lá se vejo ou invento o ver
Já inventei o amor ter
Já amei se calhar mesmo sem saber
Já muita vez uma lágrima tive que conter

Já remexi nos bolsos de um espantalho
Procurei uma moeda da felicidade qualquer
Encontrei três pedras
Uma delas tinha gravado…O nome de Mulher…